No 1º de Maio, a classe trabalhadora se mobiliza para exigir seus direitos em todo o mundo. A data nasceu na luta pela jornada de oito horas, marcada em 1886 por uma greve geral nos Estados Unidos, onde o trabalho chegava a 17 horas por dia.
Dias depois, em Chicago, ocorreram violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, com mortes dos dois lados. Sete operários líderes desse movimento, conhecido como Revolta de Haymarket, foram condenados à forca: Albert Parsons, Adolph Fischer, George Engel e August Spies (executados), Samuel Fielden e Michael Schwab (pena comutada para prisão perpétua) e Louis Lingg (cometeu suicídio antes da execução). Outro líder, Oscar Neebe, foi condenado a 15 anos de prisão (também suicidou-se na prisão).
Em protestos na mesma data, no ano de 1891, dez manifestantes foram mortos em Paris, fato que consolidou o Dia do Trabalhador internacionalmente. A França aprovou o turno de oito horas e decretou feriado no 1º de maio em 1919. A medida foi seguida por outros países. Os Estados Unidos não reconhecem a data até hoje, mas reduziram a jornada para oito horas em 1890.
O movimento dos trabalhadores ganhou impulso no Brasil no começo do século passado, com os imigrantes europeus, em especial italianos e espanhóis, que vieram trabalhar nas fábricas. Em 1917, com esse novo perfil da força de trabalho, aconteceu a primeira grande greve no país. Pressionado pelo operariado em franco crescimento, que cobrava garantias trabalhistas, em 1925, o então presidente Arthur Bernardes decretou feriado no Dia do Trabalhador.
Getúlio Vargas transformou a data em uma festa que celebrava o Estado Novo como protetor dos trabalhadores. Para suavizar a pressão social que continuava a crescer, Getúlio investiu numa política paternalista, que controlou os sindicatos, mas também trouxe garantias. Ele instituiu o salário mínimo em 1940, mas sua medida mais importante foi a Consolidação das Leis do Trabalho, a CLT, em 1943. Era a primeira vez que o trabalhador, de fato, conquistava proteção, com a legalização do turno de oito horas, férias, previdência e direitos específicos para a mulher e pessoas com monos de 18 anos, entre outros.
As conquistas duraram até 1964, quando a ditadura militar passou a massacrar os movimentos populares. Centenas de sindicatos sofreram intervenção e milhares de seus líderes foram cassados e presos. O regime, que assumiu a missão de favorecer o capital, extinguiu a reposição salarial pela inflação e proibiu manifestações de toda forma. Os sindicatos foram para as mãos de pelegos e o 1º de Maio passou a ser usado para homenagear o governo opressor, que torturava e matava opositores, e o patrão explorador, que não respeitava nenhum direito trabalhista. Mas, a resistência foi crescendo no seio da classe trabalhadora, que aos poucos retomou a luta por melhores condições de vida e pela democracia no país.
Na década de 1970, os sindicatos se tornam a mais importante força de resistência à ditadura, ao lado de estudantes e famílias que lutavam contra a carestia. Em 1977, surge o movimento que começaria a mudar o Brasil. Os metalúrgicos do ABC Paulista, sob a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, abrem a campanha salarial e exigem 34% de reajuste. Com organização, a categoria inicia as primeiras grandes manifestações no Brasil desde o golpe de 1964. Os protestos crescem e se tornam tão grandes que passam a ocorrer no Estádio de Vila Euclides, pois o sindicato tinha ficado pequeno para tanta gente.
O movimento atingiu o ápice em abril de 1980, com uma greve de 41 dias. A ditadura prendeu líderes sindicais, entre eles Lula, proibiu comemorações no Dia do Trabalhador e montou forte aparato repressivo em São Bernardo. No entanto, mais de 150 mil trabalhadores furaram o cerco e foram à praça da Matriz para acompanhar a missa. Em passeata, a multidão seguiu para o famoso estádio, onde se fez uma das mais belas manifestações populares na história do Brasil. Com vitória marcante, a classe trabalhadora fez a ditadura recuar e acelerou a volta da democracia no Brasil. Nesse mesmo ano, o Estádio de Vila Euclides passou a se chamar Estádio Primeiro de Maio.
Os anos 1980 foram marcados pelo fortalecimento da classe trabalhadora. Em 1983, contra novos arrochos, diversas categorias, como metalúrgicos, bancários, petroleiros, químicos, motoristas e vidreiros, passaram a exigir redução de jornada, 100% para horas extra, seguro desemprego, estabilidade e o fim da carestia. Nesse clima, é criada a Central Única dos Trabalhadores, a CUT. O poder de mobilização dos trabalhadores garantiu muitos direitos na Constituição de 1988. São exatamente esses direitos que vêm sendo pouco a pouco eliminados desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma.
Esse período do movimento sindical, concentrado no ABC Paulista, inspirou grandes produções artísticas. Entre as mais conhecidas, disponíveis em plataformas como o Youtube, estão os filmes Braços cruzados, máquinas paradas (1979), de Sergio Toledo Segall e Roberto Gervitz, e Linha de montagem (1981), de Renato Tapajós, além da clássica canção de Chico Buarque, também chamada “Linha de montagem” (1980).
O projeto do atual governo é destruir os sindicatos. Por isso, o desafio deste Primeiro de Maio é mostrar que somos fortes. Os trabalhadores do ramo financeiro estão na vanguarda sindical e são exemplo para outras categorias. Por isso, devemos nos juntar a toda classe trabalhadora, para aumentar a base de filiados, atraindo os jovens para a luta; garantir a contratação com carteira e a negociação coletiva, para defender o interesse de todos os segmentos da sociedade. O mundo produtivo está diferente, cada vez mais mecanizado e digital. O que não muda é que eles continuam a tirar dos trabalhadores para concentrar a riqueza nas mãos dos mais ricos. Por isso, mobilização e unidade tornaram-se palavra de ordem, para a classe trabalhadora reconquistar o protagonismo político e reconduzir o Brasil para o futuro que a gente quer.
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Fonte: Contraf-CUT