A fragmentação das categorias profissionais e a precarização do trabalho trazidas pelas novas tecnologias e modelos de gestão neoliberais, além das reformas trabalhista e sindical, impuseram nas últimas décadas muitas dificuldades para as lutas dos trabalhadores. Para superar esses obstáculos, os trabalhadores precisam compreender essas profundas mudanças e formular estratégias de ação que busquem a unificação dos trabalhadores como passo necessário para o fortalecimento da organização e das lutas da classe trabalhadora em defesa de seus direitos.
Esse foi o sentido geral das intervenções dos delegados presentes às assembleias ordinária e extraordinária da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) durante a mesa que discutiu na manhã desta quarta-feira 6, em Brasília, a conjuntura nacional a partir de exposição do presidente da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues, e da apresentação do economista do Dieese Gustavo Cavarzan sob o tema Digitalização do Sistema Financeiro. Veja galeria de fotos no final.
O setor bancário brasileiro é o que mais investe em tecnologia, segundo informou Cavarzan: R$ 34,9 bilhões somente no ano passado (um crescimento de 18% em relação a 2021), o que inclui inteligência artificial, analytics e big data, blockchain, segurança cibernética, 5G, nuvens etc. Do total de transações bancárias no ano passado, 77% foram efetuadas por canais digitais e apenas 8% nas agências.
Com as sucessivas ondas de inovação tecnológica no sistema financeiro, mostrou o economista do Dieese, os bancos digitais já tinham em 2020 quase 8.200 agências. E em 2023 já há no Brasil 1.450 fintechs, quase dez vezes mais que o número de bancos.
De acordo com Cavarzan, que fez a exposição por meio virtual, isso está provocando profundos impactos no emprego do ramo financeiro. Em 2012, a categoria bancária englobava 59% dos postos de trabalho formais do ramo financeiro. Em 2021 caiu para 44%. Ou seja, foram fechados 70 mil empregos dos trabalhadores do setor protegidos pela Convenção Coletiva dos Bancários, enquanto o número de trabalhadores do ramo financeiro fora da CCT cresceu mais de 215 mil. E já são hoje mais de 571 mil, com remuneração menor, jornada de trabalho maior e menos direitos.
“A fragmentação do emprego no ramo financeiro indica que a estrutura sindical atual brasileira dificilmente dará conta de responder aos desafios colocados”, alerta o economista do Dieese. “Os trabalhadores que se expandem no ramo financeiro são representados por diferentes e diversos sindicatos – ou não têm representação sindical alguma - e têm condições de trabalho inferiores ao núcleo central da categoria bancária cada vez mais reduzido.”
Gustavo Cavarzan conclui: “Parece fundamental debater mudanças na estrutura sindical brasileira e também nas estratégias internas do movimento sindical para fazer frente a essa nova composição do mercado de trabalho”.
O que, para ele, implica apostar na organização dos trabalhadores de todo o ramo financeiro.
Na sua análise de conjuntura, o presidente da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues, não só concordou com essa análise do economista do Dieese como informou que esse mesmo fenômeno está acontecendo em praticamente todas as categorias de trabalhadores.
“Precisamos enfrentar essa nova realidade do mundo do trabalho imposta pela nova lógica do desenvolvimento do capital com a orientação que temos há 200 anos: trabalhadores, uni-vos”, afirma Rodrigo Rodrigues. “Cada categoria tem a sua especificidade, mas todas enfrentam os mesmos grandes problemas. Por isso é importante buscar a unidade da classe trabalhadora.
Para o presidente da CUT Brasília, “o papel do movimento sindical neste momento, mesmo num governo que foi apoiado por nós mas é de frente ampla, com um Congresso conservador, é estar na luta em defesas dos interesses dos trabalhadores, o que inclui às vezes entrar em choque com o governo”.
Fonte: Fetec-CUT/CN