Na semana descobrimos estarrecidos, por estudo divulgado pela Oxfam (Comitê de Oxford de Combate à Fome, na sigla em inglês), que apenas os seis bilionários brasileiros mais ricos – isso mesmo, meia dúzia – concentram a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população.
Segundo o mesmo levantamento, os 5% mais ricos detêm fatia de renda equivalente à dos demais 95% da população brasileira. Os dados também mostraram desigualdade de gênero e raça: mantida a tendência dos últimos 20 anos, mulheres ganharão o mesmo salário que homens somente em 2047, enquanto negros terão equiparação de renda com brancos em 2089.
Esses números apenas ilustram o relatório divulgado em março pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostrando que o Brasil caiu 19 posições no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), pela primeira vez desde 1990.
Das grandes tragédias brasileiras, a desigualdade é a maior de todas, porque impede o crescimento econômico consistente a longo prazo. É o que alertou também esta semana o economista francês Thomas Piketty, que está no Brasil para uma série de conferências dentro do projeto Fronteiras do Pensamento.
Autor do best seller “O Capital do Século 21”, no qual mostra que houve concentração da riqueza no mundo nos últimos dois séculos, está agora coordenando um grupo de economistas que está pesquisando o que acontece com os países em desenvolvimento, em particular Brasil, Índia e China.
Um dos pesquisadores da equipe de Piketty, o irlandês Marc Morgan Milá, que também está por aqui, disse à Folha de São Paulo: “A história recente do Brasil nos leva a dizer que houve uma escolha política pela desigualdade”.
Não há como discordar da avaliação, quando assistimos a um governo não eleito, que tem apenas 3% de aprovação e está soterrado por denúncias de corrupção, destruir nossa única experiência redistributivista, ainda que tímida, para impor de forma truculenta as reformas exigidas pelo mercado financeiro, como o congelamento de investimentos sociais por 20 anos e a nova legislação trabalhista.
São medidas que retiram direitos das camadas mais pobres da população para ampliar os lucros dos bancos e do grande capital – aumentando ainda mais a concentração da renda em um dos países mais desiguais do planeta.
Será essa a nossa sina? Ou haverá resistência capaz de interromper essa trajetória?
Fonte: Blog do Marcel Barros, diretor eleito de Seguridade da Previ