BRB TALKS, 23 de julho de 2021:
– Uma outra pergunta tratava de equidade… Se a gente tem uma política específica de diversidade, equidade. Pessoal… Eu tenho visto por toda a nossa atuação e tal, o BRB bastante diferente. Tenho até brincado muito na diretoria que é comum até se a gente contar aqui né, a gente tem Cris, Kellen, Hellen, Eugênia, a Hayline que tá lá substituindo o Fabiano, ou seja, a gente já tem do ponto de vista até de equidade de gênero uma distribuição bastante alta. A gente continua acompanhando, a gente continua procurando desenvolver, fortalecer. A gente fez aquele Programa de Lideranças Femininas.
[…] Agora, é muito comum eu entrar lá na sala da diretoria e só ter eu e muitas vezes o Hugo (“de bendito fruto”) de homem. Mas, assim, eu acho que, de novo, essa política vai cada vez…
(Dario já tá fora. O Dario não… O Dario tá na diversidade. Risadas e outras falas inaudíveis)
– Pô Dario, foi mal, tornei público. É porque o Dario nunca tá lá. O Dario tá andando de um lado para o outro. (É que ele não tá lá.)
[…] Assim, a gente, eu não ouço denúncias, não vejo situações de discriminação de nenhuma natureza. Eu tô citando o caso de gênero, mas a gente pode falar aí de religião, pode falar de cor, pode falar de gênero meio com um espectro bastante amplo. Não vejo nenhum tipo de discriminação. Assim, se tiver algum caso, se tiver alguma situação, a gente está sempre aberto para discutir, e criar políticas novas, mas eu acho que a dinâmica direta do mérito, do treinamento, tem feito com que todo mundo consiga o seu espaço. A gente, inclusive, ganhou o selo Pró Equidade de Gênero e Raça há duas semanas do Governo Federal. A gente soltou matéria interna e tal tratando disso. Então, nesse momento, eu não sinto necessidade de nenhuma política afirmativa mais forte. Acho que a dinâmica tem caminhado bastante bem.
O trecho acima é uma transcrição do ocorrido durante a live BRB Talks, que ocorreu no Instagram destinado à comunicação com os funcionários do banco, onde das 9h às 12h o presidente respondeu perguntas enviadas pelos funcionários através desta mesma rede social. Apesar do saldo positivo do evento como um todo, esta fala do presidente Paulo Henrique Costa repercutiu muito negativamente junto a boa parte do corpo funcional.
Há uma série de problemas na fala, no entanto, o mais gritante é com certeza a piada LGBTfóbica na citação ao diretor Dario, feita por alguns presentes no palco. Uma demonstração prática de que a necessidade de políticas educativas e afirmativas são necessárias dentro do Banco de Brasília.
“É de conhecimento comum que o famoso ‘armário’ é um ambiente frio, escuro, solitário e uma condição que vai e vem ao longo de toda a vida profissional de cada um de nós da comunidade LGBTQIAP+. Sentimos, com razão, o medo de sofrermos alguma violência dos nossos colegas e gestores, principalmente a verbal, cada vez que chegamos a uma nova unidade ou cada vez que um novo gestor chega. Passamos nossas carreiras inteiras saindo e voltando para o armário. É a realidade de todos nós. Não existe graça em uma piada sobre isso. O que existe é a naturalização da discriminação”, desabafa o secretário de Combate à Discriminação do Sindicato, Edson Ivo.
A afirmação de que o presidente não ouve denúncias, não vê situações de discriminação de nenhuma natureza, não é uma evidência de que estas situações não existem. É apenas uma evidência de que a atenção do corpo diretivo do banco não está voltada à diversidade. Trata-se de um reflexo direto do comportamento comum na sociedade brasileira contemporânea de não procurar conhecer o assunto e eventualmente fazer o uso de uma expressão genérica como “falar de gênero meio com um espectro bastante amplo”. E ignora, por isso, casos como o de uma funcionária que havia sido empossada em um cargo de chefia por meio de um processo seletivo da instituição, seguindo a citada “dinâmica direta do mérito” e teve sua função retirada imediatamente após voltar de sua licença maternidade. Ignora as evidentes necessidades de adaptação não só de várias unidades, como do sistema e da comunicação do banco aos padrões atuais de acessibilidade. Esquece do ímpeto da diretoria de recorrer à decisão da justiça que determinava a concessão de uma licença maternidade a uma empregada na intenção de conceder uma licença paternidade sob a justificativa de que não havia sido ela a gestante e sim sua companheira. E esquece também que um curso destinado a gerentes mulheres, legado da gestão anterior, passou por baixo do radar da gestão atual contendo instruções sobre depilação e aplicação de perfume entre as pernas. Não se vê o que está onde não se olha.
Sobre o Selo Pró-Equidade de Gênero e Raça paira uma controvérsia à parte. O Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça foi uma iniciativa do Governo Federal através da Secretaria de Políticas para as Mulheres do extinto Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos. O selo, em questão, foi concedido ao fim de cinco edições, a primeira em 2005. A sexta edição começou em 2015 e terminou de fato em 2018. Ainda na gestão anterior do Banco de Brasília. Sabemos que no governo do presidente Jair Messias Bolsonaro, não só o ministério responsável pela iniciativa deixou de existir como teve suas funções absorvidas pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sob a égide da pastora Damares Alves. O cronograma do programa, ainda disponível no site do MDH, consta com várias fases desde a inscrição a partir de 20 de agosto de 2015 até a cerimônia de entrega do Selo Pró-Equidade de Gênero e Raça 6ª Edição programada para junho de 2018. Ao pesquisar no mesmo site pelo selo em questão e ordenar a pesquisa por data, as duas últimas notícias são a da entrega recente e o comunicado de 27/12/2018 reproduzido a seguir:
“A Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres (SNPM), do Ministério dos Direitos Humanos, juntamente com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a ONU Mulheres e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), comunica que as atividades referentes à finalização da 6ª Edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça serão realizadas no próximo exercício, juntamente com a solenidade de concessão do Selo Pró-Equidade Gênero e Raça”.
Após a análise dos Relatórios Finais das organizações participantes e a indicação de quais receberiam o Selo, foi convocada uma reunião do Comitê Técnico Institucional do Programa, no qual participam diversos órgãos do governo federal e entidades representativas. Nesse encontro, esse colegiado entendeu como indispensável a realização de algumas diligências prévias à validação da concessão do Selo.
Esta Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres reforça o compromisso e protagonismo na luta pela igualdade de gênero e raça no mundo do trabalho e informa que, em 2019, essas atividades seriam retomadas para que “um número cada vez maior de organizações possa reforçar seu compromisso social em combater diferentes formas de desigualdades e opressões. Em breve, novas datas serão comunicadas”.
O resultado já existia no fim de 2018. É apenas mais uma pra coleção de realizações de governos anteriores “entregues” pelo governo Bolsonaro. Uma tentativa desesperada de desacelerar sua vertiginosa queda de popularidade.
Felizmente, dentro da complexidade da gestão do Banco de Brasília, há uma iniciativa para a valorização da diversidade na instituição. Uma iniciativa para criar políticas afirmativas mais fortes. Saiba mais aqui.
“As posições mais altas da gestão podem causar a miopia sobre as histórias dos indivíduos que fazem os resultados acontecerem com seu trabalho árduo e suas lágrimas engolidas. Porém o próprio presidente se diz aberto a receber as denúncias e reclamações sobre situações de discriminação. Talvez seja a hora de começarmos a levar diretamente ao topo da hierarquia estas situações”, sugere o secretário de Assuntos Parlamentares do Sindicato e bancário do BRB, Ronaldo Lustosa.
Da Redação