Juros altos fazem a economia travar. Em 13,75% ao ano, a taxa básica de juros (Selic), que é definida pelo Banco Central (BC), dá ao Brasil o indigesto título de país com os juros reais mais altos do mundo, da ordem de 7,5% ao ano.
Nesses patamares, os juros causam danos sistemáticos à economia e podem levá-la à estagnação, o que agravaria o quadro social brasileiro, que já soma 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.
A necessidade de reversão dessa situação tem unido sindicatos, setor empresarial, economistas e até o mercado financeiro, num verdadeiro consenso nacional, em defesa da redução dos juros brasileiros.
“Nós queremos a economia forte, gerando emprego e renda para todos os trabalhadores. Manter os juros altos é sabotagem”, declarou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da CUT, Juvandia Moreira.
Os estragos alcançam toda a cadeia produtiva. Só no primeiro bimestre deste ano, por exemplo, 195 empresas pediram falência ou concordata, número 60% maior do que no mesmo período de 2022.
Conforme avaliação de especialistas, em 2023 esse número deverá ser em média 50% maior do que em 2022, o que totalizaria mais de 1.200 pedidos de recuperação judicial ao longo do ano.
A presidenta da Contraf-CUT lembra que esses são os efeitos nocivos de uma Selic tão alta. “Quando não há financiamento acessível para a produção, empresas começam a quebrar e o nível de emprego a cair”, observou.
Um conjunto de 295 empresas de capital aberto, que negociam ações na Bolsa de Valores, tiveram queda de 17% no lucro líquido em 2022. Esse grupo não inclui gigantes, como Petrobras, Brasken, Vale e CSN.
Por outro lado, suas despesas financeiras, em especial para pagar juros, saltaram 50% no período. Ao mesmo tempo, enquanto suas vendas subiram 19%, os custos de produção ficaram cerca de 22% mais altos.
A queda no lucro líquido foi mais acentuada nos setores essenciais para estimular a produção, como energia elétrica, siderurgia e metalurgia, alimentos processados, telecomunicações, mineração e agropecuária.
O movimento sindical encampou a defesa dos juros baixos e tem organizado protestos por taxas civilizadas, que garantam o crescimento econômico, empregos e renda.
Grandes atos foram promovidos, em fevereiro e março, pelas centrais CUT, Força, CTB, UGT, CSB, NCST, CSP Conlutas, Intersindical e A Pública, e pelos movimentos Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular.
A Contraf-CUT, federações e sindicatos do ramo financeiro também se mobilizaram em todo o país, participaram da organização dos protestos e promoveram ações nas redes sociais, com a hashtag #JurosBaixosJá.
Confira, amanhã, o segundo texto da série, sobre o tamanho da crise de crédito que afeta o sistema produtivo do Brasil.
Fonte: Contraf-CUT