O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deixou de receber R$ 20,4 bilhões em dividendos da Petrobras desde que vendeu suas ações da petroleira no início de 2020, durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). O valor é cerca de R$ 90% dos R$ 22,4 bilhões arrecadados pelo banco naquela que foi a maior oferta de ações da década no mercado brasileiro.
O cálculo sobre os dividendos foi feito pelo Observatório Social do Petróleo (OSP). Ele refere-se à participação nos lucros da Petrobras distribuídos no período fiscal que vai de 2019 até o primeiro trimestre de 2023. Os dividendos de 2019 foram pagos em 2020.
"Esse foi mais um péssimo negócio para o Estado", afirmou o economista Eric Gil Dantas, responsável pelo levantamento do OSP. "Com a venda dessas ações, banco deixou de ganhar praticamente o mesmo valor que recebeu na época da operação."
No total, o BNDES vendeu 760 mil ações da Petrobras a R$ 29,53 cada uma.
Após a venda, a Petrobras tornou-se a empresa que mais pagou dividendos no mundo. Isso ocorreu no primeiro trimestre de 2022. Em todo aquele ano, a Petrobras foi a segunda empresa que mais distribui lucros a acionistas. Os dados são da corretora gestora Janus Henderson.
"Isso é só mais um episódio que mostra como é ineficiente essa política liberal infantil. Se vende sem ter um motivo para isso", criticou Dantas. "Privatizar por privatizar mesmo que isso gere perda de arrecadação do Estado, que se aumente o preço dos combustíveis…"
Dantas citou o aumento dos combustíveis porque isso, segundo ele, é um efeito quase automático da privatização de refinarias da Petrobras. Compradores desses ativos têm elevado preços de gasolina, diesel e gás no mesmo dia em que assumem a operação. Isso já aconteceu na Bahia, no Amazonas e no Rio Grande do Norte.
Procurado pelo Brasil de Fato, o BNDES não se pronunciou sobre o assunto. À Folha de S.Paulo, o banco reconheceu que, caso não tivesse vendido suas ações da Petrobras, teria obtido lucro maior do que o registrado.
"Os dividendos [da Petrobras] respondem por parte considerável do lucro recente do BNDES e, caso o banco não tivesse se desfeito dos ativos, essa contribuição certamente teria sido maior", informou. "A estratégia da nova gestão do BNDES é a de manter a posição acionária como investidor da Petrobras e colaborar com a petrolífera para aumentar o investimento do setor de óleo e gás na transição para outras fontes de energia."
O BNDES ainda tem cerca de 8% de participação acionária na Petrobras.
Fonte: CUT