A Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) lamenta com profundo pesar a morte de dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), “o bispo do povo”, uma das principais vozes da história recente do Brasil na defesa dos direitos humanos, dos pobres e dos povos indígenas ameaçados pelos latifundiários e grileiros.

Poeta e um dos maiores propagadores da Teologia da Libertação no Brasil, dom Pedro Casaldáliga morreu neste sábado 8 de agosto aos 92 anos, em um hospital de Batatais, interior de São Paulo, para onde foi transferido na noite da terça-feira 4 de agosto com um quadro de insuficiência respiratória.

“O Brasil perde uma de suas grandes referências morais, um grande batalhador em defesa dos direitos dos pobres, oprimidos e dos trabalhadores, que enfrentou com dignidade e coragem todo tipo de arbítrio e exploração, desde a ditadura militar. É assim que o preservaremos em nossa memória, guiando nossos passos”, afirma Cleiton dos Santos, presidente da Fetec-CUT/CN.

A notícia da morte foi comunicada pela Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso, Brasil), com a seguinte nota:

A Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso, Brasil), a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria (Claretianos) e a Ordem de Santo Agostinho (Agostinianos) comunicam o falecimento Dom Pedro Casaldáliga Pla, CMF, Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia (Mato Grosso) e Missionário Claretiano, ocorrido neste dia 08 de agosto de 2020 às 9:40 horas (horário de Brasília), na cidade de Batatais, estado de São Paulo, Brasil.

O velório ocorrerá a partir das 15h deste sábado na capela do Claretiano, na cidade de Batatais - SP. Em Mato Grosso, o corpo deverá chegar no dia 10 de agosto e será velado Santuário dos Mártires, na cidade de Ribeirão Cascalheira. Depois, o corpo de Dom Pedro, será encaminhado para a cidade de São Félix do Araguaia onde será velado no Centro Comunitário Tia Irene e depois sepultado. 

O bispo dos pobres e da floresta

Dom Pedro Casaldáliga nasceu em 16 de fevereiro de 1928 em Balsareny, província de Barcelona, na Espanha. Em 1968, mudou-se para o Brasil para fundar uma missão claretiana no Mato Grosso. Foi nomeado administrador apostólico da prelazia de São Félix do Araguaia no dia 27 de abril de 1970. O Papa Paulo VI o nomeou bispo prelado de São Félix do Araguaia, no dia 27 de agosto de 1971. Sua ordenação episcopal deu-se a 23 de outubro de 1971.

Foi bastante conhecido por defender os direitos humanos, especialmente dos povos indígenas e marginalizados e também por suas posições políticas e religiosas a favor dos mais pobres.

Dom Pedro já foi alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais grave, em 12 de outubro de 1976, ocorreu em Ribeirão Cascalheira (Mato Grosso). Ao ser informado que duas mulheres estavam sendo torturadas na delegacia local, dirigiu-se até lá acompanhado do padre jesuíta João Bosco Penido Burnier.

Após forte discussão com os policiais, o padre Burnier ameaçou denunciá-los às autoridades, sendo então agredido e, em seguida, alvejado com um tiro na nuca. Após a missa de sétimo dia, a população seguiu em procissão até a porta da delegacia, libertando os presos e destruindo o prédio. Naquele lugar foi erguida uma igreja.

Por cinco vezes, durante a ditadura militar, foi alvo de processos de expulsão do Brasil. Na ocasião, o arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns saiu em sua defesa.

Leia entrevista histórica com Dom Pedro Casaldáliga concedida em 2011 à  Revista Fórum.

Fonte: Fetec-CUT/CN, com Revista Fórum