(Belém-PA) - O Dia Mundial de Combate às Ler/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho), lembrado todo dia 28 de fevereiro, levou vários delegados e delegadas sindicais, membros da CIPA, bancários adoecidos e profissionais da área de saúde, para um seminário sobre a doença que mais atinge a categoria bancária. O evento foi na sede do Sindicato em Belém.
Entre os participantes estava uma bancária que atua no setor há mais de 20 anos e já desenvolveu diversas funções ao mesmo tempo numa instituição privada de Belém. O acúmulo de cargos, o estresse, os esforços repetitivos provocaram o afastamento da trabalhadora que confessa ter relutado por algumas vezes pela preocupação e a responsabilidade com o trabalho. Ela é uma dos 3 bancários e bancárias afastados por causa das Ler/ Dort só esse ano na capital paraense.
“Em 2008 foi a primeira vez que tive de me afastar por alguns dias do trabalho por causa das dores que sentia na mão. No ano passado, na sequência das minhas férias, foram mais 15 dias afastadas. Agora vou ficar 60, pois as dores na mão estão mais intensas, já atingem também minha coluna. Algumas tarefas do dia-a-dia pra mim hoje desenvolvo com certa dificuldade, como pentear meu cabelo”, contou a bancária.
Para ela, o Sindicato foi de fundamental importância para o seu tratamento e recuperação. “Eu não sabia que tinha direito ao Comunicado de Acidente de Trabalho. Posso dizer que fui bem servida pela entidade e hoje estou aprendendo mais um pouco sobre a síndrome que estou enfrentando, só quem passa por isso sabe o quanto é difícil, o quanto é dolorido”, desabafou.
A fisioterapeuta do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Ilca Patrícia Caldas ressaltou que se as empresas se preocupassem mais com a saúde de seus trabalhadores, as Ler/ Dort poderiam ser evitadas. “Trabalhador bancário não é só corpo, é mente também, e os dois precisam ter um descanso durante a jornada conforme determinada a lei, isso faz bem pra saúde e até melhora o rendimento. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença quando o assunto é a saúde do trabalhador”.
Fazer valer a súmula 346 do Tribunal Superior Trabalho é uma das lutas das entidades sindicais. “A maioria dos bancos restringe o intervalo após cada 50 minutos trabalhados aos digitadores, mas caixa e outras funções também digitam intensamente e são merecedores do mesmo descanso como forma de prevenção às Ler/ Dort”, afirmou o diretor de saúde do Sindicato, Gilmar Santos.
O movimento sindical bancário foi protagonista na defesa de condições de trabalho dignas aos trabalhadores do setor financeiro. “Além de lutar pela melhoria das condições de trabalho, o Sindicato pelo menos uma vez por ano realiza seminários sobre o assunto e suas consequências com a categoria. O Sindicato também produziu uma cartilha de combate e prevenção às Ler/ Dort distribuídas para toda a categoria e ainda tem uma equipe que acompanha e orienta os bancários adoecidos. Por isso a importância de que o trabalhador e trabalhadora nos procure quando já tiver os primeiros sintomas”, orientou a diretora do Sindicato, Heládia Carvalho.
Acesse AQUI a cartilha na íntegra
Dificuldades no tratamento - De acordo com levantamento do Ministério da Previdência Social, as Ler/ Dort atingem todos os setores produtivos, com grande incidência na agricultura, indústria e setor financeiro, sendo verificada também no setor de transporte e na construção civil.
Após os 15 dias iniciais de afastamento das atividades exercidas, o trabalhador deve ser encaminhado ao INSS para ser avaliado por um médico perito, que lhe concederá ou não o benefício do auxílio-doença.
A terapeuta ocupacional, Raissa Moraes, ressaltou que a perícia feita pelo INSS não revela de fato o estado de saúde do trabalhador. “Deveria ser feita de forma mais minuciosa e detalhada de forma a colaborar com o tratamento, pois muitos funcionários acabam voltando ao trabalho ainda doentes e como o ambiente a rotina não são favoráveis, o estado de saúde deles se agravam. Pausas e ginásticas laborais com frequência são excelentes formas de prevenção”.
Para mostrar na prática as orientações repassadas aos participantes, a técnica do Fundacentro, Laura Nogueira, a fisioterapeuta do Cerest, Ilca Patrícia Caldas e a terapeuta ocupacional, Raissa Moraes convidaram todos a se levantar, e ao som de marchinhas de carnaval, deram algumas dicas de alongamento.
Também participaram do seminário o médico do trabalho do INSS, Márcio Maués e a coordenadora do Cerest, Andreia Rodrigues.
Fonte: Bancários PA