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10 de Novembro de 2020 às 20:17

STF dá 48 horas para Anvisa explicar suspensão da CoronaVac. ‘País de maricas’, diz Bolsonaro


RBA
Eduardo Maretti

São Paulo – O Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apresente explicações aprofundadas sobre o atual estágio de testes em que se encontra a CoronaVac. A decisão, proferida pelo Ricardo Lewandowski, acolhe a pedido de cinco partidos (PT, PCdoB, Psol, Rede e Cidadania). As legendas recorreram ao STF depois de a Anvisa anunciar, ontem (9), a suspensão dos testes da CoronaVac, realizados pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac. Diante das reações negativas à conduta da agência e do governo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a hostilizar os críticos e se referiu ao Brasil como “país de maricas”.

Hoje (10), o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, afirmou que a decisão de suspender os testes da vacina foi técnica, atribuída a um “evento adverso grave”. A morte de um voluntário que participava dos testes foi a justificativa para a interrupção. Porém, o homem teria cometido suicídio.

A politização em torno das pesquisas com vacinas tem levado o Brasil a passar vexame internacional. E levou o presidente Jair Bolsonaro a reabrir sua temporada de baixarias e desprezo diante da crise sanitária. “Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer”, afirmou, em cerimônia no Palácio do Planalto. “Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas”, disse Bolsonaro.

O despacho de Lewandowski determina que a Anvisa se explique não apenas especificamente sobre a suspensão da CoronaVac. Mas que apresente relatórios detalhados sobre todos os estudos e experimentos relacionados ao estágio de aprovação dessa e de todas as demais vacinas contra a covid-19.

Convocação

Psol e Rede Sustentabilidade entraram, nesta terça-feira (10), com requerimentos para solicitar a convocação do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, ao Congresso Nacional. O objetivo é que ele explique a suspensão dos testes da vacina chinesa CoronaVac. O PT, por meio do deputado Alexandre Padilha (SP), solicitou informações também ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a suspensão dos testes. Além deles, o líder do PSB na Câmara. Alessandro Molon (RJ), quer que a convocação seja estendida ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

“É estarrecedor que o presidente da República venha a público nas redes sociais comemorar a morte de um voluntário e um suposto fracasso de uma vacina destinada a enfrentar uma pandemia tão terrível. É também inaceitável que a Anvisa se preste ao papel de fazer parte deste jogo político baixo”, afirmou Molon.

O caso provocou uma campanha negacionista na internet, mas também uma reação de setores que defendem a continuidade dos testes e a vacina da farmacêutica chinesa, desenvolvida com transferência de tecnologia ao Brasil. Jornais internacionais também destacaram a notícia, que mais uma vez coloca o Brasil como vergonha mundial.

Bolsonaro e o ‘país de maricas’ no mundo

“O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, provocou indignação ao se regozijar com a suspensão dos testes clínicos da vacina contra o coronavírus chinesa após a morte de um voluntário”, destacou o britânico The Guardian. Ao comentar a suspensão dos testes, o mandatário brasileiro declarou que era “outra vitória de Jair Bolsonaro”.

Segundo a Associated Press,  a decisão da Anvisa parece “ter sido motivada não pela ciência, mas pela hostilidade política do líder ao país e ao governador de São Paulo, João Doria, “envolvido na produção da vacina candidata”.

“Os organizadores dos estudos ficaram surpresos, argumentando que havia ocorrido uma morte, mas não tinha relação com a vacina”, informou a agência Reutersem sua edição britânica.

“Brasil interrompe teste de vacina chinesa. Mas a culpa foi da ciência ou da política?”, questiona o norte-americano The New York Times. “O governo brasileiro ofereceu poucas explicações sobre o motivo pelo qual parou abruptamente os testes de uma promissora vacina que milhares de pessoas já receberam”, acrescentou o diário americano.

Indignação

Para Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, a reação de Bolsonaro é motivo de impeachment. “É gravíssimo, especialmente quando falamos de um homem público, que deveria ter isso como valor maior da sua gestão proteger o povo brasileiro dessa pandemia”, disse. “A vacina vai levar Bolsonaro ao caminho do impeachment. Ele não pode continuar a prejudicar o povo brasileiro, celebrando a morte”, declarou, ao programa DCM Ao Meio-Dia.

Entre lideranças políticas e nas redes sociais de modo geral, o fato é mais um de uma série de abominações provocadas por Bolsonaro.

“Vamos esclarecer uma coisa: Bolsonaro não é louco”, escreveu o deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), no Twitter. “Proibir vacina, tirar o auxílio emergencial e defender tortura não é loucura. É coisa de quem não tem caráter mesmo.”

“Bolsonaro e os diretores da Anvisa têm que responder por crime de responsabilidade por interromperem o desenvolvimento da vacina no Brasil”, anotou Paulo Teixeira (PT-SP).

“Eu não posso deixar de mostrar minha mais profunda indignação diante das declarações do presidente Bolsonaro ao declarar-se vencedor por uma suposição, que uma vacina (salvadora de vidas) fracassou e uma pessoa supostamente morreu”, afirmou o senador Tasso Jereissati, em mensagem enviada num grupo de WhatsApp, segundo o Valor Econômico.

Ignomínia: até quando?

Para o jornalista Bob Fernandes, “com a guerra à vacina Bolsonaro desvia atenções do Flávio 01 nas páginas policiais. E da derrota de Trump, colada em Bolsonaro como símbolo do que os EUA têm de pior”.

O professor de Geografia Felipe Cabañas da Silva questiona: “Cansaço, exaustão, esgotamento, revolta… Cada dia somos vítimas de uma ignomínia nova… E tão cansados que estamos deixando ele brincar com as nossas vidas e nosso futuro… Até quando?”.


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