Francisco Alexandre (*)
Brasil 247
Como bem disse Tom Jobim, o Brasil não é país para amadores. Realmente não é, a cada dia o cidadão se depara com dificuldades e desafios para sobreviver. Desafios como o desemprego, violência, salário aviltante e, no último ano, um governo que mira sempre nos pobres como estes fossem a causa da miséria de que são vítimas.
Esta semana marcada pelas declarações do ministro da Fazenda, também banqueiro, chamando trabalhadores de parasitas e de que dólar deve subir para evitar que empregadas domésticas viagem ao exterior (leia-se pobres, pois esse é o sentido lato da fala), foi também o tempo da divulgação dos lucros dos bancos.
O sistema financeiro do país é perverso, ganha sempre. Nos últimos quatro anos, os ganhos dos três maiores bancos privados do país (Itaú, Bradesco e Santander) superaram R$ 260 bilhões, como mostra a tabela abaixo. Só em 2019 foram mais de R$ 81 bilhões. Quando o quesito é receita de serviços, o valor vai para as nuvens, com arrecadação de mais de R$ 440 bilhões nos quatro anos, dinheiro vindo das tarifas bancárias, anuidades de cartão de crédito, taxas de operações de crédito, pagamento de transferências e outros.
Com preços sempre mais altos, tornam-se fonte relevante dos bancos, ou seja, é a patuleia pagando taxas extorsivas, além dos juros abusivos, para compor os lucros dos banqueiros, os mesmos que se mantêm há séculos no andar de cima. O quadro mostra ainda que, enquanto a inflação no período foi de 17,6%, os ganhos líquidos dos bancos superaram 81% no mesmo período.
No quadro, o dado do Bolsa Família não está descolado nem fora do contexto. Serve para mostrar que o benefício pago para mais de 14 milhões de famílias, correspondente a aproximadamente 50 milhões de brasileiros, representa apenas 30% do que os três bancos ganharam em 2019, para aumentar ainda mais a riqueza de seus os proprietários, que são pouquíssimos.
O nosso país é mesmo desigual, qualquer dado que se avalie mostra a necessidade de políticas públicas para diminuir o fosso existentes entre pobres e ricos do país. Os resultados dos lucros dos bancos, mostrados a cada balanço, revelam como é distribuída a riqueza e ganhos no país, pois o lucro dos bancos leva ainda dinheiro dos juros de 40% da dívida pública do país, ou R$ 1,7 trilhão.
Por qualquer lupa que se olhe o Brasil, é fácil perceber que há um grupo que suga a nação há séculos. Representa 1% ou 2% dos brasileiros, são esses que se alimentam sempre dos recursos públicos do país com benefícios fiscais, financiamentos a custo baixo, benefícios tributários e um sem números de leis aprovadas para favorecer grandes empresários, enquanto para o povo sobra o congelamento do imposto de renda, fazendo com que cada vez mais brasileiros paguem impostos.
As profundas desigualdades e os mecanismos de favorecimento e apropriação de recursos do país pelos do poder econômico, permitem concluir que não são os trabalhadores, e muito menos as domésticas, a causa da crise do país. O ministro da Fazendo, ex-banqueiro e representante deles no governo, erra o alvo ao atacar o povo. Ele bem poderia olhar no espelho para saber quem são os parasitas.
(*) Francisco Alexandre é ex-diretor eleito de Administração da Previ