(Campo Grande - MS) - Estudioso das grandes transformações no ramo financeiro ocorridas desde os anos 1980, Miguel Pereira, secretário de Organização da Contraf-CUT, vem se dedicando a mostrar ao movimento sindical como as novas tecnologias e o avanço das telecomunicações afetam gravemente o trabalho dos bancários e comerciário e os serviços oferecidos à população.
“A introdução de novas tecnologias não é pensada em proveito da sociedade e do trabalhador. Só vem para reduzir custos, diminuir postos de trabalho e aumentar a rentabilidade. Desta forma, verificamos que as instituições financeiras não cumprem papel social. A intermediação financeira nunca foi usada em benefício da sociedade”, avalia o dirigente.
A tecnologia sempre teve um papel preponderante, mas propicia reorganização do sistema de trabalho, com divisão e criação de novas etapas, favorecendo as terceirizações dessas etapas e serviços. Novos segmentos de trabalhadores surgem assim desprotegidos de direitos específicos, em relações de trabalho precarizadas, sem representação sindical e com novos problemas para usuários de serviços.
Ele fez exposição detalhada sobre o tema na manhã deste domingo (6), último dia do 9º Congresso da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro Norte (Confetec-CUT/CN), em Campo Grande (MS).
Exclusão financeira
A introdução de novas tecnologias e a disseminação dos correspondentes bancários são justificadas pelo empresariado por uma suposta “inclusão financeira” que elas propiciariam. Por trás dessa ótica, na verdade, o objetivo é reduzir custos de transação financeira; estimular a expansão dos canais de acesso, e fomentar a diversificação da oferta de serviços financeiros, por meio do desenvolvimento de redes de canais de atendimento.
Por meio dessa estratégia, houve o crescimento de 1.011% dos correspondentes bancários numa década. Passaram de 36,4 mil em 2003 para 405,2 mil em 2013. Foram nomeados nesse período quase 370 mil novos correspondentes. Em contrapartida, mostrando o vigor da terceirização dos serviços, o aumento de agências bancárias foi de 35% no mesmo período. Em uma década, foram inauguradas pouco menos de 6 mil novas agências. Eram 16,8 mil em 2003. Agora, são um total 22,7 mil.
Na opinião de Miguel Pereira, os banqueiros se aproveitaram da necessidade social de bancarização para fazer exatamente o contrário. Com a terceirização generalizada, oferta diferenciada de serviços para a população pobre, os bancos promovem a discriminação e a exclusão social.
A balela da inclusão financeira pode ser verificada claramente nas regiões Centro Norte. O crescimento de correspondentes no Centro-Oeste foi de 9% e no Norte de 4%. Em contrapartida, o aumento dos correspondentes chegou a 47% na região Sudeste do país. Esse fenômeno pode ser explicado pela redução de custos que a terceirização dos serviços proporciona e a precarização do trabalho, achatamento salarial e deterioração dos serviços que acarreta para trabalhadores e população.
Perigos da moeda eletrônica
Agora, nos últimos anos, aceleram-se novas mudanças com o modelo Mobile Payment, baseado no desenvolvimento acelerado das telecomunicações e uso de celulares. “Um sistema que funciona como intermediação eletrônica, uma terceirização diferente, que substitui a mão de obra direta e cria novos processos e serviços terceirizados. Os grandes bancos estão fazendo grandes investimentos e inaugurando grandes centros tecnológicos para melhor usufruir do sistema”, explica Miguel Pereira.
O uso desse modelo é justificado pelo fato de existirem 259 milhões de celulares e 5.564 municípios com cobertura de telefonia móvel, sendo 3.066 com cobertura de banda larga móvel 3G (atingindo 87% da população). As características do Mobile Payment é ser interoperável (interligado aos sistemas de pagamentos), de amplo e fácil acesso, tem baixo custo.
“A ideia do Mobile é fazer o celular realizar todas as operações bancárias, inclusive os pagamentos de benefícios sociais como o Bolsa Família e aposentadorias do INSS. O sistema reduz a circulação de papel moeda no mercado e diminui a quantidade de operações bancárias, promovendo redução de custos e mais ganhos aos bancos”, comenta Miguel de Oliveira. “O problema é que o celular como meio de pagamento, assim como a internet, está sujeito a fraudes O pior é que população de baixa renda é sempre mais vulnerável a golpes. Além disso, as telecomunicação são um dos setores com maior quantidade de reclamações nos Procons”, adverte.
Mas aí surgem perguntas ainda sem respostas, que Miguel Pereira lança como desafio para o movimento sindical: Quem responderá por problemas que surgirem com o novo sistema que dissemina a moeda eletrônica? Quem representará trabalhadores das novas instituições de pagamento?A qual categoria pertencerão esses trabalhadores?
Fonte: Fetec-CUTRobinson Sasaki