Nesta sexta-feira, 13 de setembro, completam-se 11 anos da morte de Luiz Gushiken. "Nós comungávamos uma certeza: a de que a emancipação dos trabalhadores e das trabalhadoras do Brasil exigia o fim da ditadura militar, o combate às desigualdades e a construção de um novo modelo de desenvolvimento. E essa aproximação de ideais e de visões de mundo entrelaçou nossas vidas e nossa atuação política", contou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos 67 autores do livro “A Nova Ordem - Luiz Gushiken”, organizado e publicado ano passado por Fernanda Otero.
Na mesma obra, o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Gilmar Carneiro, lembrou do papel fundamental de Gushiken no cenário político nacional: “Seu brilhante desempenho na Assembleia Nacional Constituinte o credenciou para comandar a campanha de Lula em 1989 à Presidência da República. Foi uma eleição emocionante e Lula foi brilhante ao demonstrar sua imensa capacidade de liderança e articulação política. Foi para o segundo turno e faltou muito pouco para ser eleito. Gushiken coordenou a campanha de uma Frente Ampla e um movimento de massa vigoroso”, resumiu.
O depoimento do jurista Adacir Reis complementa esse papel de Gushiken, ao lembrar que o político foi "um dos estrategistas" da campanha presidencial de 2002. "No governo Lula I, no auge do poder, o então ministro Gushiken, fazendo parte do chamado 'núcleo duro' do palácio presidencial, encontrava tempo para sair das questões imediatas da política e especular sobre a viabilidade do ser humano como espécie", completou.
O olhar analítico de Gushiken alcançou os dias atuais. É o que revela o documento que escreveu em 1994, com o nome “Uma nova ordem mundial: o esgotamento do Estado Nacional”, e que inspirou o título do livro em sua homenagem.
“Em realidade, tudo indica que o mundo entrou numa nova fase perigosamente crítica, povoada de uma profusão de eventos catastróficos, imprevisíveis, desequilibradores e de impressionante velocidade. Há graves indicadores de que caminhamos celeremente para uma grande desagregação de caráter caótico e cataclísmico, sem qualquer rumo definido”, analisou o ex-ministro no artigo escrito há 20 anos. “Neste final do século XX tudo parece ser imprevisível, principalmente os grandes acontecimentos políticos e sociais, de que é exemplo notável o desmoronamento do império soviético. E tudo parece ser fugaz”, completou na época, prevendo os sentimentos dos dias atuais.
Para o dirigente, o esgotamento do Estado nacional estava na raiz do caos compartilhado pela humanidade hoje. "O Estado nacional exauriu suas forças intrínsecas responsáveis pelo atual estágio de civilização, e os princípios básicos que foram determinantes em sua evolução histórica, qual sejam, a Soberania Nacional e a Autodeterminação, sofreram tão profunda relativização, que hoje faz-se necessário repensá-los", observou.
Como saída para o impasse, Gushiken apontou para a construção de uma nova democracia, de princípios globais. Afinal, se as crises provocadas pelo capitalismo são globalizadas, a superação das mesmas será possível somente com a atuação globalizada. Mas, para isso, é preciso a reconstrução da democracia.
“Hoje a imagem da democracia está associada a uma representação em relação aos parlamentares: a imagem da corrupção. Isso não pode continuar. A democracia representativa terá que fazer uma espécie de ‘haraquiri’ [ritual suicida japonês reservado à classe guerreira] nela mesma: uma profunda Reforma Política”, avaliou Luiz Gushiken. “A democracia direta é muito importante, mas sem relação com as instituições políticas, pode ser um perigo para a própria democracia. A democracia direta não pode ser confundida com manipulação. Há um grande jogo político a serviço da manipulação”, completou, prevendo, mais uma vez, fenômenos enfrentados hoje, não apenas no Brasil, mas no mundo, com personagens de extrema-direita ganhando espaço cada vez maior nos debates políticos “a serviço da manipulação”.
Nascido em 1950, o nipo-brasileiro iniciou sua vida política ainda na universidade, enquanto cursava Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV), nos anos 1970. Época em que também se tornou bancário, atuando no Banespa por mais de duas décadas, quando ingressou no movimento sindical.
Gushiken foi presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região na época de uma das maiores greves da histórica da categoria, em 1985, quando as bancárias e bancários conquistaram importantes benefícios, como o vale-refeição e o auxílio-creche/babá.
"Ele presidiu o sindicato num momento difícil, quando a diretoria foi inclusive deposta", relembra a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e também vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira. "Gushiken vinha também de uma trajetória de luta pela redemocratização do Brasil, que começava a sair da ditadura militar, na defesa dos direitos da categoria e dos trabalhadores em geral", completou a dirigente.
Na década de 1980, Luiz Gushiken participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) e da CUT, tendo presidido o partido nacionalmente entre 1988 e 1990. Sua reconhecida atuação política o levou a três mandatos consecutivos como deputado federal entre 1987 e 1999.
Em 2003, no primeiro mandato de Lula, foi nomeado como ministro da Secretaria de Comunicação federal, chefiando a pasta até 2005. Cerca de dez anos mais tarde, em 13 de setembro de 2013, faleceu aos 63 anos em decorrência de um câncer no estômago que tratava desde 2002.