Por muito tempo, no Brasil, o 13 de maio foi a data em que se lembrava o fim da escravidão. Para muitos, a libertação dos escravos não podia ser encarada como se fosse uma simples canetada da princesa Isabel. Nas últimas décadas, com o crescimento do movimento negro no Brasil, o 20 de novembro passou a ser a data que melhor marcava a luta dos negros.
Para o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguar, o 13 de Maio é uma data para se refletir. “A importância do 13 de Maio, a chamada abolição da escravatura que completa 133 anos, não é exatamente a comemoração de uma data histórica secular, mas uma oportunidade de reflexão para toda a sociedade. O Brasil da lógica escravocrata de uma burguesia racista, mesquinha e perversa, levou o nosso país à atual situação, o fundo do poço. Enquanto houver racismo no Brasil não haverá democracia. Que este 13 de Maio seja o fortalecimento da resistência, da virada, da esperança e do recomeço. Só depende de nós”, afirmou.
Jacarezinho
Não há como ignorar a chacina ocorrida na semana passada na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, como exemplo mais escancarado da violência atinge os negros da forma mais violência nas chacinas praticadas por forças policiais nas grandes cidades brasileiras. “A chacina na favela do Jacarezinho, que deixou 28 mortos, sendo um policial, só confirma que neste caso mudou o governador, com o impeachment de Wilson Witzel, mas a política genocida bolsonarista segue firme com Cláudio Castro (PSL)”, analisa o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.
“Operações que perfuram residências e apavoram moradores, matam jovens e crianças, jamais ocorreriam em condomínios da Barra da Tijuca ou da Zona Sul, áreas nobres, e isto não pode ser tratado com normalidade e frieza. Que este 13 de Maio possa ser o da esperança. Que no Brasil possamos reacender a chama da rebelião pacífica. Nos EUA, tivemos uma recente experiência que sim, nos serve de lição, onde as comunidades negras foram às ruas e às urnas e, unidas com a sociedade que se indigna com toda a forma de preconceito e discriminação, viraram o jogo, derrotando o governo negacionista e racista de Donald Trump. Que em nosso país o mesmo possa acontecer desde já, reencontrando o caminho da democracia”, frisou.
Almir Aguiar entende que não há como esconder para “debaixo do tapete” a triste realidade de exclusão, discriminação e dívida social que o Brasil tem com os afrodescendentes e a herança maldita do racismo vivo e do retrocesso político sem precedentes que tivemos, especialmente nos últimos três anos. O secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT destaca que a chaga social brasileira tem os negros como maiores vítimas e dá um exemplo atual. “Se a pandemia afeta a todos no Brasil de hoje, morrem, vítimas da Covid-19, 40% mais negros do que brancos”, ressalta o secretário.
Desigualdade tem cor
Para Almir, a desigualdade no Brasil tem cor. “Segundo os dados do IBGE, os negros representam 56,1% da população brasileira, 54,9% da força de trabalho e 64,2% dos desocupados no país. A informalidade também atinge mais esse contingente. Enquanto 34,6% de pessoas brancas se encontram em condições informais de trabalho, a informalidade atinge 47,3% de pretos e pardos. Esta realidade social fundamentada no racismo histórico é agravada pelo retrocesso sem precedentes praticado pelo atual governo. No setor bancário, infelizmente, ainda temos desigualdades. O rendimento médio de uma bancária negra é apenas 68,2% do que recebe um bancário branco.”, critica o secretário de Combate ao Racismo.
Capitão do mato
Almir Aguiar também ressalta o que considera outro retrocesso que atinge diretamente os afrodescendentes: a nomeação de Sergio Camargo para a presidência da Fundação Cultural Palmares. “O governo Bolsonaro transforma a Fundação Cultural Palmares num instrumento das oligarquias racistas, mesmo tendo um negro a frente da instituição, mas que, infelizmente, como bolsonarista, age como um ‘capitão do mato’ a serviço da Casa Grande contra seus irmãos de raça. Ele próprio não se reconhece como negro, mas como um escravizado aculturado que incorpora a visão etnocêntrica branca e anglo-saxã dominante, negando a realidade do oprimido e reafirmando a versão do opressor”, avalia o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT.
Fonte: Contraf-CUT