Foi em 1910, durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, que a feminista marxista alemã, Clara Zetkin, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A data escolhida foi o 8 de março.
Em 1932, 22 anos depois, aqui no Brasil, as mulheres iam às urnas pela primeira vez; e neste 8 de março de 2024, milhares de centenas de mulheres, mais uma vez foram às ruas, Brasil afora.
“Hoje pra nós é um dia de muita luta, que infelizmente vem sendo apropriado como um dia comercial, um dia romântico, como se fosse o Dia dos Namorados; então nós como sindicalistas, como trabalhadoras de luta precisamos resgatar o caráter de reivindicação, de luta da classe trabalhadora nesse dia; e é isso que a categoria bancária tem tentado fazer não somente nessa data, mas nas mesas de negociação com os bancos, conquistando cláusulas de igualdade salarial, igualdade de condições de trabalho, maior promoção das mulheres aos cargos gerenciais, porque nós ainda somos as maiores vítimas do assédio sexual e moral da categoria”, destaca a presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará, Tatiana Oliveira, que é bancária da Caixa.
E para combater esse tipo de violência contra as mulheres bancárias que em 2022, elas conquistaram, na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), a cláusula de combate ao assédio sexual. Dois anos antes, um aditivo à CCT que deu as diretrizes para a criação de um programa de prevenção à prática de violência doméstica e familiar contra bancárias, incluindo a criação de canais de acolhimento, orientação e auxílio às vítimas.
Até março de 2023, os canais do Basta haviam atendido 360 pessoas, sendo 358 mulheres e dois homens parentes de mulheres em situação de violência doméstica ou familiar. Do total de atendimentos, foram geradas 256 ações judiciais, sendo 164 pedidos de medida protetiva de urgência obtidos com a assessoria dos sindicatos às vítimas. A iniciativa já chegou em 12 sindicatos e federações de bancários, e o Pará é um dos próximos estados a serem contemplados.
“Com essas cláusulas garantimos a transferência das bancárias do local de trabalho em caso de serem vítimas de violência, para que o agressor não as encontre, não faça nenhum tipo de ataque na entrada ou saída de trabalho, conseguimos também obrigar os bancos a construírem um canal de apoio às vítimas de violência e também conquistamos que eles financiem eventos de sensibilização na sociedade contra a violência e exploração sexual também de crianças e adolescentes, e ontem, aqui em Belém, representando a Contraf-CUT, eu estive presente no lançamento do ‘Programa Nacional de Iniciativas de Prevenção de Violência contra Crianças e Adolescentes dos bancos e entidades sindicais e bancárias’, finaliza Tatiana Oliveira.
Em Belém, capital do Pará, elas saíram em marcha em defesa das próprias vidas, ‘da Amazônia à Palestina, por nenhuma a menos!’ “Primeiramente a nossa solidariedade à Marcha Mundial das Mulheres, as companheiras palestinas e a todas as mulheres do mundo que ainda sofrem com a violência de gênero. Nós também queremos falar sobre vidas, muitas mulheres sequer têm acesso a procurar um emprego porque estão ocupadas cuidando das crianças, das pessoas idosas e das pessoas doentes. Isso precisa mudar, a sociedade não pode mais continuar reproduzindo essa divisão sexual do trabalho injusta que sobrecarrega as mulheres, que adoece as mulheres; por isso nós seguiremos em marcha até que todas sejamos livres. Livre da violência, livre da opressão, livre da exploração e de todas as formas de violência. Estamos aqui honrando a luta daquelas que nos antecederam para que hoje a gente possa estar nas ruas lutando para manter e ampliar nossas conquistas”, afirma a diretora de Mulheres do Sindicato e bancária do Banpará, Salete Gomes.
Mais da metade do eleitorado, menos que isso no Legislativo
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, 53% do eleitorado brasileiro é feminino, mas no Congresso Nacional estão apenas 92 deputadas federais na Câmara, e no Senado, somente 4 são mulheres. Já na Assembleia Legislativa do Pará, a bancada feminina é composta por 7 parlamentares.
“Essa realidade tem que mudar, para isso é necessário que políticas sejam implementadas para melhorar a participação política das mulheres; mesmo com a cota de 30% dos partidos, ainda não conseguimos nos eleger em massa, porque na maioria das vezes somos usadas apenas para cumprir a cota; é por isso que nós defendemos a nossa participação qualificada, é por isso que nós defendemos que esse debate tem que ser levado a público, é por isso que nós defendemos que mais mulheres têm que ocupar mais espaços de poder e principalmente espaços na política, para que possamos desenvolver políticas públicas para nós, para os jovens, para toda a sociedade”, defende a diretora do Sindicato na região sudeste do Pará, Heidiany Moreno, que também é bancária do Banpará.
O Dia Internacional de Luta das Mulheres teve mobilização também em Marabá, pela manhã, e no final da tarde, mulheres santarenas se concentraram na orla da cidade. “Nossas vozes com nossas reivindicações precisam ecoar pelos e serem ouvidas pelos quatro cantos do Pará e do mundo, porque afinal somos nós por nós mesmas por melhores salários, condições de trabalho, respeito, igualdade e dignidade”, ressalta a diretora da entidade sindical, na região oeste, Rafaela Carletto, também bancária do BB.
Fonte: Bancários PA com TSE e Dieese