Seeb/Brasília
Brasília - “A luta para acabar com o preconceito racial perante a sociedade é constante. E os debates são importantes para avançarmos nessa questão, contribuindo para que diminua os índices de desigualdades e o preconceito em nosso país”, destacou o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo, durante o evento Bancários Debatem, que teve como tema ‘A negra e o negro na conjuntura atual’, realizado na quarta-feira (26), no auditório Tom Jobim da Legião da Boa Vontade (LBV).
Araújo acredita que políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade são fatores fundamentais à democracia plena e ao desenvolvimento com justiça social no país. “Esperamos que um dia o preconceito desapareça totalmente e ninguém mais seja discriminado pela cor da pele ou condição social”, frisou o presidente do Sindicato, que promoveu o evento para comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Os temas abordados foram ‘O negro na conjuntura política, econômica e social’; ‘O negro no sistema financeiro’; ‘A Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil’, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); e ‘Reparação da Escravidão: caminhos e possibilidades’.
A lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, determina a obrigatoriedade do ensino da Historia da África e da Afrobrasileira nas escolas públicas e privadas, bem como nas instituições de ensino superior públicas e privadas. No entanto, Adami observa que há um descumprimento dessa lei, especialmente nas universidades federais.
O diretor do Iara lembrou também que a OAB criou, no início de novembro, a Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil. O grupo quer resgatar a história desse período, que vem desde o século 17 até meados do século 19, as responsabilidades e a construção da população negra para o desenvolvimento do Brasil. Segundo Humberto Adami, a comissão é uma vitória para o direito dos negros no país.
Adami também lamentou o boicote às cotas raciais, criada pela Lei 12.711/12, para facilitar o acesso dos negros às universidades do país, em razão deles terem sido marginalizados após o período da escravidão. E ainda informou que no que vem, em 1º de janeiro, será celebrada a Década Internacional dos Afrodescendentes.
Respeito às etnias
José Alves, ex-presidente do Sindicato e bancário do Banco do Brasil, destacou a importância da judicialização – “caminho necessário para se ter direito a lei” -- e dos debates nas escolas para conscientizar as crianças da necessidade de respeito a todas as etnias e do malefício do racismo.
“Precisamos envolver sindicatos, entidades civis e o Estado para discutir e fazer o enfrentamento e para construirmos um movimento que altere essa realidade”, assinalou Alves, acrescentando que a renovação é fundamental a discussão com os jovens.
A bancária e deputada federal Erika Kokay (PT-DF), integrante da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, considerou a discussão relevante. Para ela, abordar o tema “significa desconstruir pedaços da escravidão e do colonialismo ainda presentes na contemporaneidade. São problemas que precisam ser enfrentados”.
Na visão da deputada, o período caracterizado pela desumanização vem se perpetuando e a discriminação acaba se tornando natural. “Não existe democracia racial no Brasil. Podemos ver isso no setor bancário”, observou Erika Kokay, que defende o feriado do Dia da Consciência Negra, “um dia dedicado aos nossos heróis, excluídos de nossa própria história”.
Chico Piauí, representante do Instituto Comunidade Praia Verde e militante do Movimento Negro, acredita que é necessário criar um modelo de organização das causas dos negros. “Precisamos de um modelo de mobilização de massa, uma maior união da militância”, disse. E concluiu: “O racismo existe e tem de ser destruído”.
Negros nos bancos
Organizador do evento e coordenador da Comissão de Combate à Discriminação Racial do Sindicato, Jeferson Meira criticou as dificuldades que os negros passam há séculos. “Ao longo da história, os negros sempre foram desrespeitados, passando por grandes sofrimentos, vivendo em condições desumanas nas senzalas. E ainda hoje, infelizmente, continua o preconceito que faz com que eles sejam excluídos da sociedade”, avaliou o coordenador, que comemorou o anúncio feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), nesta quarta-feira (26), que reconheceu a capoeira como Patrimônio Cultural da Humanidade.