Por Rodrigo Britto
O jornal O Globo publicou nesta quinta-feira (25) que o presidente Jair Bolsonaro vetou uma propaganda do Banco do Brasil protagonizada por jovens negros, tatuados, com cabelo cumprido e um visual pra lá de irreverente. Um estilo diferente (e até provocador) para aqueles que se encaixam na “forma bolsonarista”. De acordo com a reportagem, não foi informado o motivo de o presidente não ter gostado da peça publicitária. Mas, neste caso, a propaganda, direcionada para os jovens – público que o Banco do Brasil quer alcançar –, faz suscitar uma questão essencial: por que a diversidade incomoda tanto Bolsonaro?
Reconhecer a diversidade é ressaltar a importância de grupos segregados, bem como pautar e executar políticas públicas específicas para esses setores. É reconhecer que o Brasil é composto por negros e negras, por indígenas. É entender também que meninos e meninas usam as cores que quiserem. É pautar a autonomia da mulher sobre o próprio corpo, explorando-o da forma que elas bem entenderem. É, acima de tudo, prezar pela liberdade e pelos direitos sem impor padronizações estéticas e/ou culturais como fórmula de dominação de um povo.
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Mesmo sem a exposição do motivo pelo qual Bolsonaro não tenha gostado da propaganda do Banco do Brasil, é previsível a aversão do ultraliberal à peça. Os discursos inflamados de ódio contra quilombolas, indígenas, homossexuais e mulheres – principalmente as negras – são a comprovação de que diversidade, definitivamente, não é a praia de Bolsonaro. Ou dizer que “ter filho gay é falta de porrada”, por exemplo, demonstra engajamento e simpatia pelo tema da diversidade?
Para além disso, há ainda a forma como Bolsonaro concebe o Banco do Brasil, um banco do povo brasileiro. Não bastassem as investidas pesadas do comandante reformado do Exército para privatizar o banco – e entregá-lo de mãos beijadas ao capital estrangeiro –, agora, na lógica do presidente, nem mesmo autonomia para promover suas próprias campanhas o BB tem.
Dessa maneira, é fácil chegar à outra conclusão: para Bolsonaro, bancos devem estar totalmente desatrelados da promoção de qualquer política de desenvolvimento social, restando a ele o papel exclusivo de gerenciador de interesses de banqueiros.
Lamentável!
*Rodrigo Britto é funcionário do Banco do Brasil, presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília por duas gestões – 2007 à 2013 – e, atualmente, presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT Brasília