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5 de Março de 2015 às 08:06

05/03/2015 - "Não defendemos golpe, muito menos retirada de direitos", diz Vagner Freitas



Roberto Parizotti
Em lançamento do 12º CONCUT, presidente nacional da Central, Vagner Freitas, cobra implementação do projeto vencedor nas eleições
Escrito por: Luiz Carvalho (de Brasília) 
 
Às 19h32 desta quarta-feira (4), horário de Brasília, a CUT iniciou o lançamento de seu 12º Congresso Nacional (CONCUT), no Senado. Conforme recomenda o protocolo em encontros como esse, organizações internacionais e nacionais de trabalhadores, além de ministros, estiveram presentes. 
 
Miguel Rosseto (ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República) e Manoel Dias (Trabalho) enalteceram a importância da Central para a consolidação da democracia, criticaram a tentativa de golpe que setores conservadores tentam viabilizar contra a presidenta Dilma Rousseff e apontaram conquistas dos últimos 12 anos.

Último a falar, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, aproveitou a presença de representantes do governo para mandar um recado. Se por um lado a Central vai às ruas no próximo dia 13 em defesa dos direitos da classe trabalhadora, da Petrobrás, de democracia e da reforma política, por outro, não aceitará viver das vitórias passadas.

“Não fomos eleitos para falarmos do passado. Fomos eleitos para continuar conquistando e representando os trabalhadores. Não foi à toa que a CUT tirou em resolução apoiar a Dilma e eu não estou arrependido, porque o Brasil estaria arrebentado se o PSDB tivesse ganhado as eleições. Mas estou muito preocupado com esse início de governo e temos nos posicionado oficialmente quanto à condução da linha econômica que temos visto”, disse.

Sem retrocesso

Para Vagner, a presidenta o governo comete o erro de adotar a proposta derrotada nas últimas eleições. “Quero dizer para a Dilma que, além de ganhar eleições, tem de implementar a agenda do desenvolvimento e crescimento. Para que não tenha retirada de direitos, precisa retirar as medidas provisórias 664 e 665.”

Referindo-se à observação do ministro Manoel Dias, que apontou os dados divulgados em fevereiro sobre recorde nas baixas taxas de desemprego, o dirigente da Central fez um alerta. “No decorrer de sua trajetória de ministro, a cada dois meses, o senhor falou sobre a geração de empregos no Brasil. E o senhor fez uma intervenção aqui dizendo que dezembro teve a menor taxa de desemprego. Mas a comparação entre janeiro deste ano com janeiro do ano passado indica aumento. Para o senhor continuar dizendo que um dos grandes patrimônios que temos é o emprego, precisa mudar a política econômica. Porque estagnando a economia vamos chegar com desemprego no meio do ano muito maior do que temos hoje”, criticou.

Reajuste também para ricos – Vagner voltou a cobrar uma agenda positiva para os trabalhadores, com a discussão sobre o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho sem redução de salário. Cobrou ainda que a tesoura do reajuste se volte também à taxação de grandes fortunas.

“O lado da CUT é a defesa intransigente da classe trabalhadora e sabemos que hoje isso significa também impedir o retrocesso. Uma coisa é discutir os rumos do governo, outra coisa é querer interromper, de maneira golpista, um governo democraticamente eleito pela maioria da sociedade brasileira”, acrescentou.

Vagner ainda respondeu à velha mídia que têm estabelecido uma comparação entre os atos do dia 13 e outras convocações pelas redes sociais para manifestações em defesa do impeachment da presidenta Dilma. “Os atos do dia 13 tem nome e endereço. É a CUT, a UNE, o MST, as centrais parceiras, os movimentos sociais e publicamos um manifesto para dizer quais as linhas da nossa luta. Os outros eu não sei quem convoca. Não se trata de defender governo ‘a’,’b’ ou ‘c’ e sim afirmar o posicionamento da CUT na conjuntura. Vamos fazer não só essa manifestação, mas muitas outras contra quem quiser privatizar a Petrobras, contra quem quiser abrir o capital da Caixa Econômica. Porque a abertura do capital da Caixa pode demonstrar uma inversão de política econômica no Brasil, vai abrir mão dos organismos públicos para investimento em políticas sociais. Com a Caixa privatizada, quem vai fazer o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida?”, questionou. 
 
Paridade vem aí – A vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, e a secretária da Mulher Trabalhadora, Rosane Silva, lembraram que a Central está prestes a viver um período histórico, a implementação da paridade entre gêneros na direção.

Carmen ressaltou que a grandiosidade do tema impede qualquer possibilidade de retrocesso na decisão e Rosane ressaltou que uma organização democrática de trabalhadores exige o entendimento de que a classe trabalhadora é formada por dois gêneros.

Para além das fronteiras – Ex-presidente da CUT e atual da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Felício, falou sobre o respeito conquistado ao longo de 30 anos de luta da Central em defesa da democracia e dos direitos trabalhistas e o secretário-Geral da Confederação Sindical das Américas (CSA), Victor Báez, avaliou que as políticas de austeridade impostas nas Américas pela direita, muitas vezes de maneira golpista, junto com multinacionais e os grandes meios de comunicação, são semelhantes à atual movimentação da direita brasileira.

Para a diretora do escritório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) no Brasil, Laís Abramo, da mesma forma que seria impossível pensar avanços da classe trabalhadora e da democracia brasileira sem a Central, também seria impossível pensar a cooperação entre as organizações sindical Sul-Sul sem a atuação da CUT.

A responsabilidade de unificar

Nas intervenções de dirigentes da Força Sindical, CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), UGT (União Geral dos Trabalhadores) e Nova Central, a palavra liderança e unidade estiveram sempre presentes.

Para Antônio Neto, presidente da CSB, a CUT tem a responsabilidade de lidedrar o movimento sindical neste momento em que os direitos trabalhistas correm risco.

“A maior tem a obrigação e o compromisso de trazer para a unidade as outras centrais para enfrentarmos juntos o momento muito difícil. Estivemos lado-a-lado durante 12 anos e em três meses de mandato da Dilma parece que o Brasil está um casos. Caos coisa nenhuma, estamos é perdendo batalha de comunicação, este é o terceiro turno da direita que perdeu a eleição e quer ganhar no grito. E só a unidade da classe operária para enfrentar esse período.” 
 
Para o secretário da Força Sindical, Sérgio Leite, foi justamente essa unidade que resultou em 19 projetos aprovados no Congresso favoráveis à classe trabalhadora, como a política de valorização permanente do salário mínimo, a isenção de imposto de renda sobre os lucros e resultados e a lei das trabalhadoras domésticas, ainda em fase de regulamentação.

Secretária de Relações Internacionais do PT (Partido dos Trabalhadores), Mônica Valente, acredita que o momento é de disputa ideológica e exigirá muita sabedoria para trazer à luta quem foi beneficiado por acesso ao emprego, à universidade e à casa própria por meio dos programas sociais implementados nos últimos 12 anos. 

“Neste momento, duas coisas são fundamentais, ter consciência de que há uma forte disputa pelo projeto político e que ao longo dos últimos quatro governos superamos as questões de partido, governo e sindicato. Cada um tem sua tarefa e mesmo projeto em comum”, definiu.

Reforma política

Tema de um dos seminários do dia, a reforma política foi lembrada pela presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Vic Barros, como uma das pautas CUTistas para além do movimento sindical.

“A abertura do Congresso da CUT se dá no Senado, onde direita tenta colocar voto distrital e a Câmara tenta constitucionalizar adoção das campanhas pelas empresas. Se a direita quer debater corrupção nos também queremos e é fundamental para isso barrarmos a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 352, a PEC dos corruptores. E agora também completa um ano do pedido de vista pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes sobre o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que questiona a doação das empresas para campanhas eleitorais. É fundamental reforçar o coro, devolve Gilmar!”

Para Rosseto, o Brasil hoje é um país melhor para a classe trabalhadora e isso é resultado da luta pelo povo em defesa da democracia, da República e pelos direitos. Na visão dele, essa batalha foi responsável por forjar a consciência política capaz de defender conquistas e compreender claramente a qualidade da disputa politica enfrentada no final do ano passado. “Foi a capacidade de liderança da CUT e das outras centrais que permitiu derrotar a direita conservadora e dar a vitória à companheira Dilma”, falou.

Já Manoel Dias acredita que a defesa da democracia, mais que uma bandeira é uma necessidade para a Central. “A democracia precisa ser mantida e conservada, porque quem mais precisa dela sᆪo os trabalhadores. É com a democracia que o trabalhador luta por seus direitos, propõe e reivindica. O melhor local para empreender a luta é a rua e só na democracia é possível usá-la como campo de batalha.”
 

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