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3 de Setembro de 2015 às 16:13

Bancos rejeitam reivindicações sobre saúde, condições de trabalho e segurança


Crédito: Jaílton Garcia - Contraf-CUT

Repetindo o comportamento nas discussões sobre emprego, no dia 19 de agosto, a Fenaban não aceitou nenhuma reivindicação sobre saúde, condições de trabalho e segurança na segunda rodada (dupla) de negociações da Campanha 2015 concluída nesta quinta-feira 3, em São Paulo, com o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT. A próxima rodada de negociação, sobre igualdade de oportunidades, será realizada na próxima quarta-feira, dia 9.

“Mais uma vez os bancos demonstram intransigência e desinteresse em resolver os problemas da categoria. Chegaram até mesmo a desdenhar das reivindicações aprovadas na Conferência Nacional depois de discutidas com a categoria em todo o país, afirmando na mesa que os bancários estão satisfeitos com a saúde, com as condições de trabalho e com a segurança”, critica José Avelino, presidente da Federação Centro Norte (Fetec-CUT/CN), que integra o Comando Nacional.

 

Saúde

O Comando Nacional mostrou pesquisas do Dieese, com base nos dados do INSS, as quais evidenciam a relação da rotina estressante de trabalho com os adoecimentos. Os casos de transtornos mentais e comportamentais estão crescendo muito mais rapidamente na categoria bancária e já superam os adoecimentos relativos a LER/Dort. Entre janeiro e março do ano passado, 4.423 bancários foram afastados do trabalho, sendo 25,3% por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares e 26,1% por doenças como depressão, estresse e síndrome do pânico.

O INSS ainda não divulgou os dados do ano todo de 2014 sobre o setor, mas em 2009 foram 2.957 afastamentos por transtornos mentais e comportamentais. Já em 2013, os números saltaram para 5042. Um crescimento de 70,5%. No mesmo período, nas outras categorias, o aumento foi de 19,4%.

"A saúde do trabalhador não pode ser negociada como um mero elemento da produção e nem podemos admitir que o trabalho adoeça as pessoas, como temos visto nos dados de afastamento do trabalho", disse o presidente da Contraf-CUT, Roberto Von der Osten, durante a negociação. "Saúde é um direito fundamental e os bancos precisam assegurar este direito no local de trabalho."

 

Metas abusivas e assédio moral

O fim das metas abusivas e combate ao assédio moral estão entre as principais reivindicações da categoria. Os bancos reconheceram que pode haver excessos no modo de cobrança por parte de alguns gestores, mas não concordaram com a reivindicação do Comando para que as metas sejam estabelecidas com a participação dos trabalhadores, com critérios para a estipulação, levando em conta o porte da unidade, a região de localização, número de empregados e carteira de clientes.

"Os bancos continuam a dizendo que as metas são expectativa de resultados e fazem parte da gestão. Mas, o que vemos é uma relação direta com a avaliação de desempenho. Os bancários são pressionados para conseguir resultados, se esforçam além dos seus limites e adoecem neste ambiente de trabalho extremamente competitivo", criticou Roberto Von der Osten. 

Pressionada, a Fenaban assumiu o compromisso de avaliar a possibilidade de o bancário pedir transferência para outra unidade, quando for comprovadamente assediado, assim como informar as soluções dadas aos casos de assédio moral apurados também pelos canais internos dos bancos. Os trabalhadores ainda cobraram mais rapidez na solução dos casos. Atualmente, os bancos têm 45 dias para este retorno, mas a Fenaban não aceitou reduzir o prazo.

"Durante esse período assediador e assediado convivem no mesmo local de trabalho. Isso intensifica o quadro de depressão e de outras doenças pelo assédio. O tempo de apuração da denúncia tem que ser o menor possível", reforçou o presidente da Contraf-CUT.

Outra recusa dos bancos foi em relação à reivindicação de que garantam aos empregados a participação nos exames e procedimentos previstos no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), cumprindo na integralidade as disposições da convenção 161 da OIT, que assegura a participação dos trabalhadores nas questões que tratam da saúde laboral.

 

Isonomia de direitos e reabilitação

Outro problema enfrentado pela categoria é a manutenção de direitos para os bancários afastados por acidente de trabalho e motivo de saúde. A reivindicação é que a diferença entre benefício recebido do INSS e o salário seja paga pelos bancos.

Mas os banqueiros responderam que já há várias cláusulas na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) que tratam de ressarcimento de diferenças e que não querem nada de novo relativo ao tema. 

O Comando Nacional também fez duras críticas aos programas de reabilitação profissional desenvolvidos pelos bancos, que são unilaterais e não contam com a participação dos trabalhadores na sua elaboração. São constantes as reclamações recebidas pelos sindicatos revelando que os funcionários são mal atendidos pelo gestor, ou mesmo pelo banco, no retorno ao trabalho.

"A reivindicação dos bancários é a alteração da redação da cláusula do programa de ‘reabilitação’ do trabalho, para ‘retorno’ ao trabalho, já que reabilitação é uma atribuição do Estado e não pode ser executada pelas empresas, como os bancos têm feito", defende o secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT, Walcir Previtale.

Mais um agravante para o movimento sindical é a revalidação que os bancos estão fazendo dos atestados médicos dos trabalhadores, colocando em xeque a idoneidade do bancário.

Diante dos problemas, a Fenaban concordou em marcar novas reuniões com para debater o tema de saúde, antes do encerramento da Campanha Nacional 2015, em data a se definida em breve.

 

Segurança bancária

Além da pressão por resultados, metas abusivas e assédio moral, os bancários também convivem com a insegurança nos locais de trabalho. Levantamento realizado pela Contraf-CUT e pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com apoio técnico do Dieese, aponta que 66 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2014, uma média de 5,5 vítimas fatais por mês. Os ataques a agências e caixas eletrônicos também viraram manchetes diárias nos jornais pelo País. Foram 3.150 ocorrências no ano passado, com uma média assustadora de 8,63 por dia.

O Comando Nacional cobra melhores condições de segurança para bancários, clientes e assistência às vítimas de assaltos, sequestros e extorsão, com atendimento médico e psicológico não só ao empregado, mas também à família do funcionário.

Os bancários querem que os bancos sejam obrigados a emitir a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) sobre todos os casos de tentativa ou de assalto consumado, assim como o Boletim de Ocorrência (B.O)

"O objetivo do crime é o banco, mas as vítimas são os bancários, portanto registro do BO é obrigação dos bancos. É o patrimônio do banco que o bandido quer lesar, mas é a vida das pessoas que corre risco," afirma Gustavo Tabatinga, Secretário de Políticas Sindicais da Contraf-CUT e Coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária. Mas os bancos continuaram relutantes em acatar as reivindicações.

Como medida de prevenção aos assaltos, o Comando Nacional quer o fim da guarda das chaves por funcionários e que empresas de segurança privada sejam contratadas para o trabalho. A Fenaban também não aceitou, alegando que qualquer pessoa pode ser vítima da violência. 

O Comando Nacional rebateu a negativa da Fenaban. Explicou que os bancários são escolhidos a dedo pelo crime organizado. Geralmente, estão entre os trabalhadores que possuem as chaves das agências e as senhas dos cofres e defendeu a estabilidade de emprego, mínima, de 36 meses, ao funcionário vítima de assalto, sequestro ou extorsão. 

"Nem sempre as sequelas aparecem na hora, pode incorrer numa baixa de produção ocasionada por uma depressão, por uma síndrome do pânico. Os empregados podem acabar sendo demitidos por uma ocorrência de violência bancária de muitos meses atrás," alerta o presidente da Contraf-CUT. 

 

Projeto-piloto

Para reduzir a violência, os bancários querem a ampliação para todo o país dos equipamentos e medidas previstos no projeto-piloto de segurança, implantado entre agosto de 2013 e agosto de 2014 em Recife, Olinda e Jaboatão de Guararapes – uma conquista da Campanha 2012.

Houve a instalação, nas agências, de porta giratória com detector de metais, câmeras internas e externas, biombos em frente aos caixas, guarda-volumes e vigilantes armados e com coletes balísticos, além de cofre com dispositivo de retardo. São medidas que o movimento sindical julga serem necessários para garantir segurança. 

Segundo dados da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, o número de roubo a bancos caiu pela metade (de 16 para 8) entre janeiro e junho de 2014 nos municípios onde o projeto, em comparação com o mesmo período de 2013. O número de arrombamentos teve uma queda de 41,8%, caindo de 110 em 2013 para 64 em 2013. Em relação à "saidinha de banco", o número de registros em Olinda caiu 46,4%. 

Mas os bancos recusaram novamente estender o projeto para todo o Brasil, preferindo continuar com os projetos-pilotos. Concordaram, apenas, em testar as medidas em outras duas regiões. 

"Os bancos avaliam como importante o conteúdo, mas insistem em continuar apenas como projeto-piloto em mais duas regiões para ter uma amostragem mais eficiente, segundo eles. Nós queremos que as medidas já sejam aplicadas em todo o País. Consideramos que a eficácia já está mais do que comprovada", concluiu o presidente da Contraf-CUT. 

 

Veja aqui o calendário de negociações da Campanha Nacional dos Bancários 2015.

 

confira aqui o que os bancários estão reivindicando na campanha deste ano.

 

Fonte: Fetec-CUT/CN com Contraf-CUT - Atualizada em 04/09/2015 às 10:53

 

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