Crédito: Roberto Parizotti - CUT
A CUT e demais centrais sindicais terão uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (8), às 17h, em Brasília. O anúncio foi feito na última sexta (5) pelo presidente da CUT, Vagner Freitas, durante o encerramento do 1º módulo do curso inaugural de preparação de conselheiros cutistas do macrossetor indústria.
O encontro será o primeiro após as eleições e, conforme destacou Vagner, servirá para apontar prioridades da agenda trabalhista. Na pauta estão pontos como a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais sem redução de salário, o fim do fator previdenciário e a aprovação no Congresso Nacional da convenção 151 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que trata da negociação no setor público.
"É o mesmo governo, mas há um olhar de outro mandato e esperamos construir novos debates. Provavelmente, não teremos um processo de aprofundamento sobre os temas, mas iremos definir quais as prioridades para, já na próxima semana, começarmos a discutir com os ministros. O importante é que façamos uma negociação que se conclua, não fique em aberto eternamente. A credibilidade de um processo negocial é quando você estabelece metas", cobrou.
CUT rebate Delfim Netto
O dirigente rebateu ainda as afirmações do economista Antônio Delfim Netto que a CUT apoia uma proposta em que a negociação salarial prevaleceria sobre a legislação do trabalho.
"Não concordamos com o negociado sobre o legislado, porque não há igualdade de condições entre patrão e trabalhador para fazer a negociação. Não há direito à negociação coletiva e nem à sindicalização no Brasil e, no setor privado, quando um trabalhador se sindicaliza, muitas empresas ainda mandam embora. E no setor público, que não tem direito à negociação garantido, o que eu faço? No dia em que tivermos condições iguais de representar o trabalhador com liberdade e autonomia sindical, com a organização no local de trabalho garantida, aí sim podemos tratar disso. Hoje, a manutenção dos direitos garantidos por lei aos trabalhadores é importantíssima e a CUT defende isso", falou.
Ao falar para os conselheiros da Central que atuam no macrossetor indústria, Vagner lembrou que nenhum país cresceu de maneira sustentável sem apoiar a indústria.
"Boa parte dos países do mundo, especialmente os EUA, quando deixou de investir no crescimento e revitalização indústria, caiu. Não existe crescimento sustentável que possa substituir a produção pelo virtual, que venha a partir da especulação e do rentismo. Só tem crescimento efetivo de qualidade com indústria chefe como carro-chefe da economia."
Para que essa visão do movimento sindical norteie as ações do governo, o presidente da CUT apontou que os secretários devem estar preparados para intervir em espaços como os conselhos.
"A CUT não quer só discutir salário, queremos também emprego e a política industrial. E isso não se faz apenas indo à fábrica para dar lucro para o patrão, mas também discutindo como será a fábrica.
Trabalhador no governo
O dirigente voltou a citar o Ministério do Trabalho ao afirmar que a pasta não deve ser usada para fazer briga sindical, enquanto deveria ter papel estratégico no governo.
Presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, acrescentou que a contribuição da classe trabalhadora no segundo mandato de Dilma não deve ficar restrita a um espaço ligado diretamente ao mundo do trabalho.
"A gente cobra muito do Ministério do Trabalho, mas não é só ele que devemos discutir. Tem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) também, porque se indústria não for bem, os serviços também não irão, são todos os setores interligados. País desenvolvido tem política industrial de ponta e vamos cobrar isso. Não queremos assistir, queremos ser parte do processo", defendeu.
Reunião com Monteiro
A depender das demandas que os trabalhadores do curso apresentaram, a cobrança sobre o MDIC deve começar com um pedido de audiência ao novo ministro indicado por Dilma, o ex-senador Armando Monteiro.
Para os conselheiros cutistas que avaliaram os gargalos do setor, as prioridades são o desenvolvimento tecnológico por meio de centros de pesquisa e ampliação do conteúdo nacional incorporado a mecanismos de rastreamento junto à indústria para que não burle regras com peças importadas.
Ações que dependem da qualificação e unificação do trabalho dos conselheiros, como apontaram os dirigentes sindicais.
Técnicos do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Rafael Serrao e Adriana Marcolino resgataram os debates do primeiro dia do curso e lembraram que uma política industrial estruturada depende da política econômica, além de um debate profundo sobre condições dignas de trabalho.
"Durante a ditadura a indústria cresceu, mas a qualidade e as condições de emprego não melhoraram. Não podemos tratar das outras questões e deixar isso de lado", alertou.
Fonte: Luiz Carvalho - CUT