“O Brasil que queremos”. Este foi o título da análise de conjuntura, feita por Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que abriu o Encontro Nacional dos Trabalhadores do Bradesco, na manhã desta terça-feira (3), realizado em formato virtual. A segunda mesa do Encontro foi sobre saúde do trabalhador, especialmente durante a pandemia.
“Nós temos que discutir o Brasil que a gente quer, para pensar numa solução para este mundo que está tão doente. É importante falar do geral, para depois falarmos do específico. Olhando o geral para saber como vamos atuar por banco”, salientou Juvandia, que também é funcionária do Bradesco.
“Nós vivemos num momento muito difícil. É importante chamar atenção para essa financeirização da economia, a culpa do capital financeiro de tudo isso. Ela é a razão de todas as mazelas que estamos vivendo, de todas as mudanças que estamos vivendo dentro do banco. Isso impacta nossa vida o tempo todo”, afirmou a presidenta da Contraf-CUT. “No Brasil, nós passamos um golpe determinado por esses interesses, que queria nossas estatais, nossas riquezas, queriam criar o tal ambiente de negócios. E a presidenta Dilma não se focava nesses interesses, pois isso era necessário tirar o PT do poder, para cumprir a agenda ultraliberal e entreguista. Depois disso, com o discurso de anticorrupção, foi eleito um governo desumano, genocida.”
Ela explicou ainda que o capitalismo financeiro interfere diretamente também nos empregos bancários. “O que aconteceu no ano passado ficou claro isso. O Bradesco e o Itaú olharam para o Santander que estava com o índice de eficiência melhor de todos os bancos brasileiros. Este índice só importa o quanto se gasta para lucrar. Ou seja, é uma eficiente às custas de famílias inteiras, que perdem seus empregos. Ai o Bradesco foi lá e começou a demitir, em meio a uma pandemia”, lembrou. “Quando um banco respeita seus funcionários, suas famílias, as ações caem. Então esse capitalismo financeiro é um câncer para a sociedade. Aqui no Brasil é ainda pior. Aqui acionistas recebem dividendos e não pagam nada de impostos. Só existem dois países do mundo que fazem isso. O capitalismo financeiro dita regras cruéis”, lamentou.
Juvandia reiterou a importância da análise geral, para falar do específico. “Não dá para a gente reagir essas mudanças só pensando na mesa de negociação, seja com o Bradesco ou com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos). Essas mudanças são muito mais profundas, é uma mudança de sociedade. A gente precisa debater isso, nós somos 99% da população, nós temos muita força. E vou além, o papel do movimento sindical passa por discutir a população”, finalizou.
Magaly Fagundes, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Bradesco, concordou com a presidenta da Contraf-CUT. “É o desafio que está colocado para nós, no nosso próprio slogan a gente fala isso: “o que queremos do futuro é emprego, saúde e um Brasil melhor”. Por isso este evento é tão importante. Temos que sair deste dia consciente dos nossos desafios.”
Saúde do Trabalhador
“O tema de saúde sempre foi muito importante para o movimento sindical bancário. Com a pandemia, ganhou ainda mais importância”, afirmou na abertura da segunda mesa do Encontro do Bradesco o palestrante Mauro Salles, secretário de Saúde da Contrraf-CUT.
Ele lembrou que assim que a pandemia do coronavírus (Covid-19) foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o vírus tomou conta do Brasil, o Comando Nacional dos Bancários correu para negociar com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para proteger a categoria. “Conquistamos rodízio, metade da categoria em home office, garantia de emprego e alguns protocolos que foram extremamente importantes para garantir que a tragédia não fosse tão grande na categoria. Esses cuidados se mantêm, pois, a pandemia não acabou. Outro movimento que a gente fez, foi vacina para todos e prioridade para os bancários.”
O secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT revela que a pressão pela volta dos bancários vacinados já começou por parte dos bancos. “O acordo que tivemos com a Fenaban é que não haverá volta sem negociar os critérios, com um protocolo único mínimo de procedimento. Temos que continuar protegendo os trabalhadores de riscos à sua saúde.”
Outra preocupação apontada por Mauro Salles foi com os trabalhadores que ficaram com sequelas da Covid. “Sabemos que a maioria dos trabalhadores que tiveram Covid-19 tem sequela. Isso nos preocupa muito, tem que ser monitorado e os bancos têm responsabilidade. Imagine você trabalhar com excesso de sono, cansado, falta de memória, dificuldades de cognição. Isso vai atrapalhar seu desempenho, vai impedir de bater as metas”, afirmou ele antes de informar da parceria da Contraf-CUT com o Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp) para construir um corte especial e exclusivo para os bancários da pesquisa de possíveis sequelas e impactos causados pelo Coronavírus.
Nesse estudo, todos os bancários podem responder questionários online. Os detalhes da pesquisa estão descritos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que deve ser assinado para participar do estudo. Será garantido sigilo aos dados pessoais. “Nós temos que negociar com os bancos os direitos de tratamentos, cuidados especiais para esse tipo de trabalhador. Para subsidiar esse processo de negociação, estamos com essa pesquisa, que será muito importante para dar força às nossas reivindicações.”
O secretário lembrou que a pandemia acelerou e aprofundou alguns problemas antigos da categoria. “As metas, por exemplo, continuam gerando uma pressão muito forte durante a pandemia, mesmo nos trabalhadores em teletrabalho. Isso causa um impacto muito forte na saúde do trabalhador. O nível de afastamento de doenças psíquicas dos bancários já era muito acima das outras categorias, antes mesmo da pandemia. Isso piorou. Agora temos que retomar esse debate, para acabar com o assédio moral para o atingimento de meta. Outra coisa foi a Ler/ Dort que piorou também. O home office gerou muitas vezes o trabalho excessivo sem condições longe das ideais. Esses debates terão de voltar a pauta”, completou.
“São desafios muito importantes, eu acho que vamos continuar convivendo com a pandemia, vamos ter que continuar nos cuidando, cuidando dos colegas, além de continuar cuidados de outros problemas que tendem a aumentar. Por isso, mais do que nunca temos que ter a capacidade de entender a situação, para melhor negociar e estabelecer as estratégicas de enfrentamento sindical, para garantir melhores condições de trabalho para a nossa categoria”, finalizou Mauro Salles.
O Encontro dos Trabalhadores do Bradesco vai até as 17h.
Programação
- 11h – Segurança Bancária/ unidade de Negócio Elias Jordão, coordenador do Coletivo de Segurança Bancária da Contraf-CUT
- 12h – almoço
- 13h30 – Balanço do banco
- 14h20 – Teletrabalho – Magaly Fagundes, coordenadora da COE Bradesco
- 15h – Apresentação proposta dos encontros estaduais/regional
- 17h – Encerramento