O sistema financeiro brasileiro, embora represente uma parte essencial da economia, está longe de refletir a diversidade étnica do país. Dados alarmantes revelam uma disparidade significativa entre a composição racial da população e a representatividade no setor bancário, destacando a persistência do racismo estrutural no ambiente profissional.
Você, bancário ou bancária, sabe qual a visibilidade das pessoas negras no sistema financeiro? Que cor você vê entre os seus colegas de agência bancária?
Antes de respondermos a essas perguntas é preciso saber a situação atual do Brasil quando falamos em cor da pele. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que 56,1% dos brasileiros se declararam como negros ou pardos. Quando voltamos os olhos para o mundo trabalho, negros e negras representavam 54,9% da força de trabalho no país.
Essa representação não se traduz no sistema financeiro, onde apenas 23,6% dos bancários são negros, totalizando cerca de 107 mil trabalhadores em todo o país. Esse descompasso é ainda mais evidente quando se observa que a parcela de brancos e brancas nesse setor é de expressivos 72,6%.
Não bastasse a disparidade nos números de trabalhadores bancários, as barreiras são ainda maiores no sistema financeiro quando setrata de ascensão profissional. Negros e negras ocupam apenas 4,8% dos cargos de diretoria nas instituições financeiras.
“O cenário atual, com apenas 23,6% de negros e negras na categoria bancária, é inaceitável. Estamos comprometidos em romper com essas barreiras e promover uma verdadeira inclusão e representatividade no setor. Por isso, o Dia da Consciência Negra é tão importante e muito mais do que uma celebração; é um chamado à ação contra o racismo estrutural que permeia nossa sociedade, refletindo de maneira gritante no ambiente de trabalho, especialmente no setor financeiro”, destaca Neide Rodrigues, presidenta do Sindicato dos Bancários de Campo Grande-MS e Região.
Quem não conhece essa realidade pode supor que esses números são força do acaso, mera causalidade. Entretanto, o que há de fato no sistema financeiro é um forte reflexo de como o mundo do trabalho trata de forma desigual as pessoas negras. Os empregados pretos de instituições financeiras têm um rendimento médio 27,3% menor do que seus colegas brancos e, assim como no restante da sociedade, as mulheres negras são ainda mais penalizadas. A remuneração média das mulheres negras é, em média, 40,6% inferior à remuneração dos bancários brancos do sexo masculino.
As informações de sustentabilidade com recorte racial divulgadas pelo Santander, de 2022, ajudam a entender essa discrepância salarial: nos cargos de diretoria, 93,2% são brancos e apenas 2,6% são negros e 11,1% estão em cargos gerencial. Trabalhadores negros estão mais presentes em cargos operacionais, sendo 41,3% do total de trabalhadores nesta posição.
O Itaú também reproduz a política excludente da população negra. Segundo os dados do relatório de sustentabilidade do banco de 2022, 27,4% dos trabalhadores se autodeclaram negros, e apenas 16,6% ocupam cargos de gestão (contra 79,6% de brancos em cargos de gestão).
Dados do Relatório Integrado de 2022 mostram que dos 88.381 funcionários do Bradesco, 28% são negros. Em cargos de gestão, os negros representam 24,3%.
No Banco Central, por exemplo, a inserção de negros ainda é baixa: apenas 15,3% dos trabalhadores atuais se declaram pretos e pardos. E, somente neste ano de 2023, foi nomeado o primeiro diretor negro nos 59 anos de história da instituição. As informações foram repassadas pelo economista e servidor do Banco Central há 28 anos, Rodrigo Monteiro, durante o VII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro.
“A população negra, à medida que os cargos vão subindo na hierarquia, é muito pequena ainda a nossa participação. Nos Conselhos de Administração, por exemplo, a presença de negros é de menos de 5%”, disse Monteiro.
Diante desse cenário desafiador, os dirigentes sindicais do movimento bancário aprovaram medidas concretas durante o VII Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro. Entre elas estão:
Criação de um protocolo de intenções entre o Ministério de Igualdade Racial, Ministério da Educação e Cultura e bancos públicos: visa promover a inclusão de bolsistas do Prouni no programa de estágios.
Proposta na mesa de negociação com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos): reserva de 30% das cotas raciais para contratação de empregados em bancos privados e 30% das cotas raciais nos cargos de confiança dos bancos privados.
Protocolo de intenções entre o Ministério da Igualdade Racial e bancos públicos: busca promover a reserva de 30% para cotas raciais nos cargos de confiança dos bancos públicos, atendendo ao Decreto 11.443/2023.
“Essas propostas, se implementadas, podem representar um passo significativo na correção das disparidades raciais no sistema financeiro brasileiro. A luta pela igualdade de oportunidades e representatividade continua, e reiteramos nosso compromisso com a categoria em transformar esse cenário e construir um ambiente mais inclusivo e equitativo”, conclui a presidenta do SEEBCG-MS, Neide Rodrigues.
Por: Comunicação do SEEBCG-MS (com informações do IBGE e Contraf)