O presidente da República e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) disse, em entrevista ao portal Metrópoles, que não viu “nada contundente” nos depoimentos de dezenas de mulheres que acusaram Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, de assédio sexual.
“Não poderíamos esperar nada de diferente desse governo, que usa os empregados apenas para pagar os benefícios, trabalhando sem parar até aos finais de semana. Mas, quando estes mesmos trabalhadores apresentam qualquer reclamação, são tidos como mentirosos, e suas denúncias classificadas como irrelevantes, ou sem sentido”, criticou o dirigente da Confederação nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rafael de Castro. “E o mais grave é que estes empregados, que cumprem rigorosa e eficazmente suas tarefas, são também classificados como vagabundos por esse mesmo governo que utiliza o banco e o trabalho destes bancários para finalidades político-eleitorais”, completou.
Para a secretária de Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes, é revoltante que os depoimentos de várias mulheres sejam desconsiderados para que seja valorizada a fala e a posição de apenas um homem. “A maioria das mulheres já sofreu violência sexual ou moral, ou conhece pelo menos uma vítima. Infelizmente é uma questão cultural que está cristalizada na sociedade brasileira”, disse. “É preciso que haja responsabilização do criminoso, pois a falta de punição desencoraja as vítimas de denunciarem. Ao contrário, as que denunciam sofrem nova violência institucional, com piadas, discriminação e até demissões. Isso não pode continuar”, completou.
A representante eleita pelos empregados para os representarem no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, se manifestou em seu perfil no Twitter sobre a declaração do presidente da República. Para ela, “o desrespeito do presidente do país às mulheres é perverso”. Rita disse ainda que se o presidente da República não viu nada de contundente nas muitas denúncias de assédio sexual cometido contra as empregadas da Caixa pelo ex-presidente do banco, “a justiça e a eleição trarão a contundência em breve”.
Caixa inerte
Além da desconsideração feita por Bolsonaro, Rafael de Castro também criticou a postura da atual direção da Caixa. “A Daniella (Marques, presidente da Caixa) entrou falando que faria uma apuração rápida e que as punições seriam rigorosas. Infelizmente, o que parece é que se trata de um discurso da boca pra fora, apenas para abafar as denúncias e minimizar os prejuízos à imagem do candidato à reeleição, pois até agora, passados quase quatro meses, nenhuma denúncia formal foi feita contra Pedro Guimarães”, disse. “Ou vai acabar em pizza, ou ela está segurando a divulgação das apurações para depois do dia 30 de outubro”, completou.
Assédio sexual é crime!
O presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sergio Takemoto, lembra que, no Brasil, o assédio sexual é crime, definido no artigo 216-A do Código Penal, que prevê a pena de detenção de um a dois anos. “Não se pode ‘passar a mão na cabeça’ somente porque se trata de um ex-presidente do banco. Se é culpado, deve responder na Justiça comum pelo que fez, uma vez que o assédio sexual é um crime com pena prevista no Código Penal”, disse.
Entenda o caso
Pedro Guimarães foi acusado de assédio sexual por várias empregadas da Caixa. A informação foi divulgada no dia 28 de junho de 2022 pelo site Metrópoles. Em poucos minutos a notícia ganhou repercussão nacional, em especial na Câmara dos Deputados, onde vários parlamentares pediram em plenário a demissão do executivo.
Segundo a reportagem, no fim de 2021, um grupo de empregadas, ligadas ao gabinete da presidência da Caixa, rompeu o silêncio com uma denúncia, ao Ministério Público Federal (MPF), de assédios sexuais que vinham sofrendo. Desde então, o MPF toca as investigações em sigilo. Cinco das vítimas falaram à reportagem citada sob anonimato.
Nos testemunhos, elas contam que foram abusadas com toques em partes íntimas sem consentimento, falas e abordagens inconvenientes e convites desrespeitosos, por parte do então presidente da entidade. A maior parte dos relatos está ligada a atividades do programa Caixa Mais Brasil, realizadas em todo o país. Pelo programa, desde 2019, ocorreram mais de 140 viagens, em que estavam Pedro Guimarães e equipe. Nesses eventos profissionais, todos ficavam no mesmo hotel, onde ocorriam os assédios.
No dia 29 de junho, Pedro Guimarães entregou ao presidente da República, Jair Bolsonaro, seu pedido de demissão da presidência da Caixa.
Fonte: Contraf-CUT