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29 de Julho de 2017 às 09:03

Bancos públicos estão sob forte ataque, alerta painel na abertura da Conferência Nacional

Fetec-CUT/CN participa com 67 delegados e delegadas referendados na Conferência Regional realizada em Brasília dias 19 e 20 de julho. Encontro vai até domingo


Crédito: Jailton Garcia / Contraf-CUT

Mais do que nunca é preciso reforçar as trincheiras da luta em defesa dos bancos públicos, que estão na mira do governo Temer com um único propósito: servir ao capital especulativo via privatização.  

Este foi, em suma, o alerta dado pelos palestrantes da mesa “Em defesa dos bancos públicos”, no painel que abriu a programação da 19ª Conferência Nacional dos Bancários, que, sob o mote “Lutar, defender e garantir. Nenhum direito a menos!”, que começou nesta sexta-feira 28 e vai até o domingo 30 no hotel Holiday Inn, em São Paulo. A Federação dos Bancários do Centro Norte (Fetec-CUT/CN) está participando com 67 delegados e delegadas eleitos em encontros estaduais e referendados na Conferência Regional realizada em Brasília dias 19 e 20 de julho.

"Apesar do momento crítico, a Conferência precisa apresentar para a categoria uma proposta que atenda aos anseios da categoria, uma proposta que impeça a implementação dos impactos da contrarreforma trabalhista no sistema financeiro e seja vapaz de mobilizar os bancários para o enfrentamento", afirma Cleiton dos Santos, presidente da Fetec-CUT/CN.

Primeiro a fazer exposição, o sociólogo e cientista político Emir Sader, também professor da UFRJ, foi categórico: o que se assiste hoje no país é o ataque do capital especulativo, pelas mãos do governo, da esfera pública, afim de que a sociedade se constitua de meros consumidores e não de cidadãos.

“É a lógica do shopping center, onde o que interessa é a figura do consumidor. Ali não entra quem não pode comprar”, comparou Sader, para desmontar a tese da direita, que está à frente desse processo de desmonte das empresas públicas, de que o jogo não se dá entre Estado e esfera privada, mas entre esfera pública versus esfera privada, categoria que na verdade defende a transformação de tudo em mercadoria, inclusive áreas como saúde e educação. Isso porque, conforme esclareceu, o Estado pode muitas vezes estar a serviço de poucos grupos em detrimento da grande maioria da população.

Assim, ao contrário da ideia de Estado, no conceito de esfera pública, o que é público, é para todos – frase que, não por acaso, serve como slogan da campanha lançada em todo o Brasil pelo Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas. “O neoliberalismo, base de tudo isso, só quer você comprando, comprando e comprando”, acrescentou o cientista político. “É a mesma lógica dos bancos privados”.

Os bancos públicos, nesse contexto, estão sob ataque justamente porque funcionam como mole propulsora do desenvolvimento econômico e de promoção da justiça social. “Os bancos públicos têm um papel que vai no sentido contrário dos bancos privados. A Caixa, por exemplo, cresceu no bojo do desenvolvimento de políticas sociais. Já os privados vivem de comprar e vender papeis, vivem do endividamento do governo, das empresas, das famílias. É a prevalência da lógica especulativa, pela qual quem ganha é o capital financeiro”.

O resultado dessa política perniciosa, destacou Sader, é a maior concentração de renda e a trava do crescimento econômico. Essa é a política do governo atual, que tem interesse num Estado pequeno. “O Estado que defendemos é da esfera pública, a esfera dos direitos, em que a pessoa não é um consumidor, mas um cidadão que goza de direitos, e os bancos públicos são agentes centrais nesse processo, porque são a chave do crescimento econômico, por gerar emprego e renda. Nosso desafio é convencer a nova geração de que o sistema financeiro tem que ser um apoio de formalização das políticas públicas”, concluiu.

"Querem o pobre fora da agência"

A exclusão inevitável a que leva uma política econômica que privilegia o capital está no mesmo horizonte da política defendida hoje na alta cúpula do Banco do Brasil, conforme frisou, em sua intervenção, Fabiano Félix, eleito recentemente representante dos bancários do BB no Conselho de Administração da empresa.

“No Banco do Brasil, o que eles defendem é a diminuição do seu papel como instituição pública, por meio da redução de custos, o que significa corte de pessoal e do número de agências”, atestou, assinalando que “o que estamos vivenciando no BB é uma apologia à digitalização, com fechamento de agências convencionais e abertura de escritórios digitais, a custo social elevado. O objetivo é afastar o pobre da agência e atender agentes que dão lucro”.

“A força da nossa militância, com sua resistência organizada, é que vai nos manter firmes na luta para manter os bancos públicos a serviço do desenvolvimento socioeconômico do país”.

Ataque aos bancos públicos é ataque a direitos

Maria Rita Serrano, conselheira de Administração da Caixa eleita pelos empregados, alertou que o governo Temer, via Ministério de Planejamento, já montou uma força de tarefa cujo objetivo é privatizar as empresas estatais, processo que vem se dando de forma bastante acelerada – diferentemente do que se viu na década de 90, sob FHC.

De acordo com Maria Rita, na Caixa o desmonte da empresa como agente público a serviço da sociedade e do desenvolvimento econômico, está se dando em várias frentes. Ela citou como exemplo a venda de ativos do banco, como as loterias, a área de seguros e de cartão de créditos e o esvaziamento do FGTS.

“Em contrapartida, a Caixa não está recebendo aporte do governo. Sem capital, há corte de custos, com adoção de PDVs e fechamento de agências”.

“É um ataque aos bancos públicos, que na verdade é também um ataque aos nossos direitos”, defendeu ela. E lembrou: “os bancos públicos foram os grandes responsáveis pela onda de desenvolvimento econômico a que assistimos nos últimos 12 anos”.

“A conjuntura nos impõe que repensemos a nossa organização, um momento oportuno”, ressalvou Maria Rita.

Conferência vai até domingo

Com o mote “Lutar, defender e garantir. Nenhum direito a menos!”, a 19ª Conferência Nacional dos Bancários começou nesta sexta-feira (28), no hotel Holiday Inn, em São Paulo, e segue até o domingo (30), quando os 696 bancários, entre delegados, membros do Comando Nacional dos Bancários e observadores, vão aprovar as ações de mobilização para a difícil conjuntura nacional do governo Temer.

Fetec-CUT/CN, com Seeb Brasília


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