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12 de Janeiro de 2018 às 15:36

Caixa completa 157 anos sob ataque privatista do governo e da mídia, escreve Eduardo Araújo no Brasil247


Brasil247
Eduardo Araújo, presidente do Sindicato de Brasília

Na data em que Caixa Econômica Federal completa 157 anos, infelizmente, nem a sociedade brasileira, nem seus empregados podem comemorar avanços, mesmo com resultados financeiros positivos. Essa instituição estratégica, fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país, está sendo enfraquecida e desmontada aos poucos por um governo ilegítimo. E a depender do “mercado”, que patrocinou um golpe para tomar de assalto o Estado brasileiro, a Caixa corre o sério risco de não chegar aos 160 anos como banco público.


A fundação da Caixa na década 1860 ocorreu em meio às iniciativas do imperador D. Pedro II, via Lei dos Entraves, para “combater os juros escorchantes e inapeláveis cobrados pelos exploradores da miséria alheia” (segundo depoimento do presidente da Caixa em 1964, Jeronymo de Castilho), ou seja, impor limites à agiotagem e à farra dos banqueiros privados que colocavam em risco a sustentabilidade da economia brasileira, o que hoje seria rechaçado pela grande mídia como “ato do regime comunista”.

A Caixa já nasceu e se manteve ao longo da história como banco público importante para o país e para a economia popular, mantendo a sua capacidade de, em meio a períodos de crise, ou saída de crises econômicas graves como a que estamos vivendo, alavancarem volumes de poupança e estimular a economia de uma forma muito rápida e barata. 

A maioria dos países do mundo tem bancos públicos para estimular a retomada da demanda com crédito produtivo para as empresas e para atendimento de demandas sociais como habitação, num período de tempo mais curto do que os bancos privados, já que as instituições privadas visam unicamente o lucro.

Os bancos públicos, por serem controlados pelo Estado, são poderosos instrumentos de políticas anticíclicas, como a Caixa e o Banco do Brasil demonstraram na crise financeira de 2008, ao ampliarem a oferta e baratearem o crédito para fazer frente à paralisia dos bancos privados.

Um país que abre mão desse instrumento de política macroeconômica tem muito mais dificuldade de retomar o crescimento econômico no curto prazo após crises e terá muito mais dificuldades de reativar sua economia ao fim de um período recessivo.

Mas infelizmente é isso que o governo de Temer, de Meirelles (Banco Original) e de Goldfajn (Itaú Unibanco) está fazendo com os principais bancos públicos, retardando o crescimento econômico e distribuição da renda.

De dezembro de 2015 a junho de 2017, segundo dados do Banco Central, a participação dos bancos públicos federais no sistema financeiro nacional encolheu no financiamento às pequenas (de 50,89% para 48,11%), médias (de 45,62% para 44,16%) e até grandes empresas (65,29% para 63,94%). Também foi reduzida a sua participação do crédito, nesse mesmo período de um ano e meio, a indústria de transformação (de 54,24% para 50,24%), o agronegócio (de 44,64% para 41,41%), a indústria extrativa (de 75,11% a 72,82%) e o comércio exterior (de 14,03% a 10,23%).

No caso específico da Caixa, há uma política deliberada sendo implementada para esvaziar seu papel de instituição financeira pública. A Caixa praticamente extinguiu o financiamento habitacional para a população de baixa renda e hoje cobra taxas de juros e tarifas maiores que alguns bancos privados, na contramão de sua trajetória histórica.

A Caixa entregou ao mercado parte do capital das loterias (Lotex) e vive ameaça constante de abertura de capital.

Aos 157 anos de existência, a Caixa fechou 6.878 postos de trabalho, entre janeiro e novembro de 2017, e fechou agências, piorando a qualidade do atendimento principalmenteem regiões com população de baixo poder aquisitivo e em situação de vulnerabilidade social. 

Em sua política de esvaziamento do caráter público, a Caixa adota modelos de gestão semelhantes aos dos bancos privados, que visam cada vez mais apenas os lucros e também impactam seriamente as relações de trabalho. Impõe reestruturações que ampliam a pressão e o assédio moral nas dependências e altera unilateralmente o custeio do plano de saúde.

A direção da Caixa se transformou num balcão de negócios para sustentar a base aliada do governo e os esquemas de corrupção do governo ilegítimo, a ponto de o Ministério Público Federal pedir o afastamento de todos os vice-presidentes, muitos dos quais suspeitos de irregularidade.

Por isso não há muito o que comemorar neste 157º aniversário. A defesa da Caixa Econômica Federal como banco público de importância estratégica para o desenvolvimento econômico e social do país não pode ser uma tarefa apenas de seus empregados, mas de toda a sociedade. Porque ela será a mais prejudicada com a privatização ou esvaziamento de sua missão como instituição financeira de caráter público.

Veja aqui o artigo publicado no Brasil247.


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