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19 de Março de 2018 às 07:29

MBL e deputado propagam mentiras em campanha difamatória contra Marielle Franco


El País
Heloísa Mendonça

Nas 19 horas que se seguiram à morte de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes, mais de meio milhão de tuítes circularam mencionando o assassinato da vereadora do PSOL, de acordo com estudo da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV Dapp). Do total, 88% eram mensagens de apoio e luto e apenas 7% fizeram uso da redes para criticar o PSOL, a esquerda e ativistas dos direitos humanos em geral como "defensores de bandidos". Passados alguns dias, o panorama evoluiu. Alguns atores da direita radical, incluindo o MBL (Movimento Brasil Livre) e o deputado da bancada da balaAlberto Fraga (DEM), passaram a protagonizar uma ativa campanha difamatória contra Marielle Franco. Não se trata de questionar visões de mundo ou até mesmo criticar a comoção com o crime político, posições esperadas num debate. O que foi ativado foi uma fábrica de informações falsas e boatos que aludem, sem qualquer base factual, ao envolvimento da vereadora com "bandidos".

O comentário se espalhou na Internet em poucas horas e fez com que um grupo de advogados começasse uma campanha, também nas redes, para que a desembargadora seja denunciada ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por ter atacado, sem embasamento, a reputação de Marielle Franco. Após o episódio, a desembargadora disse à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, que apenas tinha dado a sua opinião como "cidadã". Ela explicou ainda que nunca tinha ouvido falar de Marielle até a notícia da morte. "Eu postei as informações que li no texto de uma amiga", afirmou ao jornal.

“A minha questão não é pessoal. Eu só estava me opondo à politização da morte dela”, afirmou a desembargadora a Folha de S. Paulo. O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) – do qual Marielle fazia parte – anunciou que abrirá uma ação criminal por calúnia e difamação contra a juíza, além de fazer uma representação oficial ao CNJ.

Num mecanismo típico de como funcionam as engrenagens das fake news, o MBL usou a declaração assumidamente sem embasamento da desembargadora em uma postagem em seu site. O grupo publicou na página do Facebook uma matéria titulada: "Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum' ". Na chamada o MBL ressaltou: "Isso é complicado. Bem complicado... ". Até as 17h deste sábado (17), o post do movimento já tinha mais de 38 mil curtidas e 28 mil compartilhamentos.

Na noite de sexta-feira, o deputado Alberto Fraga, presidente do DEM no Distrito Federal e presidente da Frente Parlamentar de Segurança Pública, também resolveu usar informações falsas na campanha contra a vereadora. “Conheçam o novo mito da esquerda, Marielle Franco. Engravidou aos 16 anos, ex-esposa do Marcinho VP, usuária de maconha, defensora de facção rival e eleita pelo Comando Vermelho, exonerou recentemente 6 funcionários, mas quem a matou foi a PM”, escreveu no Twitter. Na manhã deste sábado, o tuíte de Fraga já tinha mais de mil curtidas e centenas de compartilhamentos, mas acabou sendo deletado. No início da tarde, o deputado escreveu que o assunto tinha gerado muita polêmica. "Vamos deixar a Polícia trabalhar e com certeza essas acusações, de ambos os lados, serão sanadas. Como prova, vou retirar o post", disse.

Ainda que há dias a biografia de Marielle esteja nos jornais, o Aos Fatos, site de checagem de notícias, explicou ponto a ponto as informações inverídicas ou sem qualquer evidência usadas: Marielle nunca foi casada com nenhum ex-traficante. A vereadora tinha 38 anos de idade, era casada com Mônica Benício e tinha uma filha de 19 anos, chamada Luyara Santos. Isso significa que ela engravidou entre os 18 e 19 anos - e não aos 16. Ainda segundo o site de checagem, não há qualquer nexo entre a disputa de territórios do Comando Vermelho na Maré e a eleição de Marielle. A vereadora foi eleita com 46.500 votos, dentre os quais apenas 1.600 foram de eleitores da Maré e arredores.

Entenda o caso

Defensora dos direitos humanos e crítica da atuação de policiais que agem fora da lei, Marielle voltava de um evento no bairro carioca da Lapa quando foi alvo de disparos. O crime aconteceu nesta quarta-feira, 14 de março, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, e o motorista Anderson Gomes, que estava com ela, também foi assassinado a tiros. No segundo dia de investigações, a perícia concluiu que o lote de munições utilizados no crime teria sido vendido para a Polícia Federal em Brasília.

A polícia trabalha com a hipótese de que o assassinato foi uma execução. Ainda não foi divulgada nenhuma informação sobre os assassinos e não se sabe nem quantos participaram da ação. 

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