O encontro sobre juventude: acesso ao trabalho e renda, que finalizou o 33º Congresso dos Funcionários do Banco do Brasil na manhã desta sexta-feira (10), debateu os desafios para jovens ter acesso ao trabalho e renda.
Pensar na necessidade de política de emprego e renda para a juventude, em cenário tão difícil, em que tantas pessoas passam fome, como é o caso do Brasil, é pensar também que se deve falar sobre qualquer tipo de trabalho. É o que diz a vereadora do Psol, Paula Nunes, quando analisa que é equivocado falar que os jovens do Brasil não trabalham. “Pelo contrário, trabalham muito, desde muito cedo, mas em serviços extremamente precarizados”, disse.
Para Paula, basta perceber quais são as pessoas que mais trabalham em aplicativos de alimentação. “Hoje, o destino da juventude brasileira é estar em cima de uma bicicleta, alugada de um banco privado – veja que não estou falando sequer de moto ou de bicicleta própria – por uma média de 12 horas, sem tempo de descanso e de alimentação. Essa é a realidade do nível de precarização de trabalho da juventude brasileira”. Para a vereadora, é um ato de extrema importância quando os sindicatos debatem todas as reformas que foram impostas e a precarização dos serviços públicos, pois são temas que refletem nas oportunidades que são criadas ou tiradas drasticamente da juventude. “A gente precisa ter um olhar pra essa juventude que não consegue acessar a universidade, não consegue sequer acessar o trabalho formal, vivendo da informalidade”, finalizou.
No mundo todo, a taxa de desemprego na população jovem é maior, alcançando dois dígitos, considerando as demais faixas etárias. O Brasil tem a quarta maior taxa de desemprego no grupo de 16 a 24 anos, de 31%. “É preciso olhar os dados à luz do contexto político. Somente assim é possível desenvolver políticas públicas assertivas para os jovens”, ponderou Lucimara Malaquias, presidenta da UNI Américas Juventude.
Ela destacou que, no Brasil, dois grandes grupos de jovens se destacam: “O periférico, que se vê obrigado a trabalhar no Ifood, Uber, ocupações precarizadas. Esse é um grupo sem acesso à cultura, capacitação. E o outro grande grupo é o do altamente capacitado que, no ambiente bancário entra preparado, com salário acima do que ganha 80% da classe trabalhadora em todo o país e que traz com ele a cultura da meritocracia. Para ele, a PLR, por exemplo, é vista como mérito, sem com a luta do movimento sindical”, explicou Lucimara.
Ocorre que esse jovem que entra no mercado de trabalho mais preparado está sendo empurrado para a pejotização. O caso mais recente e emblemático dessa manipulação é do Santander, que está incentivando a contratação de trabalhadores fora da carteira de trabalho, chamando-os de “sócios”, com salários irrisórios em comparação ao lucro do banco.
“O movimento sindical precisa de mudanças drásticas para conseguirmos se aproximar desses jovens que consideram o movimento sindical ultrapassado, porque não se sentem representados, porque eles compraram o discurso do banco de que não precisam do movimento sindical e de que eles podem ficar ricos”, prosseguiu Lucimara. “Não existem jovens na grande maioria das nossas direções sindicais”, criticou.
“É urgente, portanto, essa atualização do movimento sindical para que seja um espaço de acolhimento. Precisamos parar com essa ideia de que sabemos tudo. Precisamos ouvir, ser um espaço de construção coletiva. Somente assim vamos conseguir alcançar os jovens bancários”, concluiu.
Cristiana Paiva, professora, jovem agricultora familiar e secretária de Juventude da CUT Nacional, falou sobre a importância de os sindicatos valorizarem e garantirem espaços para os jovens que estão na luta.
A secretária levou dados que dão conta de uma pequena participação dos jovens em processos sindicais, em direções e cargos que não sejam apenas o da secretaria de juventude. “Jamais o jovem é cogitado para assumir uma presidência, uma secretaria geral ou algo do tipo. Sempre há a narrativa de que não temos experiências, mesmo que sejamos capazes.”
Segundo Cristiana, tal fato causa um desestímulo e não é proporcional à quantidade de experiência enfrentada pelos jovens que estão nas atividades. “São poucos espaços ocupados por jovens, apesar de ser histórica a participação da juventude nos processos de mudança e na luta por direitos no Brasil”, pontuou.
Fonte: Contraf-CUT