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São Paulo – Após quase três anos afirmando que fraudes impediram sua vitória ainda no primeiro turno das eleições de 2018, Jair Bolsonaro realizou nova live nas redes sociais nesta quinta-feira (29) com o anúncio de que apresentaria as provas das suas denúncias. No entanto, ele apenas repetiu teorias que circulam há anos na internet e que já foram desmentidas anteriormente para justificar sua defesa da mudança do atual sistema eleitoral brasileiro para o voto impresso, com uma proposta de emenda em discussão na Câmara.
Além disso, Bolsonaro mudou o discurso e finalmente admitiu que não pode comprovar se as eleições foram ou não fraudadas. “Não temos prova”, disse o presidente. O voto impresso virou a principal bandeira do atual governo, principalmente desde a libertação e o restabelecimento dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possivelmente seu adversário nas eleições do ano que vem.
Na transmissão de hoje, Bolsonaro exibiu apenas o que chamou de “indícios” de que teriam sido cometidas fraudes contra o sistema eleitoral brasileiro seria fraudulento. “Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios”, defendeu. Porém, enquanto expunha mais uma vez suas suposições e mentiras, o conteúdo apresentado foi rebatido simultaneamente pelo Tribunal Superior Eleitoral, também nas redes sociais.
Inicialmente, Bolsonaro disse que a apuração do TSE é feita de forma secreta e deveria ser pública. A Corte Eleitoral desmentiu, explicando que a própria urna eletrônica faz a apuração automática, em processo público e auditável. E que os dados, criptografados, são transmitidos ao TSE para checagem de autenticidade.
O TSE também rebateu o presidente de que somente Brasil, Bangladesh e Butão realizam eleições apenas com urnas eletrônicas, sem a impressão posterior do voto. O tribunal informou que, na verdade, 46 países usam urnas eletrônicas em suas eleições e, desses, 16 adotam máquinas de votação eletrônica de gravação direta, sem qualquer interação com cédulas de papel.
Em seguida, Bolsonaro apresentou um vídeo em que um homem, apresentado como programador, afirma que é possível fraudar a contagem da urna eletrônica com facilidade. Para isso, bastaria inserir padrões de registro de voto no código-fonte a cada intervalo determinado de votos. Esse homem disse que é possível, por exemplo, que o voto em um candidato seja contado para outro ou contabilizado como nulo. Também alega que é possível programar a urna para exibir a foto de um candidato que se deseje favorecer com a digitação de apenas um número.
O TSE respondeu que não reconhece o simulador utilizado no vídeo e informa que as acusações já foram desmentidas. Segundo o tribunal, a urna não tem possibilidade de “autocompletar” o voto, nem creditar a um o voto que iria para outro.
Para tentar comprovar que houve fraudes nas eleições, Bolsonaro também apresentou vídeos que circularam em 2018, com depoimentos de violação no registro dos votos. Esse material já foi diversas vezes desmentido. montagens, às vezes grosseiras, ou captam declarações de confusão do próprio eleitor. O TSE reafirmou que que as queixas apresentadas jamais foram comprovadas.
Bolsonaro exibiu ainda reportagens antigas que relatavam supostas fraudes em eleições ocorridas em 2004, em Guarulhos (SP), e em 2008, em Caxias (MA). O primeiro caso diz respeito a um candidato a vereador pelo PRTB, Antônio D’Agostino, que não foi eleito e se queixou de fraude. O TSE diz que as alegações se basearam em informações falsas e que os dados utilizados já foram esclarecidos pelo Repositório de Dados Eleitorais.
O segundo caso está relacionado a depoimentos de dois técnicos, contratados por uma determinada coligação, que disseram ter encontrado indícios de fraude. Porém, uma perícia da Polícia Federal verificou os equipamentos e não identificou quaisquer sinais de violação.
De acordo com a Corte, há uma série de ferramentas para garantir a integridade das urnas, entre elas: auditorias pré e pós-eleição, auditoria dos códigos-fonte, lacração dos sistemas, assinatura digital e publicação do resumo digital (hash), tabela de correspondência, lacres físicos, identificação biométrica do eleitor, votação paralela, oficialização de sistemas, Registro Digital do Voto (RDV), log da urna eletrônica e outras.
Por fim, em mais um ataque ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, Bolsonaro disse, em uma acusação gravíssima, que o magistrado “não quer eleição, ele quer impor um nome”. O “nome” seria o de Lula, favorito para o pleito de 2022.
Ainda pela manhã, Barroso já havia declarado que Bolsonaro “não aceita a democracia”. “O discurso de que ‘se eu perder houve fraude’ é um discurso de quem não aceita a democracia. Porque a alternância no poder é um pressuposto dos regimes democráticos”, afirmou o ministro durante inauguração da nova sede do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC).
Com a popularidade em queda nas pesquisas, Bolsonaro tem usado a defesa do voto impresso e a acusação de fraude para justificar eventual derrota e ameaçar o TSE com uma reação de apoiadores organizados. Em uma série de declarações neste ano, o presidente sinaliza que seus eleitores não permitiriam um revés na votação.
Recentemente, o jornal O Estado de S. Paulo veiculou reportagem que relatou pressão do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, contra a Câmara dos Deputados, com a ameaça de que a próxima eleição pode ser suspensa caso os parlamentares não aprovem o voto impresso.