O Sindicato dos Bancários de Brasília convidou os funcionários do Banco do Brasil (BB) que atuam em agências e escritórios digitais para um importante bate-papo virtual. Em uma plenária, realizada na noite desta quarta-feira (1º), além de dialogarem sobre os anseios e as dificuldades vivenciadas neste modelo de agência, bancárias e bancários também discutiram teletrabalho, metas abusivas, precarização, adoecimento, assédio moral, sexual, discriminação entre outros pontos.
A reunião contou também com a presença da advogada Lais Lima, que fez uma apresentação da cartilha “Enfrentamento ao assédio moral, assédio sexual e discriminação no trabalho bancário”, lançada recentemente pelo Sindicato em parceria com a LBS Advogados.
Convidada para a atividade, a doutora em Psicologia Social Fernanda Sousa Duarte apresentou dados contidos no relatório anual da Clínica do Trabalho Bancário do Sindicato.
Fernanda destacou durante sua exposição que, no caso dos trabalhadores em agências e escritórios digitais, foi identificado o acentuamento de adoecimentos físicos e mentais. Segundo dados trazidos pela pesquisadora, 88% dos bancários demonstraram profunda insatisfação com o trabalho e outros 91%, vontade de sair. Sendo ainda que, dos afastamentos em agências digitais por motivos de saúde, 92% dos entrevistados acreditam que o adoecimento tem ligação direta com o trabalho.
“Os resultados mostraram que a reorganização do trabalho bancário intensificou problemas ao intensificar características como o aumento de metas e vigilância constante do ambiente de trabalho. Com isso, percebemos cada vez mais a desumanização desse modelo”, pontuou.
Já a diretora da Secretaria de Mulheres do Sindicato, Zezé Furtado, ressaltou que atualmente os trabalhadores vivenciam dificuldades ainda maiores com metas abusivas, diversos mecanismos de avaliação de desempenho e muitos outros problemas. Em contrapartida, os normativos não são suficientemente claros.
“O cenário, com as reformas trabalhista e da Previdência, as reestruturações e a própria pandemia, mudou a relação entre o trabalho bancário e a saúde mental. Há um aumento significativo dos diagnósticos mistos de depressão e ansiedade. Temos pela frente um grande desafio em defesa dos bancos públicos e do trabalho digno. Por isso, entender o foco do adoecimento é apenas o início, é preciso também acompanharmos de perto os locais de trabalho, relatar as dificuldades e fazer o embate por melhorias”, explicou Zezé Furtado.
A diretora da Fetec-CUT Centro Norte Aline Freire explicou que a desumanização pode contribuir para prejuízos em diversos âmbitos da organização do trabalho.
“A desumanização causa o afastamento entre o trabalho bancário e sua essência, os clientes. Este afastamento representa prejuízos nas relações entre bancários e clientes, uma vez que essa robotização pode contribuir para condutas inadequadas ou grosseiras por parte dos usuários, justamente por não reconhecer o trabalhador que está do outro lado como um ser humano. Além disso, o ambiente de trabalho vigiado constantemente e, consequentemente a autovigilância, é um fator que pode intensificar o adoecimento psíquico na categoria”, disse Aline.
Ao término do encontro, os participantes fizeram proposições sobre o tema. Entre outros pontos, as bancárias e os bancários foram unânimes no entendimento de que é fundamental esclarecimentos acerca das normas previstas nas agências e escritórios digitais, a proteção mútua e atenção à saúde entre colegas de trabalho, a realização de plenárias ampliadas com a categoria sobre o tema, combate às metas abusivas e, principalmente, o combate às práticas nocivas de assédio moral, sexual e discriminação nos ambientes de trabalho.
Leidiane Souza
Colaboração para o Seeb Brasília