Após quase um ano com a taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) em 13,75%, a expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), inicie o ciclo de redução, a partir do encontro que começa nesta terça (1°) e termina na quarta (2).
São vários os fatores que pressionam o BC para a queda da Selic: cobrança pelos movimentos sociais, pela indústria e pelo governo, diante do cenário de desaceleração da atividade econômica, aperto monetário e juro real (taxa Selic descontada a inflação) bem acima do nível neutro adotado pela própria entidade monetária, de 4,5%.
Essa também será a primeira reunião com a participação de Gabriel Galípolo e Aílton Aquino, os primeiros diretores indicados pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Copom, que podem ajudar a formar maioria pela redução da Selic no colegiado, composto por nove membros, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que, em caso de empate, tem direito ao “voto de minerva”.
A maior dúvida que paira sobre o encontro é, na verdade, o tamanho do corte: se de 0,25% ou 0,50%. Nos últimos dias, o ministro Haddad voltou a defender o corte maior. “No começo do ano, a pergunta era se o juro ia cair. Depois, passou a ser quando o juro ia cair. E, agora, quanto o juro vai cair”, disse o ministro em coletiva realizada na última sexta-feira (28), completando que existe “muito espaço” para um corte de 0,5 ponto percentual (p.p.) na Selic.
“Ao manter a taxa Selic elevada por tanto tempo, que é muito mais do que quase um ano (esse é só o período que manteve no patamar de 13,75%), o Banco Central prejudicou a economia brasileira. Isso porque juros altos aumentam a dívida do governo nos juros pagos com os títulos públicos, dinheiro que poderia ser utilizado para expandir infraestrutura e para ser investido em saúde e educação. Os juros altos também prejudicam as famílias e as empresas, porque o crédito e o financiamento ficam mais caros. Famílias e empresas endividadas consomem e investem menos, e com isso há menos geração de emprego”, explicou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada recentemente pelo IBGE, mostra um recuo da taxa de desemprego de 8,8% para 8%, no segundo trimestre do ano. “Essa redução, tímida, seria ainda maior, não fosse a política monetária praticada pelo BC, que boicota a economia e, consequentemente, a geração de emprego”, continuou Juvandia, lembrando que, em fevereiro, a Contraf-CUT enviou à entidade um ofício em que cobrou medidas para garantir o pleno emprego e o crescimento econômico no país. “No ofício, ao qual não obtivemos resposta até hoje, nós lembramos que o Banco Central também tem a obrigação sobre o nível de emprego e o estado da economia no país”, completou.
Não só no Brasil, como no mundo, a popularidade de um governante está atrelada ao desempenho da economia: se os níveis de geração de emprego vão bem, maior a aprovação do presidente.
Lula assumiu seu terceiro mandato em meio ao maior choque de juros, em quase 20 anos, promovido pelo BC. De janeiro de 2021 até setembro de 2022, a entidade iniciou um movimento acelerado de aumento da taxa básica, que passou de 2% para 13,75% ao ano – percentual mantido até a última reunião do Copom, nos dias 20 e 21 de junho.
“É importante destacar que quanto maior a Selic, mais elevada a remuneração de quem compra títulos públicos, e os maiores credores da dívida pública no Brasil, hoje, são as instituições financeiras. O que sobra para a população no geral, são os efeitos perversos da Selic alta, que é um crescimento da economia travado e, consequentemente menor nível de emprego e da renda”, pontuou Juvandia.
Em manifesto divulgado em junho, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou o patamar da Selic que, em 13,75%, descontado o custo da inflação, faz com que o Brasil siga com o maior nível de juro real do mundo, em torno de 9%. Segundo a entidade, os juros praticados pelo BC “estão acima do necessário para combater a inflação e impõe riscos à economia”.
Diante de tanta pressão e críticas quanto à política monetária do BC, surge a pergunta de qual seria, então, a taxa Selic adequada para promover a economia, sem que a inflação saia do controle.
Apesar de nenhum economista apoiar a ideia de que exista um número mágico, há uma indicação do próprio BC que, no último relatório de inflação, aponta para uma taxa de juros neutra (também chamada de taxa de juros de equilíbrio, que é aquela que não acelera nem desacelera a inflação) de 4,5%. Portanto, com a expectativa do IPCA em 4,84% para 2023, a taxa Selic deveria estar num patamar de 9,56% para atingir a taxa neutra, o que corresponde a um valor de cerca de 4,19 p.p. abaixo dos atuais 13,75%.
“É fato que Roberto Campos não tem mais como justificar a manutenção da Selic em 13,75%, assim como não tem justificativa para mantê-la na casa de dois dígitos. Por isso, vamos continuar pressionando o BC para reduzir a Selic, independentemente da decisão do Copom nesta semana”, disse o secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, lembrando que, desde fevereiro, a categoria bancária realiza protestos contra os juros altos e se juntou aos demais movimentos sociais e centrais sindicais na Jornada de mobilização contra a política monetária do BC, organizada desde junho.
“A população não é ignorante e entende o quanto a política de juros altos afeta a vida de todos nós”, completou Juvandia Moreira, se referindo a pesquisa do Datafolha, divulgada ainda em abril, que revelou que 80% dos entrevistados concordam com a pressão que o presidente Lula (PT) faz ao BC pela redução da Selic.
Fonte: Contraf-CUT