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22 de Dezembro de 2017 às 09:23

'Desigualdade existe porque o capital é a prioridade, não os direitos humanos'

Vinte e cinco anos após a descoberta dos Arquivos do Terror, que denunciaram a existência da Operação Condor, o advogado paraguaio Martin Almada diz que seus princípios da ação continuam vigentes


Crédito: GOVERNO EUA - DEPTO. DE ESTADO
Manifestação de apoio ao governo progressista de Salvador Allende, no Chile. Após golpe que levou Pinochet ao poder, país promoveu perseguições, torturas e mortes, sob comando da Operação Condor

por Sarah Fernandes, para a RBA

São Paulo – Em 22 de dezembro de 1992, há exatos 25 anos, ocorria um fato que mudaria para sempre a história política da América Latina: o advogado paraguaio Martín Almada, acompanhado pelo juiz José Agustín Fernández, encontrava quatro toneladas de documentos sobre atividades da polícia secreta paraguaia na ditadura de Alfredo Stroessner, que governou o país por 35 anos (de 1954 a 1989). Os papéis ficaram conhecidos como Arquivos do Terror e denunciaram ao mundo à existência da Operação Condor, uma aliança política entre os vários governos militares da América Latina, com respaldo da CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), para coordenar a repressão a opositores e eliminar seus líderes.

Dias antes, Almada havia recebido uma ligação de uma testemunha que o orientou onde estariam os arquivos: em uma pequena delegacia no interior do país. O advogado apenas buscava provas de que ele próprio havia sido torturado e que sua mulher, Celestina Pérez de Almada, fora assassinada. Porém, comprovou a existência de uma aliança multinacional para aniquilar opositores políticos. Anos depois, restabelecida a normalidade democrática naqueles países, os mesmos documentos serviram de base para a atuação das respectivas Comissões da Verdade, que por sua vez levaram à punição de diversos militares.

A descoberta rendeu a Almada o Prêmio Nobel Alternativo em 2002 e marcou sua trajetória de décadas de luta pelos direitos humanos.

Em entrevista à RBA, Almada, 80 anos, defende que parte dos interesses da Operação Condor continua vigente na América Latina, interferindo em governos populares para fortalecer grandes grupos econômicos estrangeiros e neoliberais. "Essa é a característica da nova fase do Condor: permitir que grandes empresas ocupem as ruas e os meios de comunicação de massa", diz o advogado, que publicou em 2015 seu último livro sobre o tema, chamado O Condor Segue Voando. "Impera uma concepção econômica e neoliberal vinculada ao endividamento externo", explica.

A atual crise política de Honduras, o golpe parlamentar contra o presidente paraguaio Fernando Lugo, em 2012, e o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff em 2016 são, para Almada, "golpes brancos" com interesse de devolver a América Latina à posição de colônia. "Os governos atuais do Brasil e da Argentina estão alinhados com grandes empresários", diz. "Fundações dos Estados Unidos se articulam para enfraquecer governos de esquerda e abrir espaço para empresários defensores do livre mercado. A derrubada de Dilma foi apoiada por organizações como o Instituto Millenium, que recebe recursos do Bank of América Merrill Linch."

> Confira aqui a íntegra da entrevista:


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