RENATO PAPIS/CNBB
O lema deste ano será “Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome”. Dentre os objetivos está o combate à violência e garantia dos direitos básicos
por Rodrigo Gomes, da RBA
São Paulo – A 21ª edição do Grito dos Excluídos, na segunda-feira (7), vai cobrar a realização de reformas de base pelo governo e o Congresso brasileiro e posicionar-se contra a agenda conservadora que vem sendo manifestada em protestos pelo impeachment da presidenta da República, Dilma Rousseff, e em propostas como a Agenda Brasil, proposta pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB/AL). Entre as principais reivindicações estão a auditoria da dívida pública, as reformas políticas, tributária e das comunicações.
“Neste momento de crise é importante saber de que lado estamos. Pode-se estar com o povo ou com aqueles que querem retroceder. Nós não estamos do lado do quanto pior melhor, nem daqueles que não aceitam o resultado das eleições”, afirmou o bispo Dom Pedro Luís Stringhini, vice-presidente da regional sul da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em entrevista coletiva na tarde de hoje (3).
Para os organizadores do Grito, houve muitos avanços sociais na última década, mas também setores em que os avanços foram mínimos e sobre os quais é preciso pressionar o poder público para evitar retrocessos. O lema deste ano será “Que país é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome”. Dentre os objetivos estão o combate à violência, garantia dos direitos básicos e a construção de espaços políticos participativos.
“Temos que comemorar que 40 milhões de pessoas hoje podem comer todos os dias. A conquista de direitos das empregadas domésticas, o combate ao trabalho escravo, nosso regime democrático que permite até manifestações pela volta da ditadura. Mas é preciso avançar em cidadania. Pouco foi feito sobre isso em dez anos, o governo federal não apostou na politização da população. E agora paga o preço”, afirmou o jornalista Altamiro Borges.
Miro também ressaltou a cobrança que será feita à imprensa, que tem dado muito mais cobertura as manifestações conservadoras, “que exaltam o golpismo, a ditadura e a discriminação”, do que dá, historicamente, às manifestações populares. “A mídia também poderia ajudar no combate à violência, mas o que faz é estimular o consumismo e os piores instintos dos seres humanos, com programas policialescos e coberturas omissas de casos como a recente chacina em Osasco, em que foram mortas 19 pessoas”, afirmou.
Para a militante da Pastoral Operária Antônia Carrara, o Grito também é um espaço de reafirmação da luta de classes. “Somos trabalhadores. Os patrões nos chamam de colaboradores com objetivo de esvaziar a nossa história de lutas. Queremos mudar esse sistema. Os povos não suportam mais o capitalismo”, afirmou.
Em um momento em que as crises política e econômica são tratadas na imprensa todos os dias, os organizadores do Grito lembram que a necessidade de ajuste fiscal não pode significar cortes de recursos para saúde, educação, mobilidade. “A luta nunca foi fácil, ainda mais nos dias de hoje”, salientou o bispo Stringhini.
O Grito dos Excluídos não tem centralidade na realização. “Todos podem gritar contras desigualdades na sua cidade, no seu bairro”, afirmou Rosilene Wansetto, coordenadora nacional do evento. Este ano são esperados atos em todas as capitais e em cerca de 300 cidades.
Na capital paulista, estão sendo organizadas duas atividades. Uma na Praça da Sé, que começa às 8h, com uma missa na Catedral. Outra manifestação, organizada por movimentos de moradia, terá concentração na Praça Osvaldo Cruz, na Avenida Paulista, às 9h. Também haverá a 28ª Romaria dos Trabalhadores e Trabalhadoras para a Catedral de Aparecida, no norte do estado paulista. Outros locais serão divulgados nos próximos dias.