Por Manoel Façanha
Após quatro rodadas de negociações, os bancários aguardam neste dia 1º de agosto, durante a quinta jornada com a Fenaban, entidade patronal, uma proposta global que venha a atender as reivindicações da categoria nesta campanha salarial.
O setor produtivo que mais lucra no país é também um dos que mais corta postos de trabalho. Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), de janeiro de 2012 a junho de 2018, o setor bancário eliminou 57.045 postos de trabalho, o que representou, neste período, uma redução de 11,5% na categoria.
O Comando Nacional dos Bancários durante essa campanha salarial tem defendido o emprego como a principal bandeira de luta e diariamente apresenta à sociedade dados da rentabilidade do setor financeiro, que teve variação real positiva de 12% entre 2012 e 2017. Ou seja, os bancários querem mostrar à sociedade, através dos dados, que as reivindicações da categoria (emprego, reajuste da inflação + 5% de ganho real, saúde bancária, fim das metas abusivas, entre outras) são justas e possíveis de ser atendidas pelos patrões, pois somente os cinco maiores bancos que atuam no país (Itaú, Bradesco, Santander, BB e Caixa), que empregam em torno de 90% da categoria, lucraram juntos no ano passado R$ 77,4 bilhões, com um aumento de 33,5% em relação a 2016. E somente no primeiro trimestre deste ano, eles já atingiram R$ 20,3 bi em lucro, 18,7% a mais do que no mesmo período de 2017.
Outra pauta prioritária do Comando Nacional dos Bancários, colocada na mesa de negociação, diz respeito à saúde da categoria. Os sindicalistas, preocupados com a situação de adoecimento da categoria, apresentaram durante a última mesa de negociação com a Fenaban dados alarmantes do setor que mais gera gastos ao INSS: 6% do total de recursos para afastados são consequência do modo de gestão dos bancos. O setor ainda é responsável por 21,2% do total de afastamentos do trabalho por transtorno depressivo recorrente, 18% por transtornos de ansiedade, 14,6% por reações ao estresse grave e 17,1% do total de afastamentos do trabalho por episódios depressivos. Os dados demonstram a necessidade urgente da criação de uma política mais eficaz de saúde para a categoria, onde trabalhadores e patrões precisam avançar neste debate para mudar essa realidade.
Em tempos de incertezas na política e na economia, bancários e banqueiros já tiveram quatro encontros para tratar da renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). No primeiro deles, ocorrido no início do mês, a entidade patronal deixou clara a sua disposição de resolver a campanha salarial da categoria na mesa de negociação, apesar de negar naquele momento a assinatura do pré-acordo para garantir a validade da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) após 31 de agosto. No entanto, na última negociação, a Fenaban recuou e se comprometeu a assinar um pré-acordo de ultratividade caso as negociações não avancem.
E sem mais delongas, a mesa de negociação é o principal instrumento de uma sociedade democrática para discutir suas diferenças. E fecho minha reflexão com uma frase do ex-presidente americano John Kennedy: “Jamais devemos negociar por medo, mas jamais devemos ter medo de negociar”.
Manoel Façanha, jornalista e diretor da Fetec-CUT/Centro Norte