Como se não bastasse a lentidão do governo Bolsonaro em aprovar um auxílio emergencial que é ínfimo, pois não compra um terço da cesta básica, voltam a se repetir as cenas das filas quilométricas em frente às agências da Caixa. “Mais uma vez a desinformação é grande, e, como as pessoas estão ainda mais necessitadas, já estão se aglomerando, mesmo sem poder sacar o dinheiro em espécie. As agências viram foco de propagação do vírus e os empregados, que já estão esgotados, temem com razão os riscos a que estão submetidos, eles e os clientes”, critica Fabiana Uehara, coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE).
Para o presidente da Fenae, Sergio Takemoto, a situação de falta de planejamento e informação à população pela direção da Caixa volta a se repetir, como no pagamento do auxílio emergencial em 2020. Ele destaca também o empenho dos empregados que atuam na linha de frente. “Desde o início da pandemia os empregados estão se desdobrado porque dão o seu melhor diariamente, mas a direção da Caixa deve efetivamente respeitar os empregados da empresa e dos seus clientes. Os empregados estão com medo e a empresa está colocando todos em situação de risco. Mas é preciso exigir EPIs, vacina para todos, protocolos seguros, porque as vidas, todas elas, importam”, afirma ele.
Uma empregada do Distrito Federal, que não será identificada, ressalta que os relatos de trabalho excessivo se multiplicam em várias agências: “A agência onde eu trabalho é de órgão público, o que é um bônus, e mesmo assim está enchendo muito, pois dois empregados estão com Covid, outros quatro em home office porque fazem parte do grupo de risco, o que é justo, e somente dois atendendo. Enquanto isso as metas estão só subindo, houve reprocessamento e tem item que mais que dobrou, ou seja, num cenário desse, pagando auxílio emergencial, bem complicado mesmo ter que pensar em cumprimento de metas a qualquer custo”, ressalta ela.
“O que precisamos, mais uma vez, são de funcionários! Pois senão vamos ver repetir todas as dificuldades da primeira leva dos auxílios, que gerou filas desumanas, colocando clientes em esperas absurdas de horas no sol, no frio, com fome, com sede, com vontade de ir ao banheiro e sem condições de sair para não perder o lugar na fila” desabafa um caixa que atende em uma pequena agência na capital federal, e que prefere não se identificar.
“Na minha agência sou o único caixa executivo, quando meu colega entra de férias ou precisa se ausentar por qualquer motivo, me sobra acumular as duas funções sem direito a cobertura para almoço ou pausas de dez minutos (coisa que nenhum caixa consegue realizar). Na minha ausência o tesoureiro precisa se desdobrar de igual modo e em iguais condições. Essas situações não são raras, ao contrário, mais comuns do que podemos imaginar. O porquê disso tudo é óbvio, a falta de funcionários e a evidente demora na contratação e elaboração de novos concursos”, critica ele.
Um gerente de pessoa física numa grande agência em São Paulo, e que também prefere não se identificar, ressalta: “O prazer que tempos de cumprir o nosso papel social é único, mas é triste saber que a direção da empresa prefere direcionar sua estrutura para vender seguro, bater metas, ações e até incentivar o próprio empregado a participar da privatização da nossa empresa. Se em uma agência entram 100 clientes, a direção quer que apenas um empregado dê conta de 80% disso e os outros empregados deverão ficar apartados, fazendo negócios para cumprir meta”, lamenta.
A coordenadora da CEE ressalta que o movimento sindical continua a lutar pela vacina já para os bancários e que na Caixa a luta continua também por mais contratações. “Entendemos também que é preciso redobrar os cuidados com os protocolos neste momento, e o foco deve ser o atendimento e não o cumprimento de metas”, avalia.
Fonte: Fenae