Para secretária da CUT, superação demanda autonomia econômica das vítimas
Escrito por: Érica Aragão - CUT
“Eu dependo do meu marido para sustentar meus filhos, por isso não denuncio quando ele me bate”, foi a justificativa da empregada doméstica Rosangela Aparecida quando questionada sobre a violência doméstica que sofre em casa.
Violência contra mulher foi o segundo crime mais atendido Ministério Público (MP) em 2015, segundo estudo do “Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)” divulgado no mês passado. Mais de 300 mil inquéritos policiais envolvendo violência doméstica contra mulher foram movimentadas pelo MP.
Já um estudo divulgado em março deste ano pelo IPEA (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), aponta que mais de 1 milhão de mulheres foram vítimas de violência doméstica no Brasil em 2009 e 43% das brasileiras já alegaram ter sido vítimas de algum tipo de violência durante a vida, seja ela verbal ou física.
A Secretária de Mulheres Trabalhadoras da Central Única dos trabalhadores (CUT), Rosane Silva, destaca a importância do acesso ao trabalho decente, sem violência física, moral e sexual como forma das mulheres poderem construir sua autonomia e amor próprio. “A construção da autonomia econômica das mulheres está relacionada com o estímulo à qualificação de mulheres e ampliação de empregos com carteira assinada, especialmente no trabalho doméstico. Temos que cobrar do Estado políticas de valorização do salário mínimo, creches e acesso à moradia, assim como o compromisso de prevenção e combate à violência sexista para que as mulheres conquistem sua liberdade e lutar por mais igualdade”, afirma Rosane.
Outra pesquisa, de 2011, “Percepções sobre a violência doméstica contra a mulher no Brasil”, organizada pelo Instituo Avon/IPSOS, revelou que os principais fatores que mantêm a mulher numa relação de violência: 25% das mulheres alegaram falta de condições econômicas para viver sem o companheiro e 20% declararam preocupação com a criação dos filhos, o que também tem a ver com a falta de condições econômicas.
Os números apresentados por diversas pesquisas são baseados nas denúncias feitas pelas mulheres que tiveram coragem de denunciar e das mulheres que sabem o que são estas violências.
Os dados não abordam outras dimensões, como violência estrutural como discriminação salarial, tráfico de mulheres, prostituição, a insegurança das mulheres em um sentido amplo, passando pelo bem-estar, liberdade, plenitude de direitos, até a possibilidade de ter um projeto próprio de vida, as mulheres, na grande maioria, nem sabem que estas ações são também consideradas violências contra as mulheres.
Para a secretária, a violência não pode ser camuflada. “É importante visibilizá-la para afirmar que ela existe que é preciso combatê-la e para ter dimensão de sua extensão”, destaca ela.
Especialistas avaliam que a aplicação adequada da Lei Maria da Penha exige uma série de equipamentos que propiciem um atendimento integral às mulheres vítimas de violência, além de trabalhar com aspectos preventivos e educativos em relação a violência.
Para Rosane a violência deve ser enfrentada pelo conjunto da sociedade, como um problema político, social e coletivo e não mais particular individual. “O combate à violência contra as mulheres requer uma ampla articulação entre as mais diferentes esferas da vida social, ou seja, é preciso que os movimentos sociais estejam em unidade por uma forte mobilização por transformações gerais na sociedade, incluindo o componente feminista nesse projeto”, finaliza ela.
A dirigente destaca que o desafio é construir uma correlação de forças na sociedade para a implementação de um modelo de sociedade centrado na valorização da vida humana e do trabalho e ambientalmente sustentável, no qual não haja lugar para as opressões e violências.
Conheça aqui o Disque 180, serviço para combater a violência contra as mulheres