Partidos de oposição anunciaram que vão entrar com representação no Ministério Público Federal (MPF) pedindo investigação de sobre empresa offshore milionária do ministro da Economia Paulo Guedes em paraíso fiscal. Também o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, manteve durante mais de um ano enquanto presidia o BC. Também presidentes de seis bancos que atuam no Brasil e dezenas de empresários, entre eles alguns denunciados na CPI da Covid, mantêm empresas clandestinas fora do país. Eles devem à União R$ 16 bilhões em impostos sonegados.
As denúncias estão em reportagens que começaram a ser divulgadas neste domingo 3, como parte do Pandora Papers, projeto do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) que reúne mais de 600 repórteres de 151 veículos em 117 países e territórios. O Pandora Papers investigou milhões de documentos de paraísos fiscais em todo o mundo. No Brasil, participaram da apuração Agência Pública, revista piauí, Poder360 e Metrópoles.
Segundo os documentos, Guedes criou a Dreadnoughts International Group em 2014, nas Ilhas Virgens Britânicas. Naquele ano possuía pelo menos 8 milhões de dólares investidos na companhia, registrada em seu nome e nos de sua mulher, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, e filha, Paula Drumond Guedes. Esse número subiu para 9,5 milhões de dólares no ano seguinte, segundo os documentos.
Os valores foram multiplicados com as constantes subidas do valor do dólar na gestão Bolsonaro/Guedes/Campos.
Para o líder da Oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), trata-se de um “escândalo gravíssimo”.
“Viola frontalmente o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal e, portanto, deveria levar à demissão do Ministro. Nós, da Oposição, vamos propor a convocação do Ministro e do presidente do Banco Central para prestar esclarecimentos à Câmara dos Deputados e entrar com representação no Ministério Público Federal (primeira instância) por improbidade administrativa contra ambos.”
O líder da bancada do PT na Câmara, deputado Bohn Gass (PT-RS), também se manifestou. Por meio de sua conta no Twitter, disse que “não é coincidência. Paulo Guedes, ministro da Economia, Campos Neto, presidente do Banco Central, têm off shores em paraíso fiscal do Caribe”. E chamou atenção para o fato de empresários apoiadores de Jair Bolsonaro, Otávio Fakhoury e Marcos Bellizia, investigados por financiar a propagação de notícias falsas, também lucrem com essas empresas abertas em outros países sem pagar impostos.
A rigor, manter offshore em paraísos fiscais por si só não é ilegal, desde que declarada à Receita Federal, criá-la nem sempre atende a propósitos republicanos, sobretudo quando a empresa se localiza em paraísos fiscais, onde a tributação é baixa ou até mesmo nula.
Os documento do Pandora Papers revela que pelo menos deis banqueiros brasileiros mantêm empresas sigilosas em paraísos fiscais. Entre eles estão Luiz Carlos Trabuco Cappi, hoje presidente do Conselho de Administração do Bradesco e presidente por 9 anos do segundo maior banco brasileiro.
A herdeira do Bradesco e presidente da fundação do banco, Denise Aguiar, também tem 3 offshores nesse mesmo paraíso fiscal. Outros 4 executivos ou ex-dirigentes do banco são donos de empresas nas Ilhas Virgens Britânicas. São eles:
• Sérgio Rial, diretor-executivo do Santander. Ele trabalhou no exterior por mais de 20 anos. É dessa época a abertura da Celtic Associates Ltd nas Ilhas Virgens Britânicas. O patrimônio da empresa é de pelo menos US$ 10 milhões. Rial diz que a sua offshore foi declarada à Receita Federal.
• Cassiano Ricardo Scarpelli, vice-presidente do banco, criou a Monte Gennaro International para investir em títulos internacionais, como “time deposit”, “bonds” e “bills”, como declarou na ficha que enviou para as autoridades das Ilhas Virgens Britânicas;...
• Eurico Ramos Fabri, diretor de Crédito do Bradesco, abriu no Caribe a Vincenza Inc. com a mulher e uma filha;...
• Samuel Monteiro dos Santos Junior, foi vice-presidente da holding Bradesco Seguro e Previdência e hoje integra o Conselho de Administração do banco e o do grupo Fleury. É dono da Idaho Holding Company com a mulher e 2 filhos;...
• Antonio Bornia, que presidiu o Bradesco na Argentina e integrou o Conselho de Administração até 2015, tem a Anfamar & Sons Limited com 2 filhos....
Procurados pelos jornalistas que investigam o Pandora Papers, nenhum desses banqueiros respondeu por que eles preferem investir fora do Brasil se são donos de bancos ou dirigentes no país.
Fonte: Fetec-CUT/CN, com informações da RBA, Agência Pública, revista Piauí, Poder 360 e Metrópoles.