No dia do anúncio da morte do primeiro funcionário do Banco do Brasil vítima do coronavírus – Edgard dos Santos Pereira, que trabalhava na Agência Catete, no Rio de Janeiro -, o presidente do BB, Rubem Novaes, disse em entrevista publicada nesta segunda-feira 30 pelo jornal O Globo que é “melhor” que maior parte da população seja infectada “o quanto antes para que a economia volte a funcionar normalmente. Deixa essa gente trabalhar!”. Para o presidente da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), Cleiton dos Santos, com essa postura Rubem Novaes demonstra ser indigno de presidir um banco com o histórico social do BB e precisa ser afastado imediatamente.

Indicado pelo ministro Paulo Guedes para implementar a política ultraliberal de destruição do Estado, o que inclui o esvaziamento e privatização do Banco do Brasil, Novaes apoia a campanha negacionista da pandemia de seu chefe Jair Bolsonaro, que incentiva o retorno de toda a população ao trabalho. Na semana passada, em entrevista ao jornal Valor Econômico, já havia declarado que “a vida não tem valor infinito”.

“O presidente do Banco do Brasil faz essa declaração monstruosa no momento em que a pandemia se acelera no Brasil, onde já temos 4.256 pessoas oficialmente infectadas e 136 mortas, entre elas um colega do banco. Sua postura e suas declarações são muito mais do que irresponsáveis. São possíveis até de serem classificadas de criminosas. Demonstram o caráter de uma pessoa extremamente egoísta e cruel, doentia na alma, que despreza a vida humana e venera o lucro. Que zomba das vítimas e do esforço heroico que a sociedade brasileira, especialmente os trabalhadores da saúde, vem fazendo para limitar ao mínimo os efeitos devastadores da pandemia”, denuncia Cleiton dos Santos, presidente da Fetec-CUT/CN.

“Com essa postura desumana, Rubem Novaes adere ao bloco do ódio e da morte que o governo Bolsonaro tem tentado jogar o Brasil nesse momento de extrema gravidade, contra a orientação de todos os governos do mundo e da OMS. Rubem Novaes é indigno de presidir o Banco do Brasil, com um histórico de dois séculos de trabalho em prol do desenvolvido do país e da vida. Ele precisa ser imediatamente afastado do cargo”, propõe Cleiton.

Morre no Rio o primeiro funcionário do BB

Edgard dos Santos Pereira, o Fela, funcionário da Agência Catete, no Rio, morreu neste domingo 29 vítima do coronavírus, menos de 48 horas após ser internado com os sintomas do vírus.

Seu amigo Luiz Carlos Azedo, jornalista e colunista do Correio Braziliense, narrou assim a trágica morte de Edgard em sua página no Facebook:

“Hoje perdi um grande amigo, o Edgard Dos Santos Pereira, o Fela, camarada da Economia dos meus tempos de ICHF-UFF. Era um cara alegre, forte, saudável, capoeirista, músico, poeta, economista e fisioterapeuta, querido integrante na nossa Armatta Brancaleone, o nosso grupo de dinossauros uffianos. Demorei pra fazer a postagem, mas cheguei à conclusão de que será M importante para todos os amigos comuns saber o aconteceu.

Vou compartilhar as mensagens que ele mandou do hospital e os comentários de uma colega dele da Agência Catete do Banco do Brasil. “Sou mais um na estatística do Coronavírus, nesse momento tô internado no Copa Dor. Cuidem-se! Não vão na onda do Bolsonaro. A coisa é séria. Não é um “resfriadinho”, fiquem em casa!”, escreveu ao postar a foto abaixo em que aparece internado.

Uma amiga da nossa Armatta reproduziu a postagem a seguir, que faz referência ao aniversário dele, dia em que compartilhou as outras fotos: “Relato dessa amiga do BB

Ele trabalhou normalmente até 6af, dia 13.

Fez aniversário nesta 6af inclusive e estava bem de saúde.

Na 2af seguinte apresentou quadro aparentemente gripal e recebeu afastamento provisório de 1 semana da Cassi.

Na 6af (27/3) o quadro que era "de gripe" não melhorou e começou a apresentar falta de ar.

Imediatamente se internou no Copa Dor e uma chapa no pulmão mostrou pneumonia dupla e os médicos disseram aparentar sintomas de covid-19.

Parece que o exame foi pedido mas não sei se foi realizado ou se o resultado saiu confirmando.

Infelizmente morreu antes.

Perdemos o primeiro colega da ativa, no RJ.

Funcionário da Ag. Catete, Edgar Santos.

Estava internado, desde 6af, com suspeita e todos os sintomas de covid-19.

Na 6af fez contato com colegas da agencia. Alto astral como era, comunicando que estava com pneumonia dupla mas que achava que saia do hospital até 2af e que já estava sendo medicado.

Os funcis da agência estão em estado de choque.

Teve contato com vários desses colegas.

Entre a internação e a morte não se passaram 48 horas.”.

Vejam bem, internado num dos melhores hospitais do Rio, sem respirador. Está faltando nos hospitais. Meus sentimentos aos amigos e parentes.

Vai, Fela, tocar cuíca, pandeiro, flauta e clarinete no céu!

Ei-lo aqui em grande estilo: https://youtu.be/jKjY20SbtUY

A declaração infame de Novaes

A declaração de Rubem Novaes a O Globo foi a seguinte: “Lembro quando Roberto Campos, o avô, dizia: ‘a lógica, inventada pelos gregos no hemisfério Norte, não se aplica abaixo do Equador’. Não obstante, tentemos usar um pouco de lógica a partir de declarações médicas indicando que a epidemia só se extinguirá após atingida, e portanto imunizada, uma determinada parcela da população, digamos 70%. Ora, se isto é verdade, o que realmente importa é que os velhinhos e os já doentes estejam entre os 30% da população que não será contaminada pelo vírus. Afinal, são eles que demandam atendimento de UTIs e apresentam maior taxa de letalidade. Resolve-se o problema do pico de demanda por atendimento hospitalar e reduz-se o número de mortos. Quanto aos 70% da população que será infectada, melhor que que o seja o quanto antes para que a economia volte a funcionar normalmente. Deixa essa gente trabalhar!”

Fonte: Fetec-CUT