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8 de Outubro de 2018 às 07:52

Entrevista exclusiva com Juvândia Moreira, presidenta da Contraf-CUT


Crédito: SEEB/PA

Belém PA - Um dos marcos da Campanha Nacional desse ano foi uma presença maior de mulheres tanto do lado do Comando Nacional, com duas coordenadoras representando a categoria bancária, quanto do lado da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban); esse que antes era composto somente por homens.

“Quando eu fui pra mesa pela primeira vez, que eu assumi a presidência do Sindicato dos Bancários de São Paulo, eu fui uma das coordenadoras do Comando, era a primeira vez que tinha uma mulher comandando. Na verdade, teve a Fernanda Carisio, presidente da CNB (Confederação Nacional dos Bancários que depois virou Contraf-CUT), mas do nosso lado, do Sindicato de São Paulo, foi a primeira vez que tinha uma mulher, eu fui a primeira presidenta lá também. Os bancos não tinham mulheres, eles colocaram mulheres na mesa por conta da minha presença. Eu acho que a nossa presença, aumentar do nosso lado o número de mulheres, também ajudou, estimulou os bancos a colocar mais mulheres do lado deles também”, observa a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira, que esteve na capital paraense na última segunda-feira (1º) para assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho 2018/2020 (ACT) do Banpará.

Antes da cerimônia, a dirigente sindical conversou com a Comunicação do Sindicato dos Bancários do Pará e falou sobre Campanha Nacional, mulheres no poder e eleições.

Juvandia Moreira Leite é a primeira presidenta da história da Contraf-CUT. A dirigente, baiana de Nova Soure, chegou a São Paulo em 1991 para trabalhar, como ela mesma conta.

Formada em direito e pós-graduada em política e relações internacionais, Juvandia entrou na direção do Sindicato dos Bancários de São Paulo no dia 8 de março (Dia Internacional da Mulher) de 1997. Lá passou pela Secretaria de Assuntos Jurídicos e de Organização, além da secretaria geral. Em 2010, assumiu a presidência da entidade sendo a primeira mulher a presidir o Sindicato depois de quase um século de existência (em 2018 o Sindicato completa 95 anos), cargo que ocupou entre 2011 e 2017, sendo eleita para duas gestões. Juvandia ocupa também a Executiva da CUT Nacional.

Campanha de luta

Como presidenta da Confederação, Juvandia também foi uma das coordenadoras do Comando Nacional, e em uma das várias mesas de negociação teve que enfrentar uma proposta de retirada de direitos das mulheres bancárias em licença-maternidade, ou seja, porque engravidam. Qualquer semelhança com o discurso de um candidato machista, misógino, homofóbico e racista, é mera coincidência.

“Quando eles colocaram esse tema na mesa, nós já falamos que os filhos são da sociedade, não são das mulheres, porque sem as mulheres, se as mulheres não engravidassem essas mulheres não efetivamente assumissem essa função, o que seria da sociedade, da raça humana? Você reduzir a Participação nos Lucros e Resultados das mulheres, é não entender essa função social das mulheres, é não valorizar a igualdade, e é um prejuízo enorme. Então eu acho que o fato de ter mulheres na mesa, inclusive já ajuda a não permitir esse tipo de discriminação, ajuda a colocar pautas de igualdade salarial, pautas de valorização da igualdade de oportunidades, dos direitos, que é tão importante”, lembra.

Além de garantir a manutenção da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) para todas e todos, a categoria bancária conseguiu conquistar algum ganho real (1,31%), quando a maioria das outras classes ficou com apenas a inflação, ou sequer teve isso. O reajuste salarial final foi de 5% para salários e todas as demais verbas, como vales alimentação e refeição, 13ª cesta, auxílio creche/baba, parte fixa da PLR.

“Veja o contexto que nós fizemos o acordo ele é importante de a gente lembrar. ‘Reforma’ Trabalhista que autorizou a terceirização de tudo, que precariza os direitos, que permite fazer acordos abaixo da lei, uma ‘reforma’ Trabalhista que enfraquece o movimento sindical, que retira recursos do movimento sindical, que possibilita contratar trabalhadores como autônomos, como PJ, como terceiros, você diminui as categorias e enfraquece a representação sindical. Então nesse contexto, nós conseguimos o maior aumento real que as categorias tiveram. Isto é uma grande vitória. A gente percebe que os bancários de bancos públicos foram os únicos empregados de empresas públicas que tiveram aumento real, porque a ordem do governo era as empresas públicas não podem dar aumento real, tem que dar no máximo a reposição da inflação. Então, no geral nós fechamos um acordo muito bom dentro dessa conjuntura”, avalia.

O Pará na Campanha Nacional

Na capital paraense ocorrem duas mesas de negociação específica concomitantemente às mesas gerais com a Feneban, no Banpará e Banco da Amazônia, que a presidenta da Contraf-CUT acompanhou de longe, mas esteve presente na assinatura do ACT 2018/2020 do Banpará na última segunda-feira (1º).

Nesse acordo, também marcado por mesas majoritariamente femininas, o funcionalismo do banco teve conquistas que vão além da Convenção Coletiva, como a ultratividade, incorporação e anuênio.

“No caso do Banpará tem várias cláusulas no acordo específico que são superiores à Convenção Coletiva. Esses acordos locais melhores ajudam a fortalecer a Convenção Coletiva Nacional também, porque quanto mais se avança nos acordos locais mais você ajuda a avançar no acordo nacional. É fundamental a gente ter o Pará na mesa geral, e é fundamental a gente ter bons acordos porque viram referência para os acordos das outras regiões. A vitória desse acordo foi exatamente a vitória da nossa unidade, é o fato de ter todos os estados, incluindo o Pará. Então isso tudo, essa articulação geral, o compartilhar experiências, o trocar experiências, isso tudo nos fortalece a todos”, destaca.

Elas podem definir as eleições

A menos de uma semana das eleições, o bate-papo com a Juvandia Moreira terminou com as eleições, afinal as mulheres representam 52,5% dos eleitores. Assim como na categoria bancária, nas eleições elas também são maioria e podem definir o resultado das urnas.

“Nós estamos lutando há muito tempo por justiça social, por igualdade de oportunidades e de direitos. Se a gente deixa um projeto que diz que mulher tem que ganhar menos mesmo porque engravida é a mesma coisa que a gente dizer que a gente tem que ganhar PLR menor, porque nós somos mulheres; e os bancos tentaram isso na mesa, e nós não permitimos. Então nós mulheres temos um papel importante de nessas eleições não permitir o retrocesso. De garantir que a gente viva num país democrático, onde a gente possa ter liberdade de expressão, onde a gente tenha direitos iguais. Eu digo que a nossa Campanha Salarial não acabou, ela continua agora no momento da eleição. Por que será que nós vamos conseguir revogar a lei da terceirização? Nós vamos conseguir garantir que os bancos públicos existam? Vamos conseguir garantir os empregos? Isso tudo depende de quem ganhar as eleições, porque tem vários candidatos que já declararam apoio às privatizações, que não vão revogar a ‘reforma’ Trabalhista, a lei da terceirização ou a PEC da Morte que congelou os investimentos em saúde, educação e segurança por 20 anos. Tem candidatos que apóiam esses projetos e a gente não pode votar nesse tipo de candidato nem de candidata se apoiar um projeto que é ruim para o país”, afirma a dirigente sindical.

 

Fonte: Bancários PA


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