Assista agora ao vivo no canal do YouTube da Fetec-CUT/CN análise de conjuntura e debate na Conferência Regional da Federação, que está sendo realizada em Brasília.
A Conferência de Saúde e Condições de Trabalho, realizada nesta terça-feira 11 em Brasília pela Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), constatou o preocupante aumento dos casos de adoecimentos mentais na categoria bancária e aprovou uma série de propostas para combater essa verdadeira epidemia. Entre as resoluções estão a realização de audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir o adoecimento dos trabalhadores do ramo financeiro, a ampliação do Observatório da Saúde do Trabalhador de Brasília para toda a base da Fetec-CUT/CN, iniciar uma rede de apoio aos bancários adoecidos e transformar o documentário do Sindicato de Porto Alegre sobre o tema em um documento a ser enviado como denúncia a parlamentares e ao Ministério Público do Trabalho. Assista aqui ao documentário.
A Conferência também aprovou a reestruturação e modernização do site da Fetec-CUT/CN, de forma que permita dar mais destaque às matérias sobre saúde e condições de trabalho da categoria.
“A Conferência desta terça-feira buscou sensibilizar os dirigentes sindicais da nossa região a respeito dos adoecimentos provocados pela gestão das empresas, que capturou a subjetividade do trabalhador bancário e, consequentemente, tem levado ao esgotamento físico e mental. Não bastasse essa captura, intensificou o trabalho com o canto da sereia da chamada meritocracia, provocando um grande número de adoecimentos mental e comportamental entre os trabalhadores”, afirma Wadson Boaventura, coordenador do Coletivo de Saúde e Condições de Trabalhador da Fetec-CUT/CN.
“Ter a oportunidade de debater a saúde dos trabalhadores do ramo financeiro de forma qualificada e com a importância que o assunto requer sinaliza a mobilização da nossa categoria para as conquistas de qualidade de vida”, acrescenta Rafaella Gomes, secretária de Mulher da Fetec-CUT.
A economista do Dieese Vivian Machado apresentou o Relatório de Saúde do Trabalhador, segundo o qual entre 2013 e 2020 a média de afastamentos na categoria bancária, por doenças ou acidentes, foi de 20.192 por ano e que o número de afastamentos nos bancos aumentou 26,2% nos últimos cinco anos.
Segundo o estudo do Dieese, realizado a partir dos dados oficiais do INSS, os afastamentos previdenciários de bancários por transtornos mentais saltaram de 23% para 40% entre 2012 e 2022, fazendo o caminho inverso das doenças osteomusculares (LER/DORT), que caíram de 22% para 17%. Nesse mesmo período, a participação da categoria bancária nos afastamentos por doenças mentais e comportamentais em relação a todos os setores da economia dobrou de 12% para 25%.
A consulta dos bancários para a Campanha Nacional de 2022 constatou que 77% dos trabalhadores dos bancos sentem cansaço, fadiga e preocupação constante; 55% relataram viver com desmotivação, vontade de não ir trabalhar e medo de “estourar”; 44% sofriam de ansiedade ou pânico e 42% passavam por dificuldade de dormir mesmo nos finais de semana.
A consulta também mostrou que 21% escondiam a doença por medo de ser prejudicado ou até mesmo perder o emprego e que 35,5% da categoria havia usado medicamentos controlados (antidepressivos, ansiolíticos, estimulantes) nos 12 meses anteriores.
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A psicóloga Ana Magnólia Mendes apresentou o relatório de 10 anos de atuação do Projeto Clínica do Trabalho, pesquisa sobre as relações entre trabalho bancário no Distrito Federal e psicopatologias que ela desenvolve desde 2013 em parceria com o Sindicato dos Bancários, GEPSAT e o Laboratório de Psicodinâmica e Clínica do Trabalho da Universidade de Brasília.
Segundo o estudo, 85,7% dos bancários que procuraram o projeto em 2022 relataram já ter passado por situações que consideram de assédio moral.
Entre os bancários que em 2022 buscaram a Clínica do Trabalho 50% estavam trabalhando, 43% encontravam-se afastados por licença-saúde e 7% estavam demitidos. Dos 43% de bancários afastados por licença-saúde no momento da entrevista inicial, 100% declararam que o afastamento decorreu em função de transtornos mentais e comportamentais desencadeados ou agravados pelo trabalho.
Em média, quando procuram a Clínica do Trabalho esses trabalhadores estão afastados há 6 meses por distúrbio mental. Deles, 78,5% realizam acompanhamento psiquiátrico (tempo médio de 2,7 anos), 71,4% declararam já ter realizado acompanhamento psicológico, 14% estavam fazendo psicoterapia, 86% admitiram estar utilizando medicamentos prescritos, sendo que 57% para tratar transtornos mentais e 43% para tratar transtornos mentais e transtornos físicos.
Os sintomas mais comuns da amostra foram do tipo ansioso, indicando um retorno ao padrão anterior à pandemia:
• 100% irritabilidade e inquietação
• 93% tensão e incapacidade de relaxar
• 79% dificuldade de concentração, memória fraca, dificuldade para dormir, tristeza e desânimo
• Tremores 71%
Outros sintomas que chamam a atenção das pesquisadoras são os relacionados à ideia e comportamento suicida: 50% pensam em morrer e desistir de tudo, 36% sentem que não vale a pena viver, 29% pensam em se ferir, 25% desejam estar mortos, 14% declararam já ter tentado suicídio.
Para Ana Magnólia, “o adoecimento psíquico é resultado do modelo de gestão das empresas e é hoje uma questão de saúde pública”. Ela entende que um papel primordial dos sindicatos para enfrentar o problema é ampliar “os espaços de acolhimento e os canais de escuta de trabalhadores para que os bancários possam falar antes que um adoecimento grite”. Mas, tão ou mais importante, é entender o problema e “insistir em ser importante ator social na luta pela garantia de direitos relacionados à saúde do trabalhador”.
Antes da aprovação das resoluções finais, a Conferência terminou com o painel "Clínica do desgaste mental no trabalho bancário" e “vigilância em saúde mental relacionada ao trabalho", com a psicóloga Renata Paparelli, professora do curso de Psicologia da PUC-SP, coordenadora da Clínica do Trabalho e do NAST (Núcleo de Ações em Saúde do Trabalhador) da PUC-SP.
Fonte: Fetec-CUT/CN