Notícias

home » notícias

29 de Julho de 2017 às 11:00

Avanço da tecnologia requer novas formas de mobilização, afirmam especialistas


Na segunda mesa da programação deste sábado (29) da 19ª Conferência Nacional dos Bancários, que debateu a defesa do emprego frente às novas tecnologias, a economista do Dieese Vivian Rodrigues afirmou que o alto investimento dos bancos nas chamadas agências digitais tem como objetivo reduzir custos, o que gera forte impacto na categoria bancária, reduzindo drasticamente o número de postos de trabalho.

O cenário futuro é assustador. De acordo com Vivian, estudos apontam que a adoção da tecnologia como ferramenta de trabalho virá acompanhada da extinção de cerca de 20 milhões de empregos em todo o mundo até 2020. “Desde 2008 as transações por meio de celulares têm registrado crescimento significativo. E hoje os mobiles estão consolidados como meio de transações financeiras”, assegurou, lembrando que já existem bancos 100% digitais em pleno funcionamento.

Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Itaú foram citados pela economista como empresas que já vêm lançando mão de cifras vultosas nas novas ferramentas digitais. “A reestruturação por que o BB vem passando resultou em centenas de agências físicas fechadas e na criação de digitais. O banco aposta ainda na ampliação do teletrabalho (home office). No caso do Itaú, já são contabilizadas 144 agências desse modelo pelo Brasil. Em número de funcionários, isso já corresponde a 4% do total”.

O Bradesco foi o primeiro a utilizar a tecnologia 4.0 (Watson/IBM) em língua não inglesa. O Bradesco Inteligência Artificial (BIA) está sendo usado por enquanto apenas para esclarecer dúvidas de funcionários, mas o projeto é para que seja utilizado no atendimento aos clientes. Os gerentes de relacionamento da empresa alimentam, diariamente, a BIA com 22 mil perguntas e respostas. De acordo com a economista, são 65 mil usuários diretos e milhões indiretos.

A reboque do avanço da tecnologia, vem caindo drasticamente o número de bancários. “A expectativa é que a redução dos postos de trabalho na categoria bancária chegue ao patamar registrado na década de 90. E o impacto poderá ser ainda maior com a reforma trabalhista”, arrematou a economista.

Novos empregos para as novas tecnologias

Moisés Marques, professor da Associação 28 de Agosto, defende que a luta dos trabalhadores não deve ter como alvo as novas tecnologias, mas sim os seus impactos na organização do trabalho, já que o que os bancos estão fazendo nada mais é do que andar a par e passo com as mudanças pelas quais o mundo está passando. “O perfil das novas gerações, principalmente as mais jovens, é o de uma geração conectada – a chamada geração millenium. É para essa tendência que os bancos estão olhando”.  

Basta ver, de acordo com Moisés, o que se exige de um profissional bancário nas novas seleções que estão sendo feitas pelos bancos ultimamente. “As novas formas de contratação já refletem esse novo cenário: o esperado são pessoas que gostam de tecnologia”, exemplificou ele, acrescentando que, por sua vez, os bancos estão propagando a ideia de que o mundo digital proporciona ao trabalhador maior controle de sua vida laboral.

“Os bancos e demais empresas vendem um mundo maravilhoso, sendo o trabalhador dono de sua agenda e de seu negócio. Os direitos são meros detalhes. Aproveitam a ânsia de mudança de uma geração de trabalhadores jovens para oferecer o efêmero".

Novas formas de luta

Diante disso, o professor, para quem o maior beneficiado disso tudo são os banqueiros, defende que a partir de agora as reivindicações da classe trabalhadora devem consistir em defender a criação de empregos qualificados, que atendam a essas novas demandas. E ao movimento sindical cabe cobrar, por exemplo, a regulação do sistema e condições adequadas para o seu funcionamento, sem extinção de postos de trabalho.

“Falta regulação específica dessa nova organização, que apresenta riscos e falhas que devem ser discutidos, como a falta de segurança e de privacidade dos dados dos clientes, por exemplo”, destacou. "Temos que levantar esses e outros problemas desse novo modelo bancário e alertar aos trabalhadores e aos clientes sobre os riscos desse novo modelo", disse Moisés.

Assim, a questão que se coloca para o movimento sindical é de adequação do modus operandi da luta frente à nova realidade. “Isso não significa abandonar as tradicionais formas de mobilização, são frentes que se somam, não se excluem. Os trabalhadores podem se mobilizar virtualmente, e isso já tem acontecido e surtido efeito”, exemplificou.

Conferência segue até este domingo

A 19ª Conferência Nacional dos Bancários termina neste domingo. Confira a seguir a programação desta tarde e de amanhã:

14h30 às 17h – Reforma Trabalhista

Convidados: Roberto Requião – Senador da República

Clemente Ganz Lucio – Coordenador do Dieese

Daniella Muradas – Profª UFMG

17h às 18h30 – Reforma Previdenciária

Convidada: Denise Lobato Gentil – Profª UFRJ

18h30 às 20h – Reunião de Correntes Políticas

 

Dia 30 de julho – domingo

9h às 13h – Plano de Lutas

12h – Início do check-out do hotel

13h às 14h – Almoço

Da Redação com Fetec-CUT/CN


Notícias Relacionadas