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30 de Outubro de 2015 às 18:48

Nem reajuste abaixo da inflação e nem abono ilusão


Por Vera Paoloni

 

Tirar de cena a dupla chantagem dos banqueiros = a de dar reajuste abaixo da inflação e ressuscitar o famigerado abono ao invés de reajuste, esta foi a vitória com V maiúsculo da greve de 21 dias da categoria bancária neste 2015 tão atípico.

O abono, ao invés de reajuste, foi à moeda de troca no período de 1994 a 2001 (anos FHC), tempos em que o reajuste pra categoria foi zero, ficando apenas a verba chamada abono que era usada como uma ilusão, pois não recompunha o poder de compra e era quase sempre usado para diminuir o endividamento dos bancários junto aos bancos. Ficava tudo em casa. Vinha uma vez e ia embora, sem nada acrescentar ao salário, ao FGTS, à previdência, à vida das pessoas.

Neste 2015, banqueiros que lucraram mais 1.000% em 10 anos, repetiram a  cantilena da mídia de que estavam em crise e apresentaram 5,5% de reajuste e R$2.500,00 como abono, esse que é dado uma vez ao ano e vai embora. O abono, pra gerar a ilusão de que haveria algum ganho.

O Comando Nacional replicou a mesma voz em todos os estados e uma voz firme: rejeitou o abono como moeda de troca de reajuste, brigou pelo ganho real acima da inflação, ampliando pra isso a greve e a resistência. 

Nessa queda de braço atravessamos 21 dias com a maioria de agências fechadas de ponta a ponta do país, com o “Estamos em Greve” afixado na porta dos bancos e nos corações de grande parte da categoria bancária.

Com a greve consolidada e a grita popular, banqueiros recuaram do abono e apresentaram 10% de reajuste no salário e 14% nas verbas de auxílio-alimentação, o tíquete. Financeiramente o ganho real foi pequeno, apenas 0,12%, mas gigante no significado político de não aceitar menos que a inflação medida no período. 

E restou escancarada a chantagem dos banqueiros de trocar reajuste por abono. E ficou tão na vista que sequer apresentaram mais o abono. Ora, se não fosse moeda de troca, podia ter vindo como acréscimo. Veio? Claro que não.

Na mesa específica do Banpará, que pela primeira vez teve a CUT integrando a coordenação, além de todo o acordo nacional, ampliamos a licença prêmio e se conseguiu distribuir de forma linear uma verba de plano de saúde extinto que estava há anos pra ser repartida, deixando ainda 30% para futuras ações judiciais. 

Mais e fundamental para o futuro: conseguimos manter a categoria decidindo ela mesma o seu destino e não metendo no meio a justiça com o terrível dissídio, defendido por alguns, ainda bem que de forma bastante minoritária.

Agora, é assegurar na redação dos acordos coletivos específicos e da CCT - Convenção Coletiva de Trabalho o que a vitoriosa greve consagrou nas ruas, no movimento e na luta. E que venha 2016, pois saímos dessa greve com gosto de quero mais!

* Vera Paoloni é bancária do Banpará, secretária de Comunicação da CUT-PA e representante da CUT-PA na mesa de negociação​ do Banco do Estado do Pará S.A.


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