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8 de Dezembro de 2020 às 19:11

Atrasado na vacinação e sem rigor no isolamento, Brasil tem mais 842 mortos por covid-19 em 24 horasRBA


RBA
Gabriel Valery

São Paulo – O Brasil está atrasado em relação à vacinação contra a covid-19. Interferência política e negacionismo por parte do governo de Jair Bolsonaro, atrapalham os avanços da imunização no país. A sentença é do epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana. Ele compara a situação brasileira à de países como Inglaterra e Rússia, que já estão em pleno processo de vacinação em massa, além de outros que já instituíram um planejamento concreto para a proteção de suas populações. Caso de Alemanha, França, Espanha e a vizinha Argentina, entre outros.

“A ciência finalmente parece ter encontrado uma solução satisfatória para o enfrentamento efetivo da pandemia de covid-19, embora saibamos que estamos um pouco distantes do fim dessa tragédia. No entanto, o Brasil segue afundado na primeira onda da covid-19, a qual não parece ter data para acabar“, disse à RBA.

Enquanto a Europa mostrou eficiência no controle de uma segunda onda de covid-19 que atingiu o continente nos últimos meses, o Brasil sequer conseguiu deixar a primeira. Já são 178.159 mortos e 6.674.999 infectados desde o início da pandemia, em março. Nas últimas 24 horas, foram 842 vítimas e 51.088 contaminados. As informações são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em boletim divulgado no início da noite de hoje (8). O Brasil vive um momento de crescimento da epidemia, enquanto não avança na elaboração de planos para a vacinação.

Jesem lembra que o país testa muito pouco e comete o crime de desperdiçar exames já comprados. Isso provoca ampla subnotificação. São mais de 70 mil mortos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) não especificadas neste ano. Muitas delas possivelmente causadas por covid-19. “O pesadelo está se prolongando e infectando brasileiros aos milhões; causando adoecimento grave de outras dezenas de milhares; deixando sequelas neurológicas, psicológicas, cardíacas, respiratórias, sociais, econômicas, de ensino-aprendizagem em milhões de estudantes; e, o pior, já matou mais de 200 mil brasileiros, entre mortes diretas e indiretas”, alerta.

As vacinas

O governo federal segue em sua postura adotada durante toda a pandemia. Nega a gravidade da maior crise sanitária da humanidade em mais de 100 anos e rejeita a ciência. Bolsonaro, pessoalmente, chega a fazer campanha contra vacinas e afirma que não vai tomar. Os ataques são mais agressivos contra a CoronaVac, vacina em elaboração pelo Instituto Butantã, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac.

Embora ainda falte a conclusão do estudo final de eficácia (previsto para o dia 15), o grande problema apontado é a necessidade de aprovação da CoronaVac pela Anvisa. Questiona-se se órgão, ligado ao governo federal, pode dificultar a liberação do imunizante. Governadores e prefeitos, além da oposição no Legislativo, já se organizam para forçar o governo a não causar problemas.

Brasil às escuras

Jesem Orellana vê a situação brasileira como “muito preocupante”. Tanto em relação à morosidade do processo de vacinação, como no avanço da pandemia que volta a apresentar acentuada curva de crescimento de casos e mortes.

Ainda sobre o processo de imunização, Jesem argumenta que “a esta altura do campeonato, deveríamos estar com a Anvisa profundamente envolvida no acompanhamento contínuo de ao menos três vacinas atualmente em processos finais de desenvolvimento e muito próxima de anunciar o registro emergencial de ao menos uma. Ninguém tem o direito, neste momento tão crítico, de esperar tanto pela vacina ideal ou pelo resultado ideal, especialmente com uma média móvel de óbitos se aproximando dos mil novamente”.

O cientista afirma à RBA que seria adequado um processo de planejamento para a vacinação, e lamenta o descaso com o eficiente e histórico programa de imunização brasileiro. “Esta desarticulação nacional ameaça o atualmente Programa Nacional de Imunizações (PNI), o mesmo que por décadas foi considerado um dos melhores do planeta e, sem dúvida, apesar de tudo, ainda é um dos principais alicerces do também fragilizado e indispensável Sistema Único de Saúde (SUS).”


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