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12 de Março de 2014 às 09:46

A Copa não é do governo. A Copa é do Brasil, é dos trabalhadores


Em entrevista exclusiva à CUT, ministro do Esporte destaca os 3,6 milhões empregos gerados pelo evento, garante 90% das obras de mobilidade e diz que minoria não "perdoa Lula por ter trazido a Copa"

 

Escrito por: Vanilda Oliveira - CUT NACIONAL

 

Alagoano de nascimento, paulistano por opção e eleição e palmeirense por paixão, o deputado Aldo Rebelo, aos 58 anos, já passou por seis mandatos e presidiu a Câmara Federal, mas hoje enfrenta provação maior que a de um juiz de futebol em sua primeira final, e na várzea. Ministro do Esporte, o também escritor e jornalista tem sob sua responsabilidade a defesa da Copa do Mundo de Futebol, uma megaprodução de interesse e repercussão mundial - pelo porte e cifras que movimenta -cobiçada por dezenas de países e vista por mais de um bilhão de pessoas em todo o Planeta.

Embora a Copa seja um evento privado, nas mãos da todo-poderosa FIFA, e com várias matrizes de responsabilidade, é sobre o costado do Governo Federal que tem recaído a maior parte das cobranças e críticas à sua realização no Brasil. Mais precisamente sobre as costas do ministro Aldo Rebelo, apesar de o certame, na esfera do governo, ter acompanhamento “multidisciplinar” e envolver o carimbo e ação de vários ministérios.Nem o fato de os brasileiros esperarem há 53 anos para ver mais uma Copa em solo verde e amarelo e, assim, vingar a tragédia do Maracanã, tem minimizado a tarefa de quem zela pelo evento em nome do governo. Em 2007, o então presidente Lula viu, pessoalmente em Zurique, o anúncio oficial de que o Brasil sediaria a Copa do Mundo em 2014. Recebeu a taça das mãos de Joseph Blatter, presidente da FIFA, “e nunca foi perdoado por isso”, na opinião de Aldo Rebelo.

É a essa luta de classes, a esse ódio ao Lula, o primeiro operário a chegar à Presidência da República e a fincar o Brasil no mapa, que o ministro do Esporte atribui parte da avalanche de notícias ruins, desinformação proposital, críticas sem fundamento e até alguns protestos, no que por vezes aparenta ser uma campanha contra a Copa para atingir o governo federal e as forças progressistas. “Há uma minoria que age por razões políticas e ideológicas. Uma minoria, e vamos dizer a verdade, que não perdoou o fato de a Copa do Mundo ter sido trazida para o Brasil pelo Lula. Isso é parte da agenda anti-Lula, que continua. Esse homem não vai ser perdoado nunca. Ele trouxe a Copa, trouxe a Olimpíada - os dois maiores eventos do Planeta. A China planeja levar uma Copa para lá daqui a 40 anos. A França organiza-se e faz um esforço de Estado enorme para sediar a Olimpíada em 2024”. E conquistamos os dois eventos seguidos”, explica o ministro.

Aldo Rebelo também não tem mais perdão do que Lula e vem sendo carimbado de “ufanista” e “nacionalista” pela chamada grande mídia por conta da sua defesa apaixonada e incondicional da Copa do Mundo no Brasil. Quem o ‘ataca’ cai na armadilha de uma das máximas do jornalismo sobre o que é mais notícia: o cachorro morder o homem ou o homem morder o cachorro?

Ingenuidade, despreparo, oposição, luta de classes ou má-fé de quem ‘carimba’ o ministro ser chamado de ufanista é óbvio, como é previsível que ele defenda a Copa no Brasil. Notícia seria se ele criticasse a realização do maior evento do futebol mundial em terras brasileiras.

Aldo Rebelo, no entanto, não se limita a ‘ufanar’ a Copa. Afiado, mostra com números, dados, informações e exemplos, à disposição de todos, como, quando e porquê a Copa será importante para o Brasil, à sua economia, cultura, turismo, desenvolvimento esportivo, para os investimentos estrangeiros e para a classe trabalhadora. O legado é verdadeiro, segundo ele, que admite a confusao de informações imposta ao povo.

Aldo garante que nᆪo tem evento, canteiros de obras e condições de trabalho mais fiscalizados e controlados do que os da Copa. Diz que mais de 90% das obras de mobilidade urbana estarão concluídas antes do campeonato acabar, em julho. Destaca que tais obras não foram feitas por causa da Copa e que serão um legado para as cidades-sede e todos os brasileiros e brasileiras, assim como as arenas multiuso, onde o gramado, com o tempo, se transformará em mero detalhe, assim como os jogos de futebol.

Lojas, bares, feiras, congressos, exposições, atividades esportivas e populares e até casamentos serão realizados nesses novos espaços, a exemplo do que acontece no na arena de Wembley, em Londres, onde são realizados somente oito jogos por ano, segundo Aldo. No restante do tempo, o que mais a população  faz no lendário estádio londrino é beber muita cerveja.

Abaixo, a entrevista que o ministro concedeu ao Portal da CUT Nacional, na segunda-feira (10), realizada, a pedido da reportagem, na sede da Central, onde foi recebido pelos presidentes da CUT Nacional, Vagner Freitas, e estadual São Paulo, Adi dos Santos Lima.

 

CUT Nacional – O sr. tem dito que um dos mais importantes legados da Copa do Mundo para o Brasil é a geração de 3,6 milhões de empregos, número apontado por uma consultoria de mercado (veja mais no link 1 no final da reportagem) no documento “Brasil Sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo. Este número é oficial, é o que vale? O governo federal tem este mesmo número?

Ministro do Esporte, Aldo Rebelo – Esse dado integra documento elaborado em conjunto pela consultoria norte-americana Ernst & Young e a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. É um estudo de mercado e não foi encomendado pelo governo federal nem realizado a nosso pedido. Foi feito para criar referências ao mercado. Além desse número, há também referência ao crescimento do PIB, na qual eles calculam que o evento vai gerar um acréscimo ao PIB brasileiro de 0,4% ao ano até 2019. Há outros números relacionados com arrecadação tributária, investimentos públicos e privados e aponta que para cada um real de investimento público há a contrapartida de quase quatro reais de investimentos privados. O governo não fez um cálculo próprio sobre o número de empregos gerados, apenas trabalha com dados possíveis de serem recolhidos, como o da Apex, que na Copa das Confederações, em 2013, apontou mais de 900 empresas estrangeiras visitando o País durante o torneio.

 

 

"Posso afirmar que não há no Brasil nenhuma
atividade cujos empregos gerados estejam
sendo tão fiscalizados do ponto de vista
da correção como os da Copa do Mundo"

 

 

CUT Nacional – O sr. não é ministro do Trabalho, mas poderia falar se esses 3,6 milhões de novos postos gerados pelas obras e serviços da Copa do Mundo obedecem ao que é preconizado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) como trabalho decente? Existe a preocupação com o que acontece com o trabalhador nas obras da Copa?

Aldo Rebelo – Existe, sim, a preocupação do governo. Quando a Copa do Mundo veio para o Brasil (decisão foi anunciada em 30 de novembro de 2007), o presidente Lula pediu ao ministro-chefe da CGU Controladoria-Geral da União (Jorge Hage)que o dinheiro aplicado na Copa fosse o mais fiscalizado do País. O Tribunal de Contas da União destinou um ministro para cuidar exclusivamente da Copa do Mundo no Brasil e outro está a cargo exclusivo da Olimpíada. Nenhuma outra atividade no Brasil tem um ministro destacado com exclusividade para acompanhar e controlar um evento. Os empregos gerados pela Copa são os mais fiscalizados pelo TST (Tribunal Superior do Trabalho). Não conheço nenhuma atividade que tenha provocado a visita pessoal do presidente do TST, à época o ministro Oreste Dalazen, a todos os canteiros de obras de todos os estádios construídos para a Copa. Há um Grupo de Trabalho na OIT (Organização Internacional do Trabalho), da nossa companheira Laís Abramo(coordenadora do escritório do órgão no Brasil), que também acompanha as atividades da Copa. O que eu posso te afirmar é que não há no País nenhum evento cujos empregos gerados foram e estejam sendo tão fiscalizados do ponto de vista da correção, não só por parte do Poder Executivo, mas pelo Judiciário, Ministério Público, Ministério Público do Trabalho. As obras do Maracanã, por exemplo, têm o acompanhamento e controle de 12 órgãos, entre eles os Ministérios Públicos Federal e Estadual. Defensoria Pública, Tribunal de Contas, Delegacia do Trabalho e outros. Pela repercussão internacional desses eventos naturalmente a imprensa, o movimento sindical, a Federação Nacional dos Engenheiros e Arquitetos, todos acompanham. Nós achamos que isso é bom porque a Copa tem de ser um evento não só exemplar do ponto de vista do Esporte, mas da própria transparência das atividades nas obras em todo o País.

CUT Nacional – Ministro, todos esses números podem ser acessados nos portais do governo federal, do Ministério do Esporte, no site oficial da Copa 2014 (veja link 2, abaixo), portal da Transparência. Qualquer pessoa que fizer uma busca no Google encontrará esses e outros dados e também a matriz de responsabilidades da Copa. Quem quiser vai saber que que o dinheiro investido no evento não vem somente dos cofres públicos, mas de várias matrizes como Confederação Brasileira de Futebol, construtoras, iniciativa privada, bancos.  Mas o que tem prevalecido é um senso comum e informações divulgadas pela chamada ‘grande mídia’' que destacam notícias sobre protestos, corrupção, desvios, desmandos e tudo isso é quase sempre colocado nas costas do governo federal. Tem como mudar essa percepção?  Por que há esse clima pesado e com tanta desinformação em torno de um evento desejado por quase todos os países?

Ministro Aldo Rebelo - Há um principio que foi tornado lei em comunicação citado pelo “Príncipe da Comunicação”, o nazista Joseph Goebbels, de que “uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”. Alguns órgãos da mídia, infelizmente, acham que isso pode valer para a Copa no Brasil. Acho que não porque não há mil mentiras que repetidas dez mil vezes passem a valer por uma verdade. A Copa é um evento disputado por todo o Mundo. Todos os países desejam sediar um evento como este, como a Olimpíada. Vou citar um caso, o do Japão, que venceu a disputa para sediar a Olimpíada de 2020. O jornal ‘Folha de S.Paulo’fez um  editorial  publicado em 10 de setembro de 2013, leia integra no  link 3, abaixo) que,em resumo, dizia que o significado da Olimpíada para o Japão e que cumpria dois grandes objetivos: o primeiro, a retomada do crescimento de uma economia que há décadas está estagnada e o segundo, que o Japão irá retomar um protagonismo geopolítico na Ásia que vem recebendo sombra muito grande da China.  Ou seja, no jornal Folha de S.Paulo, para o Japão uma Olimpíada é fator de desenvolvimento econômico e de projeção de poder geopolítico, mas para nós, Brasil, segundo o mesmo jornal, a Copa, a Olimpíada, representam só um desperdício de dinheiro público, uma fonte de escândalo. Como é que nós podemos aceitar uma coisa dessas?

CUT Nacional – Mas é que isso foi e tem sido disseminado, que está na mídia, na cabeça de boa parte da sociedade.

Aldo Rebelo - A Copa se mantém porque é um evento que, por si só, tem muita força, muito prestigio, que carrega a fantasia do povo. Todo mundo sonha em ver no seu País as principais seleções do mundo. Quem não quer ver aqui no País as seleções do Brasil, Espanha, Itália, Alemanha, Rússia, Argentina, Uruguai, Inglaterra e tantas outras? É um evento que tem muita força.

CUT Nacional– Então o pior inimigo da Copa do Mundo no Brasil, neste momento, é a desinformação crítica divulgada por parte dos chamados ‘grandes meios de comunicação’?

Aldo Rebelo – As pessoas estão buscando outras fontes de informação. O próprio UOL (que é do grupo Folha) teve de publicar as razões para ser a favor da Copa (reportagem ‘Sete argumentos econômicos para defender a Copa do Mundo no Brasil’íntegra no link4).  É porque essas razões, esses argumentos existem e, naturalmente, se não houver um mínimo de contrapartida à desinformação os próprios veículos de comunicação acabarão perdendo credibilidade. Eles vão ser obrigados a fazer um contraponto à campanha negativa que fizeram antes.

CUT Nacional –Então, o sr. acredita que a mídia e o ‘time do contra’ estão começando a voltar atrás na avalanche de críticas que vêm fazendo a tudo que se relaciona à Copa no Brasil?

Aldo Rebelo -A copa do Mundo mais do que a Olimpíada é um evento privado.  O governo federal está investindo é em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), obras de mobilidade urbana já previstas antes da Copa. Nenhuma delas vai ser levada por nenhuma seleção de futebol; nenhum viaduto, nem universidades, nem aeroportos serão levados do Brasil após o evento. A única coisa que poderiam levar é a Taça de campeão e isso não vai acontecer porque essa vai ficar aqui. Não tem dinheiro do Orçamento da União nas obras da Copa. Mas dirão que tem renúncia fiscal. E tem sim, em matéria-prima para construir os estádios. Mas renúncia fiscal é uma política que se pratica em função do interesse público. O Estado brasileiro, o Poder Público faz renúncia fiscal do papel jornal, por exemplo, para obter como benefício mais acesso da população à leitura de um jornal que custe menos. Quando o governo faz renúncia fiscal no setor automobilístico é em troca de empregos, de maior competitividade da indústria. Com os estádios, a renúncia serviu para modernizar a infraestrutura esportiva do nosso País, que é uma necessidade. Não estão sendo construídos estádios só para a Copa.


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