*Por Jacy Afonso
Desde 1982, em plena ditadura militar, quando foi unificada a data-base em 1º de setembro, todos os anos os bancários fazem importantes campanhas nacionais. Mas a atual campanha será diferente.
Primeiro, porque às vésperas da data-base aconteceu um golpe parlamentar no Brasil, que tem entre seus objetivos retirar direitos dos trabalhadores, desmontar a política externa soberana do país, importante na articulação desde o Mercosul até os Brics, e seguir a estratégia de Wall Street de negar a soberania do Brasil na formulação de sua política macroeconômica, segundo nos adverte o economista canadense Michel Chossudovsky.
E se Wall Street participou, fatalmente os bancos brasileiros têm os mesmos interesses, o que inclui expurgar nossos direitos.
Os bancários são a primeira grande categoria nacional que entra em greve de forma articulada após o golpe parlamentar. Referência para os trabalhadores, nos últimos 13 anos tivemos avanços importantes na categoria com a reposição da inflação e aumento real de salário, mediante realização de greves todos os anos.
Foram 20,8% de ganho real no salário e de 42,3% no piso, além de avanços importantes na PLR, na saúde e condições de trabalho, no combate ao assédio moral, na segurança e na igualdade de oportunidades.
Essas conquistas foram alcançadas durante os governos populares de Lula e Dilma, em forte contraposição ao período neoliberal do governo de FHC, quando tivemos 8 anos de política de abono com reajuste zero. E não fizemos nenhuma greve. Só para lembrar, a PLR do Banco do Brasil em 2001 foi de R$ 275 para o funcionalismo e mais de R$ 17 mil para os administradores. Na Caixa era ainda pior.
A grande maioria dos bancários e bancárias não conhece essa história porque entrou na categoria a partir do primeiro governo Lula. Portanto, não vivenciou o período nefasto do governo neoliberal de FHC.
E na primeira campanha nacional dos bancários pós-golpe, que aponta para a volta do neoliberalismo, os bancos já apresentam uma proposta extremamente ruim, que não repõe a inflação e retoma a política de abonos.
E tem uma questão para a qual precisamos ficar atentos. O governo usurpador quer corrigir a tabela do IR em apenas 5% para uma inflação de cerca de 9%. Com a proposta dos banqueiros de 6,5%, retirando essa perda de 4%, teríamos praticamente zero de reajuste. E ainda pagaríamos mais IR em função do abono.
O faturamento dos bancos nesse período permite atender nossas reivindicação, com aumento real. O abono não pode ser uma substituição da reposição da inflação ou do aumento real. Essa é uma questão importante que temos de ter claro nessa campanha nacional.
Em 2004, coincidentemente quando eu era presidente do Sindicato de Brasília, os bancários conquistaram a Convenção Coletiva Nacional para bancos públicos e privados, avançando na percepção de que, além de pertencermos a um banco, fazemos parte de uma categoria – não importa se o banco é público ou privado. E, acima disso, a consciência de que pertencemos a uma classe, a classe trabalhadora.
Somos bancários e temos uma vocação para a unidade nacional. E nesta campanha salarial os banqueiros farão de tudo para nos dividir, tentar quebrar nossa estratégia. Temos que ter muito cuidado. Em Brasília temos uma grande maioria de bancos públicos; mas sempre fizemos assembleias e greves conjuntas. E vamos continuar fazendo isso, porque essa é uma visão de classe, defendida pela CUT.
Outra questão muito importante: se torna necessário que nessa campanha nos juntemos com outras categorias que também estão sendo atacadas, como os funcionários da Petrobras e dos Correios, também estão em campanha salarial e podem ir à greve. Infelizmente, não conseguimos unificar os nossos calendários para que entrássemos unidos, de forma coletiva, na luta por nossas reivindicações.
Mas é importante que unifiquemos nossas mobilizações no dia 22 de setembro, Dia Nacional de Protestos e Paralisações de toda a classe trabalhadora, porque o governo golpista do Temer tem no Congresso Nacional uma estratégia de direitos e conquistas dos trabalhadores. Eles querem elevar o tempo da aposentadoria, a jornada de trabalho, flexibilizar as relações trabalho via projeto da terceirização, mudar a legislação para que o negociado se sobreponha ao legislado.
Os banqueiros, que juntamente com outros empresários financiam esses parlamentares, oferecem um abono para retirar avanços conquistados por intermédio da legislação e pelas negociações nas campanhas salariais. Abono não substitui direitos e conquistas.
Precisamos, ainda, fechar questão com a defesa dos bancos públicos, que estão sendo atacados no Congresso Nacional. O governo usurpador já deu sinais de que prosseguirá a política de privatizações da era FHC, que começou pelos bancos estaduais em antecedência à privatização das instituições federais.
Quero conclamar a todos os companheiros e companheiras, antigos e novos bancários/as, para construir a unidade nessa campanha. Vai ser uma greve difícil, com características diferentes, porque vamos enfrentar os banqueiros e o governo, juntos. Temos que ter muita coesão e não podemos fraquejar nesse momento importante; até porque seremos referência para outras categorias em suas próximas campanhas.
Portanto, teremos muita luta e exigência de muita unidade para enfrentar os banqueiros e não permitir que esse governo golpista retire direitos. Será um setembro de uma primavera de resistência, lutas e conquistas democráticas. Essa é a tarefa de nós, bancários, é a nossa tarefa enquanto classe trabalhadora sob a bandeira da CUT. A luta também é de todo o povo brasileiro contra o governo golpista e para o resgate da democracia.
Juntos, na luta, até a vitória.
Jacy Afonso de Melo, é Secretário de Formação da Fetec-CUT/CN