Notícias

home » notícias

10 de Dezembro de 2021 às 18:33

A fome está de volta ao Brasil. Uma vergonha que precisamos erradicar outra vez

Só decisões de governo podem acabar com desnutrição e pobreza. Enquanto não vêm, Fetec-CUT/CN participa da campanha “Natal Sem Fome: cultivando a solidariedade". Dê sua contribuição


Cleiton dos Santos

Em 2014, pela primeira vez na história o relatório O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU), tirou o Brasil do Mapa da Fome. Entre 2002 e 2013, o número de brasileiros subalimentados caiu 82%.

Como isso foi possível? “Gostaria que a resposta fosse complexa ou sociológica, mas não é: bastou vontade política”, escreveu em recente artigo na Folha de São Paulo o presidente da ONG Ação da Cidadania, Daniel Souza, filho do sociólogo Betinho, o pioneiro fundador da associação na década de 1990 para combater a fome no país. Ele se referia às iniciativas adotadas pelo governo Lula na década de 2000, entre eles o Bolsa Família, o aumento sistemático e anual do salário mínimo e programas de incentivo ao pequeno e médio produtor, responsáveis pela produção de quase 70% do alimento que chega à mesa dos brasileiros.

Seis anos depois, o país regrediu monumentalmente e está de volta ao Mapa da Fome. Segundo estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), que congrega pesquisadores independentes de todo o país, do total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões conviviam com algum grau de insegurança alimentar, dos quais 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente. E quase 20 milhões de brasileiros e brasileiras enfrentavam a fome.

“Este quadro permite concluir que vivemos o que tem sido considerado como uma sindemia, englobando tanto os impactos da crise sanitária que afetam todas as dimensões da vida em sociedade como também os determinantes da Insegurança Alimentar situados no aumento da pobreza em paralelo à maior concentração de renda e riqueza entre os segmentos sociais mais ricos”, resume o relatório da Rede PENSSAN.

O estudo, divulgado em outubro de 2021, foi elaborado com dados coletados em dezembro de 2020, o que permite supor que a fome se alastrou ainda mais pelo país nestes últimos 12 meses.

E o que ocorreu no Brasil nesse período para provocar tamanho retrocesso?

Houve um golpe político-parlamentar para interromper as políticas de inclusão social, substituindo-as por um programa ultraliberal que implementou uma série de reformas antipopulares e de enxugamento do Estado, que estão provocando imenso desemprego, redução de salários e direitos, aumento da inflação, crescimento da pobreza e mais concentração da riqueza.

Começou no governo Temer com a reforma trabalhista e com a imposição do teto de gastos, que limitou os investimentos em públicas voltadas para a maioria da população, e com a liberação da terceirização em atividades-fim. E continua no desgoverno Bolsonaro, com a aprovação da reforma de previdência, o fim do Bolsa Família e a destruição paulatina das políticas públicas para educação, saúde, proteção do meio ambiente, defesa das minorias e dos direitos humanos, além da entrega do patrimônio nacional e das empresas públicas.

O resultado é a destruição de um país. Além do aumento da fome, a inflação é a maior das últimas décadas, com 13,5 milhões de desempregados, 28 milhões de subempregados e 5,1 milhões de desalentados. Entre abril de 2020 e abril de 2021, a massa salarial dos trabalhadores empregados caiu 4,7%, equivalente a R$ 12,05 bilhões, segundo o IBGE. Sem contar os 615 mil mortos na pandemia da Covid-19 por ação criminosa do governo.

A ofensiva contra os trabalhadores continua, com apoio de uma base parlamentar comprada a peso de ouro. Dia 10 de novembro agora o Executivo editou o decreto 10.854, que retira incentivo fiscal ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), criado em 1976 para melhorar as condições nutricionais e de saúde dos trabalhadores. E prepara mais uma reforma trabalhista, que amplia a precarização, acaba com folgas nos finais de semana e reduz papel da Justiça do Trabalho.

Para acabar com a fome e reconstruir o Brasil, voltar a crescer, gerar empregos, aumentar salários e redistribuir renda só será possível com vontade política. E obviamente com outro governo. É preciso resistir. Mas enquanto a eleição não chega, podemos e devemos exercer nossa solidariedade e contribuir da maneira que for possível para amenizar o sofrimento dos brasileiros e brasileiras que passam fome hoje no país.

Inúmeras iniciativas Brasil afora estão atuando com esse objetivo. As centrais sindicais, entre elas a CUT, estão orientando seus sindicatos filiados a se engajarem na campanha nacional “Natal Sem Fome: cultivando a solidariedade", impulsionada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em parceria com diversos outros movimentos sociais.

A campanha vai de 10 de dezembro a 6 de janeiro. Para aqueles que querem contribuir com a doação de alimentos e para a realização de ceias populares, basta depositar qualquer valor no PIX [email protected] ou na conta bancária abaixo:

Caixa Econômica

AG 1231
CC 2260-1
OP 003
CNPJ 11.586.301/0001-65

Acabar com a fome no Brasil é um compromisso de todos nós.

 

Cleiton dos Santos é presidente da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN)


Notícias Relacionadas