Imagine se você fosse obrigado a trabalhar nos finais de semana, não tivesse direito a férias de 30 dias, nem 13º salário e muito menos PLR? Como seria se além disso você não tivesse quadro de carreira com piso salarial, não recebesse auxílio-creche e tampouco tíquete-refeição, cesta-alimentação e 13ª cesta? E se as mulheres não tivessem direito a licença-maternidade de 180 dias?
Essa seria a realidade dos bancários, que muitas categorias e os trabalhadores dos aplicativos enfrentam ainda hoje, caso não houvesse uma história de resistência e de luta, que começou lá atrás, há mais de um século – às vezes sozinhos e muitas outras junto com trabalhadores de outros setores.
Foi ainda nos anos 1920 que os bancários começaram a se mobilizar pelo direito de se organizar. Primeiro foram criadas associações e só na década seguinte puseram de pé os primeiros sindicatos. Na primeira greve, em 1933, conquistaram a jornada de trabalho de seis horas (na maior parte do país a jornada era das 7h30 às 18h30) e o salário base profissional.
Desde então todos os direitos da categoria foram conquistados com organização e muitas lutas. Além daqueles do primeiro parágrafo, acrescente-se planos de saúde e de previdência complementar, mecanismos de prevenção à saúde e condições de trabalho, defesa da igualdade de oportunidades e de combate ao assédio moral e sexual, além da inclusão dos parceiros de mesmo sexo nos planos de saúde.
Como resultado desse mais de um século de lutas e conquistas, os bancários são hoje a única categoria de trabalhadores no Brasil que tem os mesmos salários e os mesmos direitos em todo o território nacional, sejam em bancos públicos ou privados. E que estão assegurados na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), assinada pela primeira vez em 1992 e renovada periodicamente desde então. Sem contar os acordos coletivos por banco.
“Mas as lutas dos bancários não foram apenas por direitos salariais e corporativos. Nesse mais de um século sempre estivemos juntos com outras categorias na vanguarda das lutas gerais da classe trabalhadora e da sociedade brasileira pela democracia, por um Brasil justo, mais igualitário e soberano”, ressalta Cleiton dos Santos, presidente da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN).
“Mas sempre precisamos estar alertas e mobilizados para resistir aos ataques do capital para retirar nossos direitos, como aconteceu com as reformas trabalhista e previdenciária e os projetos de lei que querem nos impor trabalho aos sábados”, acrescenta Cleiton. “As rápidas transformações tecnológicas ameaçam nossos empregos e a pressão por cumprimento de metas abusivas e o assédio estão provocando uma verdadeira epidemia de doenças psíquicas na categoria. Mas como já demonstramos na nossa história, estaremos sempre mobilizados para manter direitos e obter novas conquistas.”
A 25ª Conferência Nacional d@s Bancári@s realizada em São Paulo entre 4 e 6 de agosto definiu os desafios da categoria hoje: necessidade de maior organização dos trabalhadores do ramo financeiro, com organização dos comitês de luta e brigadas digitais para ampliar mobilização da luta por reforma tributária com distribuição de renda, regulamentação das plataformas digitais, melhorar as condições de trabalho e saúde dos trabalhadores, defender os bancos públicos e consolidar a democracia. Confira aqui.
O 28 de agosto foi escolhido Dia do Bancário em homenagem à greve heroica de 1951, que começou exatamente nessa data e durou 69 dias.
Os índices oficiais do governo na época apontavam um aumento de 15,4% no custo de vida. Os bancários refizeram os cálculos e o próprio governo teve que rever seus índices, que saltou para 30,7%. Depois de 69 dias de paralisação, os bancários conquistaram 31% de reajuste. Foi a maior greve da história da categoria.
Nos anos 50, os bancários já estavam minimamente organizados nacionalmente e fizeram, em julho, uma Convenção Nacional no Distrito Federal (na época Município do Rio de Janeiro), em que definiram a reivindicação de reajuste de 40%. Os banqueiros ofereceram 20% de aumento, o que foi rejeitado por várias assembleias da categoria.
Vendo o movimento enfraquecer, os bancários de São Paulo decidiram ignorar a lei e deflagraram a paralisação no dia 28 de agosto. Nos primeiros dias, governo e banqueiros ameaçaram enquadrar os bancários na Lei de Segurança Nacional, mas nada fizeram. Assim, trabalhadores de outras capitais foram aderindo à paralisação.
A greve acabou sendo fortemente reprimida em todo o Brasil e tanto os banqueiros quanto o governo ajuizaram o dissídio, já que os bancários se recusavam a seguir a Lei de Greve. Com promessas de não perseguição e não demissão, porém sem garantias, os trabalhadores dos bancos pelo Brasil foram aceitando a proposta de 20%. Porém, as promessas não foram cumpridas e ocorreram diversas demissões.
Em 5 de novembro, a Justiça decretou o fim da paralisação com um reajuste de 31%.
O dia 28 de agosto também deve ser comemorado como dia de luta por ser o dia de fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), durante o 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), em 1983 (foto). Ainda durante a ditadura militar. A CUT é hoje a maior central sindical do país, à qual a Fetec-CUT/CN é filiada.
Fonte: Fetec-CUT/CN