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21 de Agosto de 2014 às 09:28

Centrais Sindicais do Cone Sul defendem ação do governo argentino contra fundos abutres


Encontro em Buenos Aires contou com a presença de João Felicio, presidente da CSI, e de Antônio Lisboa, da CUT. Centrais também exigem o rompimento do TLC do Mercosul com Israel
 
Escrito por: Leonardo Wexell Severo, de Buenos Aires 
 

A Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) defendeu nesta terça-feira (20), em Buenos Aires, a ação do governo argentino contra os “fundos abutres” como “uma medida justa e necessária em prol da soberania nacional”. Na noite anterior (19), a presidenta Cristina Kirchner anunciou em cadeia de rádio e televisão o envio de um projeto de lei ao Congresso para reabrir a troca de títulos, trazendo para o país a jurisdição sobre os bônus da dívida que se encontravam em mãos do Banco de Nova Iorque.

Conforme denunciaram as centrais, uma ação do juiz Thomas Griesa, vinculado ao “megainvestidor” estadunidense Paul Singer permite que cerca de 7% dos portadores de títulos da dívida pública argentina, que não aceitaram a negociação realizada entre 2005 e 2010, agora recebessem as ações com um ágio que sangraria o país.

Considerando esta dívida de “interesse público”, a Casa Rosa alertou que a sentença de Griesa, um juiz direitista indicado pelo ex-presidente Richard Nixon, é de “impossível cumprimento”, sendo “violatória, tanto da soberania como das imunidades do país e dos direitos de terceiros”. “A Argentina se nega a ser extorquida”, sublinhou Cristina Kirchner.

O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João Antonio Felício, ressaltou que “93% dos credores aceitaram a remuneração entre 45% e 70% da dívida, enquanto os abutres apostaram na política do quanto pior, melhor”. “Queriam que a Argentina acelerasse rumo ao abismo, projetando lucros que seriam potencializados com o crescimento do desemprego, da fome e da miséria de milhões de pessoas”, acrescentou.

 

Frente à campanha de desinformação capitaneada pela grande mídia, João Felício lembrou que o movimento sindical e social estão em meio a uma batalha que “tanto quanto económica, é política e ideológica, pois é inaceitável que uma decisão de um tribunal de Nova Iorque se sobreponha ao interesse de toda uma nação”.

“A Coordenadora entende que é preciso apoiar o governo argentino e barrar este ataque especulativo, antes que esse tipo de prática, daninha à própria democracia, se alastre”, declarou o secretario de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa.

Somando centrais da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai, Uruguai e Venezuela, ressaltou Lisboa, a Coordenadora tem a responsabilidade de dar respostas contundentes aos ataques que vêm sendo feitos pelo capital financeiro internacional para inviabilizar os governos progressistas da região. “A América Latina e o Cone Sul, principalmente, têm representado um contraponto à cartilha do retrocesso neoliberal, mantendo uma política de defesa dos empregos, dos salários e direitos. A unidade e a mobilização do movimento sindical cumprem, portanto, um papel estratégico neste momento”, acrescentou.

De acordo com o chanceler argentino Héctor Timerman, seu país “seguirá exigindo que os Estados Unidos respeitem o direito soberano de seguir pagando” sua dívida sem intervenções. Desde 2005 a Argentina já desembolsou 190 bilhões de dólares para pagar suas “obrigações”. Caso os EUA não se apresentarem diante da Corte Internacional de Haia, alertou Timerman, “deverão indicar um método alternativo pacífico de solução de controvérsias”. Para o chanceler, Washington deve “assumir a responsabilidade pelos atos” do juiz Thomas Griesa em favor dos fundos abutres ao exigir o pagamento imediato de US$ 1,3 bilhões.

JUSTIÇA, PAZ E LIBERDADE PARA A PALESTINA

As centrais sindicais também condenaram de forma contundente os ataques de Israel contra o território palestino, bombardeios que já causaram a morte de mais de dois mil civis, grande parte crianças que se encontravam em escolas, hospitais e inclusive no centro de refugiados da Organização das Nações Unidas (ONU).

Caracterizando as agressões como “vergonhoso ato de genocídio do povo palestino”, a Coordenadora fez um novo chamado à paz, “que deve passar necessariamente pelo reconhecimento de dois Estados independentes, Israel e Palestina, com Jerusalém como capital compartilhada, conforme as resoluções das Nações Unidas”. Nosso compromisso, destaca a nota das centrais, “é respaldar uma causa que é justa. Parar uma invasão que é criminosa. Denunciar com nome e sobrenome os interesses que se movem por detrás desta invasão”.

“Frente à declaração dos presidentes dos Estados membros do Mercosul, a qual compartilhamos, exigimos a urgente suspensão do Tratado de Livre Comércio do Mercosul com Israel”, enfatiza o documento da Coordenadora, recordando que este é um tratado subscrito em 2010, e que tem de ser “denunciado de imediato”.

“Frente ao genocídio que está vivendo o povo palestino”, as centrais do Cone Sul reafirmaram o seu compromisso com a campanha mundial de boicote, desinvestimento e sanções contra Israel.

VISITAS À CGT E À CTA

No final da tarde e à noite, João Felício e Antônio Lisboa também se reuniram com lideranças da Central Geral dos Trabalhadores (CGT) da Argentina e da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA). Nos encontros, João Felicio agradeceu o apoio recebido para sua eleição à presidência da CSI e reafirmou o seu compromisso de realizar uma gestão profundamente democrática, sintonizada com as demandas da base. Como novo secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa resgatou os fortes vínculos que unem as centrais da região - desde a ação comum para a derrota da Alca, até a construção de projetos anti-neoliberais – projetando um novo período de intensas mobilizações para impedir qualquer retrocesso nas condições de vida e trabalho. 


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